domingo, 10 de agosto de 2014

DE JUAZEIRINHO PARA A REDE RECORD EM SÃO PAULO: DANIEL MOTTA UM JORNALISTA “PÉ NO CHÃO” E COMPETENTE

 
O renatodiniz.com inicia hoje o quadro “A ENTREVISTA DA SEMANA”.
E a primeira entrevista é com um companheiro de batente que aprendi a gostar pela sua cautela, classe, educação e companheirismo.
Refiro-me ao jornalista Daniel Paulino Motta, um juazeirinhense de 29 anos que deixou o Jornal Correio da Paraíba e por COMPETÊNCIA está indo para a produção da TV Record em São Paulo.
Ele pega “no pesado” a partir deste dia 11.
A história do matuto do cariri da Paraíba, que cursou Comunicação Social na UEPB, impressiona pela determinação e objetivo.
Pensei em fazer um texto sobre Daniel, mas não seria justo diante do que você vai ler...
BOA SORTE DANIEL!!!


COMO FOI SUA INFÂNCIA?
Foi uma infância marcada desde cedo pelo compromisso e a responsabilidade. Tenho oito irmãos todos nós começamos a trabalhar ainda pequenos. Aos cinco anos eu já trabalhava na roça, com meu pai e irmãos, porque o nosso sustento era retirado da agricultura. Sempre quis estudar e em um horário eu ia para escola, no sítio mesmo. Na época, era um prédio bem precário, sem carteiras, sem quadro-negro e até sem giz. Não tinha cantina e nem tampouco fogão. Nós mesmos, os alunos, quem fazíamos a merenda, com lenha que procurávamos na mata, localizada próximo da escola. Depois, todos os meus irmãos desistiram dos estudos e eu prossegui. Era tudo muito difícil. Faltava-me quase tudo, menos vontade de vencer na vida. Terminei o Ensino Fundamental e o Médio, em Juazeirinho, em escolas públicas e em 2005, realizei o sonho de prestar vestibular para jornalismo.
O QUE LHE FEZ ESCOLHER O JORNALISMO?
Desde criança eu já admirava o jornalismo e sonhava com o dia em que seria um jornalista. Nas horas vagas, brincava com pilhas de rádio e sabugo de milho, que improvisava como se fosse um microfone. Uma caixa de sapato era a câmera e meu irmão menor me ajudava na brincadeira, sendo o cinegrafista. (eu ajudava na atividade dele, como recompensa). Enfrentei o desafio de todo mundo achar que fazer jornalismo era errado. Alegavam que eu deveria ser professor. Achava jornalismo um sonho distante e que eu nunca conseguiria. Não era a minha família que pensava assim. Eram as pessoas da própria comunidade e da escola no terminei o ensino médio. Mas mesmo assim, eu não desisti e fiz o vestibular para jornalismo, estudando em apostilas que consegui emprestado. Não tinha acesso à internet na época. Passei na faculdade e durante três anos e meio, vinha de Juazeirinho para Campina Grande, à noite, perfazendo um trajeto de 170 quilômetros e quase quatro horas de viagem, somando a ida e volta. Deu tudo certo e hoje sou jornalista.
JÁ FOI VÍTIMA DE RACISMO, OU BULLYING?
Sim. Por várias razões, mas principalmente, por ser negro, obviamente. Sempre busquei me impor, mas claro que existem pessoas que se sentem bem em diminuir os outros. Sofri muito preconceito, mas isso nunca me afetou em nada. Quando alguém me tratava de forma preconceituosa, direta ou indiretamente, estava me dando forças para lutar pelos meus ideais e mostrar que não seria um derrotado.
QUANTO TEMPO DE PROFISSÃO, POR ONDE PASSOU?
Cinco anos. Pra valer mesmo eu comecei em 2009, na TV Correio. Era estagiário da produção na redação da Sucursal de Campina Grande. Foi uma grande experiência. Depois, ano passado, voltei à TV Correio para mais uma temporada. Em 2010 eu ingressei no jornal Correio da Paraíba, também como estagiário e logo fui contratado como repórter. Fiquei no jornal até o último dia 31 de julho. Nesse intervalo de tempo, também tive a oportunidade de fazer trabalhos para outros veículos, entre eles o jornal Diário de Notícias, de Portugal, a revista Exitus e para alguns portais de notícias. Também tive uma rápida passagem pela rádio Correio 98.1.  Tive oportunidades em assessorias de imprensa ao longo desse tempo. Antes de iniciar no jornalismo, eu exercia a função de professor em minha cidade Juazeirinho.
COMO FOI TRABALHAR NO CORREIO?
Foi uma grande experiência. Foi onde eu aprendi a fazer jornalismo. O Correio é uma grande escola. Comecei como estagiário e me construí como repórter lá. Aprendi que não somos apenas meros transmissores de informação. Mas que somos a voz do povo e que devemos fazer um jornalismo sério, apurado e responsável para ajudar a transformar realidades. Além disso, fiz uma família jornal, que levarei para sempre comigo.
QUAL A ÁREA LHE ATRAI NA PROFISSÃO, POR QUAL MOTIVO?
