(Delegado Francisco de Assis: quase 40 de PC) |
O delegado Francisco de Assis Silva, é o entrevistado do quadro "A ENTREVISTA DA SEMANA".
O policial é sertanejo e vai completar 40 de profissão na PC paraibana.
Assis é um dos quatro delegados da Divisão de Homicídios em Campina Grande.
Ele costuma dizer que seu trabalho é dentro da lei e transparente.
Não apenas diz, ele faz.
Acompanhe a entrevista do homem que quando se aposentar pretende ser o rei da codorna.
O
QUE LHE FEZ OPTAR PELA PROFISSÃO DE POLICIAL CIVIL?
Em 1979 eu era professor em Riacho dos
Cavalos, no Sertão paraibano.
Um líder da cidade veio até a minha casa
e perguntou se eu queria trabalhar “na” delegacia. Antes que eu respondesse minha
mãe interferiu e disse que “meu filho não vai trabalhar na polícia, pois polícia
só dá coisa ruim. Eu prefiro que ele continue sendo professor”. No momento eu
fiquei sem ação, mas disse ao rapaz: eu continuo sendo professor, mas vou
passar a frequentar a delegacia para saber o que faz um escrivão. E na
delegacia eu vi que não corria muito risco, então eu aceitei. Em 1988 teve a
nomeação em “caráter precário” e eu aceitei. Quando foi em 2008, eu já estava
ambientado, eu já estava em Campina Grande, fazia o curso de Direito, continuava
sendo professor (na escola estadual Antônio Oliveira) e policial escrivão. Então
houve o concurso para delegado, eu passei e hoje isto é minha família também.
QUAIS
AS DELEGACIAS QUE O SENHOR ATUOU?
Em Campina trabalhei em todas as
distritais e ainda em Barra Santa Rosa, Remígio, Areia, além de Esperança. Fique
durante 14 anos na delegacia da infância. O jornalista Marcial Lima chegou ate
a dizer: acho que quando o delegado Assis chegou à delegacia da infância ainda
era “de menor idade”.
COMO
É FORA DA DELEGACIA?
Ocupo parte da vida na agricultura,
“criação de pequenos animais” e curtir minha duas filhas e minha casa. Minha mãe
tem 97 anos, e tenho três netos. Amo
demais.
O
SENHOR JÁ ATIROU EM ALGUÉM? TEVE ESSA OPORTUNIDADE?
Tenho muita fé em DEUS e espero que esse
dia nunca chegue. Não digo que não tenho inimigos, pois a
minha função é complicada, mas nunca se sabe. Sempre faço meu trabalho de
maneira transparente. Procuro entender as pessoas. Sou compreensivo e não
impulsivo. Procuro compreender as pessoas aflitas, depressivas e pessoas que
por uma circunstância da vida (que não têm má índole) cometeram algum crime.
Não ajo por impulso. A razão prevalece. Resumindo: são 39 anos e quatro meses de polícia sem atirar em ninguém. Levo meu trabalho com transparência e
dentro da lei.
ALGUM
CASO EM QUE O SENHOR COMETEU ERRO?
Eu não costumo e nem quero pecar pelo
excesso ou pela omissão. Procuro ser cauteloso. Pra ser sincero um caso em que
eu tive dificuldade para tomar uma posição foi no que se refere ao homem que
foi decapitado e enterrado no quintal de uma casa nas Malvinas (Onde dona
Carmita morava com o irmão). A gente pensa que sabe de tudo, mas sempre tem
algo que nos surpreende, mas a gente tem que ter o raciocínio rápido: pegar pela
palavra ou atitude. Quando foi descoberto o corpo ela disse: que achava difícil
o corpo ser identificado, pois não havia cabeça. Num primeiro momento eu achei que
ela teve participação no crime, mas em seguida eu a indiciei por ocultação de
cadáver. Foi dificílimo, mas é preferível um culpado na rua, de que um inocente
preso. Outra coisa: havia pedras bastante pesadas. Ela sozinha não teria
condições de removê-las. Tenho cuidado nas minhas decisões. Pra tomar decisões
tenho princípios.
QUAL
FOI O MOMENTO EM QUE O SENHOR PERCEBEU QUE TINHA “COROADO SUA CARREIRA”?
Na polícia, Renato, eu sempre fui
tolerante (em toda minha vida, para ser sincero). Trabalhei com pessoas que
muitos colegas diziam: você não consegue trabalhar uma semana com fulano.
Trabalhei e dei conta. Fui delegado de Menores durante 14 anos. Não é fácil!!!.
Trabalhar numa delegacia e menores é algo extremamente estressante, mas tive
cautela em minhas decisões.
QUAL
A INVESTIGAÇÃO PERFEITA NA SUA CARREIRA?
Foram várias. Não quero nominar casos.
Quero deixar claro que cada caso resolvido é uma conquista para a sociedade.
Sou cautelo. Não quero fazer um trabalho e “lá na frente” esse trabalho ser
alvo de censura.
O
SENHOR JÁ RESPONDEU A ALGUM INQUÉRITO POLICIAL, OU FOI ALVO DA CORREGEDORIA?
