O poeta José Laurentino, um dos maiores expoentes da cultura nordestina
teve uma experiência pra lá de complicada.
Devido a um sério problema de
catarata ele passou três anos cego.
Foi doloroso, mas o poetinha, como ele é
conhecido, suportou com muita paciência os momentos sem enxergar.
Após a cegueira,
José Laurentino, natural de Puxinanã, aos 72 anos, se prepara para contar essa experiência no
trabalho intitulado “Balada de um poeta cego”.
COMO
FOI VOLTAR A ENVERGAR?
“Passei
três anos sem ver minhas mãos. E de repente quando eu saí da sala de cirurgia e
entrei no carro da minha neta vi um ‘macaquinho/um chaveirinho se balançando no
painel. Eu perguntei se era um macaquinho e ela respondeu que sim. Foi algo
emocionante. Ela parou o carro e nós choramos. É como se eu estivesse dormido
por três anos e me acordasse agora”.
DURANTE
ESSE PERÍODO SEM A VISÃO, COMO FOI?
“Foi
de muita tristeza. Sentia falta da lua, das estrelas... Eu ia para a praia e
não via o mar, não via as mulheres. Eu fiz até um soneto intitulado ‘Olhos
Castanhos’ que diz: Eu não sei se lunar ou se solar, o eclipse que me apareceu.
Eu só sei que o mundo escureceu, não avisto a terra, o céu e o mar. Só restou
um bordão pra me apoiar e o ombro de um grande amigo meu que de graça a mim se
ofereceu no momento em que eu mais precisar. Sinto inveja daquele vagalume que
esnobe voeja no alto cume, tem luz própria e não dar luz a ninguém. Minha luz
apagou-se o lampejo. Sinto pena de mim porque não vejo os dois olhos castanhos
do meu bem.”
COMO
FOI QUE O SENHOR FICOU SABENDO QUE ESTAVA PERDENDO A VISÃO? COMO PERCEBEU?
“Eu
chegava aos programas de rádio. Eu ia ler um comercial e não conseguia mais
ler. Ai eu notei que eu estava perdendo a visão. Chegou a um porto em que eu
não conseguia mais ver o número do transporte coletivo. Foi uma coisa
gradativa. Eu fui para um médico e ele disse: ‘não lhe opero, não passo óculos,
nem colírio. Você tem um problema de catarata. Então está decidido’. Fui para
outro médico. Não vou citar os nomes de nenhum dos dois. Neste outro médico ele
disse: ‘Poeta, sou seu fã, seu admirador, mas não posso fazer nada’. Como eu
não tinha nada para fazer, me recolhi e ceguei. Chegou a um ponto de eu não ver
minhas mãos. Ponto zero”.
E
DEPOIS...?
“Um
certo dia eu disse a minha filha: Liga ai para meu plano de saúde. Procure um
oftalmologista. Ligue para qualquer um. Ela disse ‘eu vou ligar para o Dr.
Carlos Alberto’. Quando cheguei ao médico ele disse: ‘Poeta os seus olhos estão
fechados por catarata de maneira tal que eu não vejo o fundo do seu olho. Eu
vou pedir uma ultrassonografia’. Quando veio a ultrassonografia ele disse: ‘Dá
pra operar, pois a retina está no canto dela. A retina não saiu. Quanto a
catarata, é bronca safada.
QUEM
LHE OPEROU?
“Dr.
Fábio Queiróz fez a cirurgia e na hora que eu saí da mesa de cirurgia já saí
vendo tudo”.
NOS
SEUS POEMAS O SENHOR FALA MUITO DAS MULHERES...
“É
como eu citei: ‘sinto pena de mim porque não vejo os dois olhos castanhos do
meu bem’. Eu sempre fui namorado da lua, do mar, das mulheres. Eu fiquei
tolhido durante este tempo. Eu não fiquei limitado. Eu fiquei zerado. Eu não
podia ler nada.
NESTE
PERÍODO O SENHOR PERCEBEU QUE AS PESSOAS CONFUNDIAM PENA COM SOLIDARIEDADE?
“É
tanto que eu disse: ‘Não venha me ver por caridade e não mexas na minha cicatriz.
Estou sozinho, mas estou muito feliz, obrigado por sua piedade. Já passei dos setenta
de idade e na música do tempo não tem bis. Quis fazer-te feliz, e como eu quis,
mas nem tudo se faz só por vontade. Vai-te embora buscar outros espaços, outros
beijos, carinhos e abraços e me deixas na minha solidão. Nestes versos que eu
faço de improviso, de três coisas de ti eu só preciso: um adeus, um abraço e
teu perdão.”
E
PLANOS? O QUE VEM PELA FRENTE?
“Estou
planejando muita coisa. É um recomeço. Estou saindo do Studio onde gravei ‘Balada
de um Poeta Cego’. Serão contatos minhas proezas dos três anos que eu vivi como
cego”.
QUER
DIZER: O SENHOR ENXERGOU OUTRAS COISAS QUANDO ESTAVA CEGO?
“Exatamente!
Três dias antes de minha cirurgia, por volta da meia-noite, eu ouvia rádio
sozinho, ao lado da minha cachacinha, eu disse: ‘É meia-noite e eu queria tanto
beijar teu rosto, enxugar teu pranto, despir teus ombros, retirar teu manto e
te envolver eu meu lençol de linho. A ficha cai e a chorar, me curvo. O meu
olhar está turvo, não dar ainda pra eu andar sozinho. Meu quatro tem um
pequenino bar, cachaça boa que eu mandei comprar e outras cachaças que me dão o
povo. De solidão, cantador não morre e só me resta é tomar um porre, cair na
cama e apagar de novo”.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVALDEIR MORAIS:
ResponderExcluirESTE POETA VALE OURO
DE DÓLARES VALE UM MILHÃO
UM POETA SONHADOR
DE UM ENORME CORAÇÃO
EU LHES DIGO COM FRANQUEZA
LHE VIA COM TANTA TRISTEZA
UM POETA SEM A VISÃO
ZÉ TÁ CURADO DA VISTA
ResponderExcluirDEU GRAÇAS A CONCEBIDA
RECUPERANDO A VISÃO
QUE ESTAVA QUASE PERDIDA
SUA FÉ JÁ PERSISTIA
JÁ NÃO PRECISA DE GUIA
PRÁ VER A TAÇA DA BEBIDA
VALDEIR MORAIS