O jornalista Daniel Motta, venceu o
prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo 2015, na categoria “Televisão”.
Daniel, paraibano de Juazeirinho, é produtor
da TV Record/São Paulo, e produziu com Luís Gustavo Rocha “O Mistério do Matador de
Mulheres”, que contou a história de um serial killer de Goiás.
A reportagem foi exibida no dia 08 de
setembro de 2014, no programa Repórter Record Investigação.
Daniel produziu de São
Paulo, Luís Gustavo Rocha produziu de Goiás, Lucas Wilches editou o texto e
Oloares Ferreira a reportagem.
Os ganhadores ficaram sabendo da escolha
nesta segunda-feira (16/03) e a entrega da premiação será no dia 14 de abril no
Rio de Janeiro.
O objetivo é fomentar, no meio
jornalístico, a produção de matérias de cunho investigativo, onde o tema seja
iniciativa do jornalista, e não do editor ou veículo.
O Prêmio Tim Lopes se comunica com
jornalistas e editores de veículos de comunicação que, com seu trabalho e ação,
contribuem para melhorar a segurança pública, seja no âmbito da violência
urbana, dos crimes ambientais ou contra os direitos humanos.
No
dia 10 de agosto de 2014, Daniel Paulino Motta, de 29 anos, foi o
entrevistado de estreia do quadro “A
ENTREVISTA DA SEMANA” do renatodiniz.com
Um dia após a publicação da entrevista o
caririzeiro estava no batente, na redação da Record em São Paulo “mandado ver”.
A história do matuto do cariri da Paraíba,
que cursou Comunicação Social na UEPB, impressiona pela determinação e
objetivo.
Reveja abaixo a entrevista concedida ao renatodiniz.com
em agosto do ano passado com Daniel Motta
COMO
FOI SUA INFÂNCIA?
Foi uma infância marcada desde cedo pelo
compromisso e a responsabilidade. Tenho oito irmãos todos nós começamos a
trabalhar ainda pequenos. Aos cinco anos eu já trabalhava na roça, com meu pai
e irmãos, porque o nosso sustento era retirado da agricultura. Sempre quis
estudar e em um horário eu ia para escola, no sítio mesmo. Na época, era um
prédio bem precário, sem carteiras, sem quadro-negro e até sem giz. Não tinha
cantina e nem tampouco fogão. Nós mesmos, os alunos, quem fazíamos a merenda,
com lenha que procurávamos na mata, localizada próximo da escola. Depois, todos
os meus irmãos desistiram dos estudos e eu prossegui. Era tudo muito difícil.
Faltava-me quase tudo, menos vontade de vencer na vida. Terminei o Ensino
Fundamental e o Médio, em Juazeirinho, em escolas públicas e em 2005, realizei
o sonho de prestar vestibular para jornalismo.
O
QUE LHE FEZ ESCOLHER O JORNALISMO?
Desde criança eu já admirava o
jornalismo e sonhava com o dia em que seria um jornalista. Nas horas vagas,
brincava com pilhas de rádio e sabugo de milho, que improvisava como se fosse
um microfone. Uma caixa de sapato era a câmera e meu irmão menor me ajudava na
brincadeira, sendo o cinegrafista. (eu ajudava na atividade dele, como
recompensa). Enfrentei o desafio de todo mundo achar que fazer jornalismo era
errado. Alegavam que eu deveria ser professor. Achava jornalismo um sonho
distante e que eu nunca conseguiria. Não era a minha família que pensava assim.
Eram as pessoas da própria comunidade e da escola no terminei o ensino médio.
Mas mesmo assim, eu não desisti e fiz o vestibular para jornalismo, estudando
em apostilas que consegui emprestado. Não tinha acesso à internet na época.
Passei na faculdade e durante três anos e meio, vinha de Juazeirinho para
Campina Grande, à noite, perfazendo um trajeto de 170 quilômetros e quase
quatro horas de viagem, somando a ida e volta. Deu tudo certo e hoje sou
jornalista.
JÁ
FOI VÍTIMA DE RACISMO, OU BULLYING?
Sim. Por várias razões, mas
principalmente, por ser negro, obviamente. Sempre busquei me impor, mas claro
que existem pessoas que se sentem bem em diminuir os outros. Sofri muito
preconceito, mas isso nunca me afetou em nada. Quando alguém me tratava de
forma preconceituosa, direta ou indiretamente, estava me dando forças para
lutar pelos meus ideais e mostrar que não seria um derrotado.
QUANTO
TEMPO DE PROFISSÃO, POR ONDE PASSOU?
Cinco anos. Pra valer mesmo eu comecei
em 2009, na TV Correio. Era estagiário da produção na redação da Sucursal de
Campina Grande. Foi uma grande experiência. Depois, ano passado, voltei à TV Correio
para mais uma temporada. Em 2010 eu ingressei no jornal Correio da Paraíba,
também como estagiário e logo fui contratado como repórter. Fiquei no jornal
até o último dia 31 de julho. Nesse intervalo de tempo, também tive a
oportunidade de fazer trabalhos para outros veículos, entre eles o jornal
Diário de Notícias, de Portugal, a revista Exitus e para alguns portais de
notícias. Também tive uma rápida passagem pela rádio Correio 98.1. Tive oportunidades em assessorias de imprensa
ao longo desse tempo. Antes de iniciar no jornalismo, eu exercia a função de
professor em minha cidade Juazeirinho.
COMO
FOI TRABALHAR NO CORREIO?
