Taiguara
Rangel
Do
g1pb
Após cumprir pena em regime fechado em
três cárceres na Paraíba, o ex-policial militar Silva Neto, preso por homicídio
em 1991, desabafa o sofrimento vivido nos mais de cinco anos em que cumpriu sua
condenação: "foi terrível, agradeço por estar vivo".
Hoje diretor da cadeia pública de Sapé,
na Mata paraibana, ele conseguiu superar a vivência em meio aos presos e,
depois, o preconceito e a falta de condições de estudo e oportunidades de
trabalho.
De temperamento explosivo, ele define sua
atuação na PM paraibana como “linha dura”, acostumado a bater, perseguir e
matar criminosos.
Foram várias as ameaças de morte
recebidas pelo ex-policial durante os anos em que cumpriu pena no 3º Batalhão
da Polícia Militar de Patos, na cadeia pública de Princesa Isabel e no Presídio
do Serrotão em Campina Grande.
Porém, as dificuldades não terminaram
com o enclausuramento. Com a liberdade, veio o problema de conseguir seguir a
vida e se desvincular do histórico criminal.
O ex-presidiário teve que superar
adversidades para arrumar emprego, manter a família, criar os filhos e ser
aceito de volta na sociedade.
"Bati
em várias portas, mas as pessoas sempre batiam a porta na minha cara, não
acreditavam na recuperação. Passei cinco a seis meses fazendo bicos para me
manter. Era segurança de noite e vendedor ambulante durante o dia para
completar a renda, colocava as coisas no bagageiro de uma bicicleta. Fiz curso
de cobrador de ônibus, fiz curso de técnico em segurança, fui radialista.
Sempre continuei correndo atrás de emprego. A pessoa não acredita no preso,
sempre tem desconfiança", disse.
O
CÁRCERE
Para quem costumava perseguir
criminosos, a convivência no presídio não foi fácil.
"Foi
um tormento muito grande para mim e minha família. A corrupção era grande
dentro dos presídios, só tinha valor quem tivesse algum dinheiro para pagar
pela vida. Eu era um policial linha dura, eu ia atrás do tráfico, eu perseguia
bandido para matar mesmo. Quando eu entrei no presídio do Serrotão, os presos
começaram a balançar as grades dizendo que iam me matar", contou o ex-PM.
"Oriundos
das polícias, quando cometem crimes, precisam de um pavilhão separado. Alguns
que praticam desvio de conduta, como eu, são colocados lá dentro junto com as
pessoas que ele prendeu ou perseguiu, abusou da autoridade. Foi difícil, tem
hora que penso que não estou aqui fora. Só eu sei o que eu sofri. Ninguém
chegou a me bater, mas recebi ameaças direto de ser morto, era constante,
unicamente pelo fato de ser policial", alegou Silva Neto.
Aos 47 anos e com oito filhos, após sair
da cadeia ele passou seis meses fazendo “bico” para garantir o sustento.
“Comecei
a participar do trabalho religioso e pensei: já provei tanta coisa ruim, vou
tentar provar coisa boa. E fui mudando e passando ensinamento pros meus filhos.
É uma alegria grande, não só ter saído [da cadeia], mas ver meus filhos homens
e mulheres de bem”.
A
LIBERDADE
Apesar do trauma de meia década privado
da sua liberdade, o ex-policial aceitou o desafio de voltar a entrar em uma
unidade prisional.
Desde 2011, Silva Neto é diretor da
cadeia pública de Sapé, onde mantém 180 presos em um trabalho voltado para a
educação e ressocialização, contando ainda com 80% destes colaborando com a
manutenção da cadeia.
"Em
1997 fui beneficiado com indulto presidencial, foi perdoada minha pena devido
ao meu comportamento. Eu estudava no presídio, terminei ensino fundamental e
médio, que eu não tinha. Mudei muito depois dessa época, minha vontade de
vencer era muito grande. Comecei a trabalhar como vendedor, fiz cursos técnicos
profissionalizantes, fui segurança e radialista, até que fui chamado para integrar
a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e hoje estou cursando
Direito em João Pessoa", destacou.
“Fazemos
um trabalho diferenciado dos demais presídios. Aqui, tenho 180 reeducandos e
todos eles estão em sala de aula. Eles sabem meu passado, bato papo, tomo café,
entro nas celas para conversar. Montamos biblioteca, rádio alternativa para dar
as notícias de fora, o projeto 'Escola sem Violência', onde levo para a
instituição um reeducando que está tentando mudar e falar sobre a escolha que ele
fez, o sofrimento que passou e levou sua família a passar", disse.
(g1pb)
Fotos: Silva Neto
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