Já respondi. Responder, eu respondo a
mil, se for o caso. Agora ser penalizado, eu não iria aceitaria, pois os inquéritos
que eu já respondi foram movidos por pessoas (eu não ei por qual a razão) antipáticas
ao meu trabalho. Teve delegado que saiu da corregedoria que veio apurar
inquérito contra mim e o alvo da suposta infração que eu poderia ter cometido
se transformou em elogio. Esse delegado ligou para o secretário de segurança e
disse: “olhe, não tenho o que apurar. O delegado Assis foi correto”... Então
como eu disse: responder eu respondo a mil, mas punição nunca sofri, pois não
cometi nenhuma infração na função que exerço.
PELO
LONGO TEMPO DE POLÍCIA: O SENHOR AINDA SE ESTARRECE DIANTE DE MUITOS CASOS?
Diante a desumanidade (eu já presenciei
muitos casos de monstruosidade). Eu digo a você que o ser humano é perverso. A
gente às vezes, por não ser capaz de cometer certos atos, acredita que outros
não cometerão. Crianças, por exemplo, assassinadas e estupradas, choca qualquer
policial. Não dá pra não sentir arrepio.
NA
DELEGACIA DE HOMICÍDIOS O SENHOR ESTÁ A
QUASE CINCO ANOS. COMO O SENHOR ENCARA O TRABALHO QUE É DIVIDIDO COM
MAIS TRÊS CABEÇAS (DELEGADOS ANTÔNIO, TATIANA E MAÍRA)
Trabalhamos em conjunto, em grupo e
interagimos. Nosso objetivo é tirar das ruas pessoas que ceifam vidas. Sinto-me
gratificado em trabalhar na Delegacia de Homicídios. Sinto-me fortalecido pela
equipe, pelo grupo.
O
DESVIO DE CONDUTA DE COLEGAS DE PROFISSÃO PERTURBA O SENHOR?
Incomoda-me e me sinto triste com isso.
Creio que os colegas que prezam pelo nome na instituição também se sentem
assim. Mas isso não é “privilégio” da polícia civil. Em todas as instituições acontecem
casos.
A polícia muitas vezes é generalizada.
As pessoas julgam o todo. Estão enganados. Na polícia prevalece, em sua
maioria, a honestidade.
O
SENHOR VIVE MAIS DENTRO DA CENTRAL DE POLÍCIA? COMO É ISSO?
Eu posso dizer a você Renato, que “eu
moro na delegacia e passeio em casa”. Às vezes, por exemplo, nas folgas, eu
ainda venho para a Central nos finais de semana para dar conta de relatórios
que por ventura estejam atrasados.
E
A IMPRENSA: É ESSENCIAL NO TRABALHO POLICIAL?
Gosto da imprensa e digo isso não pra
fazer média. Quando faz um trabalho relevante para a sociedade todos saem
ganhando. Independente da informação, ela tem que
fazer o seu papel nobre.
COMO
O SENHOR ANALISA A POSTURA DA POLÍCIA MILITAR NO OPERACIONAL?
Olha é preciso entender que esse
trabalho não é fácil. Se alguém é vítima de um assalto, por exemplo, e diz que
o acusado é o sujeito “tal”, certamente que a polícia militar baseada naquele
testemunho, vai trazer o acusado para a polícia judiciária (civil). Cabe ao policial civil, baseado nos
relatos e provas, dar o seu parecer. Para isso é preciso cautela. Como eu disse: é preferível
um culpado na rua de que um inocente na cadeia.
A
MUDANÇA NA POLÍCIA CIVIL EM CAMPINA GRANDE FOI SAIR DE UM PRÉDIO VELHO PARA UM
NOVO PRÉDIO?
Não tivemos mudanças apenas na
estrutura. Foi uma mudança generalizada. Vou te dar um exemplo: escrivães e
agentes têm nível superior. Tem gente com pós-graduação. Temos agentes que são
instrutores na Academia de Polícia. Quando eu iniciei, não tinha isso. Sou do
tempo da figura do delegado comissionado. A polícia hoje vive um novo tempo.
Temos pessoas preparadas. A maioria dos policiais preserva pelo nome da
instituição.
"BANDIDO
BOM É BANDIDO MORTO”?
Olhe: tem crimes que a gente se
emociona. Crianças estupradas e mortas fazem a gente se emocionar. Recentemente
este caso de Queimadas (estupro coletivo) foi de uma barbárie sem precedentes.
A gente fica estarrecido, mas eu acredito na recuperação. A prisão, em muitos
casos, muda a pessoa. EU SOU PELA VIDA, EU DEFENDO A VIDA. Às vezes chego a um
local de crime e escuto alguém dizer com o vítima fatal: isto é uma “alma
sebosa”. Não existe alma sebosa. Acho que existem e existiram pessoas que não
tiveram e não têm a sorte de ser educadas.
O
QUE O SENHOR VAI FAZER QUANDO DEIXAR A POLÍCIA CIVIL?
Eu tenho um sítio próximo a Campina
Grande. Tem uma área grande lá.Vou criar codorna. Vou ser o “rei da codorna”
em Campina e demais cidades (risos).
parabens pelo brilhante trabalho prestado a sociedade campinense
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