Por VEJA e Estadão Conteúdo
Depois de três anos, finalmente o escritor
e juiz aposentado Pedro de Morais vai poder lançar e vender o seu livro Lampião, O Mata Sete, em que diz que
Virgulino Ferreira, o famoso cangaceiro nordestino, era gay.
Por unanimidade, a 2ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE) reformou a sentença de primeiro grau que
proibia o lançamento e a venda da obra.
Para o autor, o voto unânime dos
desembargadores pode abrir um precedente no Brasil para autores que estão com
biografias paradas na Justiça.
"Foi
um voto notável", disse Morais, ao se referir ao desembargador
Cezário Siqueira Neto, relator do processo.
No voto, Siqueira Neto entendeu que
garantir o direito à liberdade de expressão coaduna-se com os recentes
julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Não
é demais repetir que, se a autora da ação sentiu-se ofendida com o conteúdo do
livro, pode-se valer dos meios legais cabíveis. Porém, querer impedir o direito
de livre expressão do autor da obra, no caso concreto, caracterizaria patente
medida de censura, vedada por nossa Constituinte", afirmou o
magistrado.
Para o desembargador, "as pessoas públicas, por se submeterem
voluntariamente à exposição pública, abrem mão de uma parcela de sua
privacidade, sendo menor a intensidade de proteção", citando em seu
voto a doutrina do procurador federal Marcelo Novelino.
PROCESSO
Em outubro de 2012, Vera Ferreira, neta
de Lampião, entrou com duas ações na Justiça: uma por danos morais, justamente,
pelo autor discutir a sexualidade do cangaceiro; e outra impedindo o lançamento
do livro.
Vera queria uma indenização de 2 milhões
de reais nas duas ações, por danos morais e por Morais ter vendido os livros na
2ª Bienal de Salvador, que ocorreu em 6 de novembro de 2011.
O escritor disse que Vera perdeu nas duas ações que moveu.
O escritor disse que Vera perdeu nas duas ações que moveu.
O livro, de 306 páginas, ainda não tem
data para ser lançado.
"Vou
conversar com o meu advogado, Frederico Costa Nascimento, sobre o assunto.
Também pretendo conversar com o escritor Oleone Coelho Fontes, que faz a
introdução do livro, para decidirmos isso", comentou.
O autor tem mil exemplares em casa e há
outros 10.000 já encomendados.
O advogado de Vera Ferreira, Wilson
Winne de Oliva, disse que vai recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal
(STF).
Ele disse que, embora respeite a decisão
do TJ de Sergipe, não concorda, pois o que está em jogo é a intimidade de uma
família.
"E
intimidade não é história", defende.
Wilson tem 15 dias, a partir da
publicação no Diário Oficial da Justiça, para entrar com o recurso.
"Acredito
que até segunda-feira, dia 6, faremos isso", afirmou.
(VEJA e Estadão Conteúdo)
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