Foi uma grande experiência. Foi onde eu
aprendi a fazer jornalismo. O Correio é uma grande escola. Comecei como
estagiário e me construí como repórter lá. Aprendi que não somos apenas meros
transmissores de informação. Mas que somos a voz do povo e que devemos fazer um
jornalismo sério, apurado e responsável para ajudar a transformar realidades.
Além disso, fiz uma família jornal, que levarei para sempre comigo.
QUAL
A ÁREA LHE ATRAI NA PROFISSÃO, POR QUAL MOTIVO?
O poder de transformar realidades. Ser o
'instrumento' da sociedade para mudar situações, ajudar pessoas, através da
divulgação de fatos. O jornalismo investigativo sempre foi a minha área
preferida. Gosto de sentir o sabor de investigar, esmiuçar, descobrir. Sempre
disse ainda na faculdade, que quando decidi fazer jornalismo seria para ajudar
as pessoas, dando oportunidade para que elas 'apareçam'.
QUAIS
REPORTAGENS MARCANTES?
Fiz algumas reportagens que me marcaram.
A Pistolagem, em Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba, foi uma das mais
gratificantes. Foi a que eu mais pude abusar do 'investigativo'. A famosa briga
de famílias que já tinha resultado em um derrame de sangue há vários anos,
nunca tinha sido contado por ninguém. Eu mesmo me pautei e fui atrás daquela
história. Tive o apoio da polícia, que queria também divulgar aquela situação,
mas tinha dificuldades. Foi um grande desafio, porque era somente eu e a
polícia e mais nada. A matéria teve uma excelente repercussão, que segundo a
própria policia na época, resultou na operação 'Laços de Sangue', onde foram
presas mais de 16 pessoas envolvidas no esquema criminoso. Depois, veículos de
comunicação de rede nacional vieram e abordaram a pauta. Foi bacana. Outras que
posso citar foram as coberturas de presidentes, como o Lula, em 2010 e a Dilma,
ano passado. A transposição do Rio São Francisco também foi um dos assuntos que
mais cobri. Sempre adorei escrever sobre a obra que deverá mudar a realidade de
milhões de nordestinos. Uma matéria sobre inclusão produtiva também me rendeu o
primeiro lugar no prêmio SEBRAE de jornalismo.
DESTACARIA
ALGUM GRANDE AMIGO NA PROFISSÃO?
Graças a Deus, construí muitos amigos
nesse intervalo de tempo. Não teria nem como citar apenas um aqui. Todos são
muito importantes, tanto a equipe da redação do Correio, quanto os outros de
outras empresas com os quais fiz amizade.
COMO
SURGIU O CONVITE PARA A REDE RECORD?
Já era fã dos programas Câmera Record,
Domingo Espetacular e o Repórter Record Investigação. Por meio de uma rede
social, na internet e e-mails, passei a me comunicar com o chefe de redação do
programa e sugerir pautas. Um dia, ele me ligou e falou sobre a oportunidade de
trabalhar na Record e me convidou para ir até a sede da emissora, na Barra
Funda em São Paulo. Fui, conheci a redação e a proposta que me fizeram.
Agradei-me de tudo e aceitei o desafio. Inicio na emissora no dia 11 deste mês.
COMO
VOCÊ ESTÁ VENDO ESSE DESAFIO?
É realmente, um grande desafio. Estou
vendo como a grande oportunidade de começar um novo ciclo profissional.
Aprender muito e buscar fazer o melhor sempre. Uma oportunidade de produzir
reportagens para todo o Brasil. Abusar da criatividade e valorizando sempre os
princípios do bom jornalismo.
CONTE
O QUE VAI FAZER, ESPECIFICAMENTE?
Vou produzir reportagens para o programa
Câmera Record, sobretudo e também para o Domingo Espetacular e o Repórter
Record Investigação.
VC
ACREDITA QUE OS “JORNAIS” ESTÃO COM OS DIAS CONTADOS?
Infelizmente, acredito que sim. Não
gostaria porque amo impresso. Acho que o jornal é uma forma de documentar muito
importante, mas diante do avanço das novas tecnologias da informação, as redes
sociais e todo o universo da internet acabarão levando os impressos a fecharem
suas portas. Os jornais, de modo geral,
enfrentam hoje em dia, uma concorrência muito desleal. Mas acredito que o
veículo ainda durará por um bom tempo, sobretudo aqueles que têm se reinventado
e buscado fazer um diferencial.
O
JORNALISMO PARAIBANO, COMO VÊ?
Difícil falar sobre o jornalismo
paraibano, porque eu 'cresci' em meio a ele. Ainda vejo muita coisa aqui, em
nossa Imprensa, que poderia melhorar. Ainda vejo muitas ‘amarras', que acabam
dificultando o trabalho dos profissionais. Muitos interesses em jogo e que de
certa forma, afeta o dia a dia dos jornalistas. Não se tem muita liberdade para
fazer jornalismo. Mas, admiro muito aqueles que lutam e tentam fazer o melhor.
Que mesmo com as limitações, procuraram fazer um jornalismo sério e dinâmico,
que leve ao cidadão a oportunidade de 'falar'.
QUAL
SUA MANIA? O QUE VOCÊ GOSTA DE FAZER?
Gosto de viajar, sob qualquer
circunstância. Acho que sempre que a gente faz uma viagem, tem a oportunidade
de conhecer mais, descobrir mais, aprender muito mais. Viajar a trabalho,
sobretudo, é muito gratificante. Outra mania é viver conectado às redes
sociais. Mas faço disso uma forma de aprender também. Uso as redes sociais para
interagir, conhecer pessoas, trocar experiências...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.