Por
Emerson Saraiva*
Muito tem se comentado sobre os
acontecimentos ocorridos na última semana em Campina Grande na área de
segurança pública, iniciados com uma onda de violência que resultou na contagem
de nove mortes em um curto espaço de tempo, culminando com o assassinato de um professor
em plena sala de aula e com a divulgação de imagens fortíssimas de um grupo de
apenados do presídio do Serrotão, “brincando” com a cabeça de um companheiro de
cela decepada minutos antes no interior da penitenciária.
A ampla divulgação das cenas através das
redes sociais e depois pelos veículos de comunicação, que retroalimentaram as
redes, seguiu-se uma sequência absurda de fatos inéditos e marcantes para a
vida da cidade antes considerada pacata e segura, com o incêndio de “três”
ônibus e uma onda de boatos disseminada livremente pela população, com boas e
más intenções.
Diante dessa sequência de fatos
inéditos, agudizou-se de maneira inegável um aspecto perceptível já há muito
tempo no tocante à escalada da violência na Paraíba e que os acontecimentos dos
últimos dias apenas expuseram ainda mais: a completa falta de competência e habilidade
dos órgãos oficiais e instituições envolvidos para lidar com cenários de crise.
Neste caso, no âmbito da segurança
pública e defesa social.
A forma como todos os envolvidos se
comportaram ao longo da crise denotou de maneira muito clara o despreparo dos
segmentos envolvidos para lidar de maneira racional e eficiente com um cenário
crítico com sérias repercussões para a imagem de todos os seus participantes.
Para começar, os governos,
principalmente o estadual, responsável pelas políticas de segurança pública e
defesa social, além da administração do sistema carcerário.
Mais do que demonstrar incompetência
para cumprir sua função de preservar a integridade dos apenados sob sua guarda,
o fato ocorrido no Serrotão demonstrou também a incapacidade do governo para
exercer minimamente a função de evitar a entrada de armas e dispositivos de
comunicação.
E aí já é possível determinar ter sido a
inoperância do sistema a causadora de toda a sequência de acontecimentos, pois
se o presídio protegesse seus internos e coibisse a entrada de objetos
proibidos de forma eficiente o estopim da crise teria deixado de existir.
Em seguida, observa-se a absoluta falta
de sensibilidade e tato no enfrentamento da crise já estabelecida,
principalmente por parte do Governo do Estado da Paraíba, que demonstrou
completa falta de preparo e a total inexistência de estratégias para combate a
crises de imagem.
Sendo
– ou devendo ser
– a fonte principal de informações para imprensa e população a respeito do que
estava acontecendo em Campina Grande, o governo simplesmente deu de ombros para
a mídia e para os cidadãos não apenas no uso de suas ferramentas institucionais
mais tradicionais (assessorias de comunicação e sites), mas, sobretudo, nos
canais mais efetivos de presença junto à comunidade durante a crise: as redes
sociais.
É impressionante, num momento de
verdadeiro tiroteio de informações duvidosas e desencontradas por todos os canais,
entrar nos perfis e páginas desses órgãos e não encontrar uma linha ou imagem
sequer destinada a esclarecer a sociedade a respeito do que efetivamente estava
acontecendo e das medidas que estariam sendo tomadas.
Principalmente no caso do setor de segurança
pública, que, mesmo tendo presença física abrangente e permanente em todos os
cenários e acontecimentos divulgados, simplesmente calou e deixou a onda de
boatos circular livremente, submetendo a população ao pânico e desespero por
pura falta de informação.
Ao invés de montar uma central de
informações para monitorar e combater os boatos com conteúdos produzidos a
partir de material coletado pelos próprios policiais, que terminaram servindo
de fonte extraoficial ou pretexto para divulgação de vários boatos, preferiram
calar e permitir o fluxo descontrolado de informações, para, ao final, divulgar
uma assustadoramente equivocada “nota oficial”
que, curiosamente, sequer chegou a ser publicada nos canais oficias, condenando
justamente o aspecto da crise que poderiam ter evitado de forma mais eficiente
- a onda de boatos - e atribuindo à oposição política a orquestração da
desinformação, o que se torna irresponsável, principalmente no caso do governo,
por não haver qualquer tipo de prova da alegação.
O governo atribuiu a crise baseada em
aspectos sob os quais, diante do cenário nacional de aumento da violência, tem
responsabilidades limitadas, a aspectos sobre os quais poderia ter atuado e,
com o mínimo de profissionalismo e competência, mitigado de maneira
praticamente absoluta.
Ao final, o governo deixou de
defender-se de aspectos sobre os quais efetivamente não tem, com e sem culpa,
muito controle para atacar outros que poderia ter evitado completamente.
Ou seja, ao invés de defender-se da
culpa que não tem atacou a culpa que é majoritariamente sua.
Outros atores tiveram participação
negativa no episódio.
O poder público municipal,
principalmente a STTP, responsável pelo trânsito e transporte na cidade, e o
SITRANS, órgão representante das empresas de ônibus, ligados diretamente à
crise através dos ônibus incendiados, também demonstraram despreparo para o seu
enfrentamento e não empreenderam nenhuma estratégia de informação direta da
população, deixando a cargo da mídia essa responsabilidade.
Embora suas assessorias de comunicação
tenham sido rápidas e eficazes no fornecimento de informações básicas à
imprensa, faltou a ambos os órgãos a agilidade necessária para apresentar,
durante a crise, informações úteis e prestação de serviços para a população, como
planos de contingência, argumentos e dados que pudessem angariar o
posicionamento favorável da população.
Finalmente, mas não menos importante,
alguns setores da imprensa posicionaram-se de maneira irresponsável e
lamentável frente ao cenário caótico de informações duvidosas que circularam
nas redes sociais, repercutindo boatos sem qualquer tipo de apuração ou
checagem e chegando a disseminar a insegurança e o desespero na população com a
perda da objetividade e do equilíbrio no tratamento e transmissão de
informações.
Os acontecimentos na área de segurança
pública em Campina Grande nos últimos dias deixam lições importantes e
experiências que não devem ser esquecidas.
Ficou muito claro o visível despreparo
de todos os setores envolvidos no episódio para o gerenciamento de crises e
redução dos danos que elas podem causar às instituições envolvidas,
principalmente no tocante ao relacionamento com o público no ambiente digital.
Esperamos todos que o cenário tenha sido
apaziguado, embora, mais uma vez, não tenhamos nenhuma transparência em relação
às ações que estão sendo tomadas nesse sentido, e que novas crises desse tipo
não voltem a ocorrer.
Mas principalmente, esperamos, em caso
tenhamos outros episódios semelhantes, que os envolvidos possam demonstrar um
mínimo de preparação e competência para enfrenta-los da maneira correta.
(*Emerson Saraiva é Professor e
Publicitário)
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