O que se comenta na cidade São João do
Rio do Peixe, sertão da Paraíba, é a decisão do padre Francisco Batista de
Sousa Neto.
Nesta terça-feira (14/10) ele abandonou
a vida sacerdotal e assumiu seu amor por uma mulher.
O padre deixou uma carta aberta.
Uma decisão, que segundo ele, não é de
agora.
“O
que fiz é fruto da coerência, pois não acha correto viver de forma forjada no
celibato”.
Francisco também administrava a Paróquia
Nossa Senhora do Rosário, do município.
A carta é uma declaração de amor, de respeito
e de prudência.
Eis
a carta na íntegra:
"Venho, através desta carta, expressar os
meus sentimentos diante da minha escolha.
De início, oportuno anotar, que não
interpretem estas palavras como justificativa, pois não preciso apresentá-la,
até porque a escolha é individual, pessoal e assim como fiz livremente para ser
padre posso também livremente deixar.
Deve-se entender que cada um tem um
limite de ação, que existe o livre arbítrio.
Neste sentido, desarmem-se de suas
concepções religiosas preconceituosas, pois a vida é feita de escolhas.
Após um longo processo solitário de
discernimento, decidi abandonar o ministério presbiteral e a condição de
administrador da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João do Rio do
Peixe-PB.
Decidi viver um grande amor.
Um amor criado por Deus vivenciado entre
um homem e uma mulher. Um amor divinamente humano.
Espero que compreendam que não estou
fazendo uma troca, pois o amor a Deus e ao seu Reino sempre estará em primeiro
lugar na minha vida e até porque o amor é onde Deus está, é o que Deus é e não
é possível ir contra isto.
Apenas quero ser coerente e verdadeiro.
Não vai de encontro aos meus princípios
viver de forma forjada a disciplina do celibato a qual prometi no dia da minha
ordenação viver.
Não posso enganar a mim mesmo e ao Povo
de Deus.
É inconteste que não foi fácil o caminho
de discernimento e tenho consciência que nem será o de recomeçar, mas a vida é
feita de escolhas e as escolhas fazem parte da vida daqueles que são livres,
como Deus nos criou.
Para ser fiel a Deus e a si mesmo é
preciso mudar.
As decisões, são sempre difíceis de
serem tomadas, corremos o risco de sermos crucificados, apedrejados, mas no
fim, a misericórdia divina supera toda atitude de preconceito e de não amor.
O certo é que não podemos viver sempre
em indecisões atrasando o futuro que nos espera e, mais tarde, arrependidos de
não termos feito o que deveríamos.
Viver requer coragem. E tem coisas que
pulsam no coração em que nem mesmo a razão é capaz de explicar.
O maior dom do ser humano é a liberdade
para fazer escolhas. Viver é uma sequência de escolhas certas ou erradas com
consequências positivas ou negativas para o envolvido e os demais.
Não há dúvida de que as escolhas são o
principal fator determinante da vida.
Confesso que não estava prevista no meu
projeto de vida esta mudança.
Desde a tenra idade cultivei o sonho de
ser padre, em poder servir ao Povo de Deus, e assim me dediquei a este legado
com um longo tempo de preparação.
Não me arrependo se quer uma fração de
segundo, porque vivi intensamente a minha escolha.
Nos quase seis anos de ordenação
presbiteral, sempre fui feliz, cada momento foi vivido com amor exerci a minha
missão com muita verdade e comprometimento.
Porém, nos últimos anos despertou em meu
ser a necessidade de concretizar algo de muito valor que já tinha admiração na
fase infanto-juvenil: a vida conjugal.
Isso foi despertado em mim e confesso
que não foram as poucas vezes que tentei focar minha vida naquilo que eu havia
escolhido primeiro, mas chegou um tempo em que a minha humanidade não suportava
mais.
Alguns podem até pensar que foi uma
crise vocacional, sou sincero e convicto ao dizer que não, porque se fosse para
continuar sendo padre e ao mesmo tempo constituir uma família pra mim nada
mudaria.
Compreendo que o celibato é uma
disciplina da Igreja e que deve ser observado por aqueles que livremente
escolhem esta vocação.
No início do meu ministério até pensei
que seria possível viver por toda a vida, mas chegou o momento em que a minha
humanidade falou mais forte.
Realmente o celibato é um dom e nem
todos são capazes de viver e entender.
Admiro muito aqueles que são capazes de
viver.
Acredito que a não vivência do celibato
não impede de exercer e nem mácula este ministério.
Contudo, é uma disciplina da Igreja e
que deve ser cumprida por aqueles que escolhem livremente vivê-la.
Não sou eu quem vai mudar a disciplina,
eu quem devo mudar. Então, me debrucei nesta reflexão, concluindo que não
poderia ser incoerente com a minha escolha.
Decidi então recomeçar a minha vida,
rompendo com meus sonhos e esperanças e de tantos outros que depositaram em
mim.
Que fique claro, que em momento algum
nesta nova escolha desejei ou articulei magoar alguém.
Quantas vezes quis dominar o meu
coração, mas isso é impossível quando sentimos um amor verdadeiro sem malícias
e pretensões.
Peço perdão se alguém sentiu ferido e
atingido por mim.
O amor é amor quando existe
reciprocidade e isso eu senti. Nada pode contra e ninguém pode resistir ao
amor.
É o último grau de evolução, é onde Deus
está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto.
Com imensa satisfação, continuarei
servindo a Igreja, assumindo o meu batismo como discípulo e missionário de
Jesus Cristo, e, exercendo o meu sacerdócio batismal, celebrando, agora, uma
liturgia doméstica, culto a Deus prestado ao Senhor em casa, oferenda religiosa
da vida conjugal, pondo em prática o plano de amor que Deus confiou ao homem e
mulher.
Peço oração e compreensão de todos que
ao longo da caminhada cruzaram o meu caminho.
Preservarei os mesmos sentimentos e
carinho por todos. Agradeço àqueles e àquelas que foram ombro amigo aonde eu
descansei, desabafei e por muitas vezes chorei neste meu itinerário de
discernimento.
Tomo esta decisão na firme esperança e
na sinceridade de coração.
Saibam que não desisti da caminhada,
apenas mudei a rota, na certeza de que todas tem o mesmo destino.
Sejamos felizes e que Deus nos abençoe!
Cordialmente,
Francisco Batista de Sousa Neto".
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