O poder de transformar realidades. Ser o 'instrumento' da sociedade para mudar situações, ajudar pessoas, através da divulgação de fatos. O jornalismo investigativo sempre foi a minha área preferida. Gosto de sentir o sabor de investigar, esmiuçar, descobrir. Sempre disse ainda na faculdade, que quando decidi fazer jornalismo seria para ajudar as pessoas, dando oportunidade para que elas 'apareçam'. 
QUAIS REPORTAGENS MARCANTES?
Fiz algumas reportagens que me marcaram. A Pistolagem, em Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba, foi uma das mais gratificantes. Foi a que eu mais pude abusar do 'investigativo'. A famosa briga de famílias que já tinha resultado em um derrame de sangue há vários anos, nunca tinha sido contado por ninguém. Eu mesmo me pautei e fui atrás daquela história. Tive o apoio da polícia, que queria também divulgar aquela situação, mas tinha dificuldades. Foi um grande desafio, porque era somente eu e a polícia e mais nada. A matéria teve uma excelente repercussão, que segundo a própria policia na época, resultou na operação 'Laços de Sangue', onde foram presas mais de 16 pessoas envolvidas no esquema criminoso. Depois, veículos de comunicação de rede nacional vieram e abordaram a pauta. Foi bacana. Outras que posso citar foram as coberturas de presidentes, como o Lula, em 2010 e a Dilma, ano passado. A transposição do Rio São Francisco também foi um dos assuntos que mais cobri. Sempre adorei escrever sobre a obra que deverá mudar a realidade de milhões de nordestinos. Uma matéria sobre inclusão produtiva também me rendeu o primeiro lugar no prêmio SEBRAE de jornalismo.
DESTACARIA ALGUM GRANDE AMIGO NA PROFISSÃO?
Graças a Deus, construí muitos amigos nesse intervalo de tempo. Não teria nem como citar apenas um aqui. Todos são muito importantes, tanto a equipe da redação do Correio, quanto os outros de outras empresas com os quais fiz amizade.
COMO SURGIU O CONVITE PARA A REDE RECORD?
Já era fã dos programas Câmera Record, Domingo Espetacular e o Repórter Record Investigação. Por meio de uma rede social, na internet e e-mails, passei a me comunicar com o chefe de redação do programa e sugerir pautas. Um dia, ele me ligou e falou sobre a oportunidade de trabalhar na Record e me convidou para ir até a sede da emissora, na Barra Funda em São Paulo. Fui, conheci a redação e a proposta que me fizeram. Agradei-me de tudo e aceitei o desafio. Inicio na emissora no dia 11 deste mês.
COMO VOCÊ ESTÁ VENDO ESSE DESAFIO?
É realmente, um grande desafio. Estou vendo como a grande oportunidade de começar um novo ciclo profissional. Aprender muito e buscar fazer o melhor sempre. Uma oportunidade de produzir reportagens para todo o Brasil. Abusar da criatividade e valorizando sempre os princípios do bom jornalismo.
CONTE O QUE VAI FAZER, ESPECIFICAMENTE?
Vou produzir reportagens para o programa Câmera Record, sobretudo e também para o Domingo Espetacular e o Repórter Record Investigação.
VC ACREDITA QUE OS “JORNAIS” ESTÃO COM OS DIAS CONTADOS?
Infelizmente, acredito que sim. Não gostaria porque amo impresso. Acho que o jornal é uma forma de documentar muito importante, mas diante do avanço das novas tecnologias da informação, as redes sociais e todo o universo da internet acabarão levando os impressos a fecharem suas portas.  Os jornais, de modo geral, enfrentam hoje em dia, uma concorrência muito desleal. Mas acredito que o veículo ainda durará por um bom tempo, sobretudo aqueles que têm se reinventado e buscado fazer um diferencial.
O JORNALISMO PARAIBANO, COMO VÊ?
Difícil falar sobre o jornalismo paraibano, porque eu 'cresci' em meio a ele. Ainda vejo muita coisa aqui, em nossa Imprensa, que poderia melhorar. Ainda vejo muitas ‘amarras', que acabam dificultando o trabalho dos profissionais. Muitos interesses em jogo e que de certa forma, afeta o dia a dia dos jornalistas. Não se tem muita liberdade para fazer jornalismo. Mas, admiro muito aqueles que lutam e tentam fazer o melhor. Que mesmo com as limitações, procuraram fazer um jornalismo sério e dinâmico, que leve ao cidadão a oportunidade de 'falar'.
QUAL SUA MANIA? O QUE VOCÊ GOSTA DE FAZER?
Gosto de viajar, sob qualquer circunstância. Acho que sempre que a gente faz uma viagem, tem a oportunidade de conhecer mais, descobrir mais, aprender muito mais. Viajar a trabalho, sobretudo, é muito gratificante. Outra mania é viver conectado às redes sociais. Mas faço disso uma forma de aprender também. Uso as redes sociais para interagir, conhecer pessoas, trocar experiências...

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