MAJOR GILBERTO FELIPE:
“QUANDO VESTIMOS A NOSSA FARDA ELA PASSA A SER A NOSSA
PELE”
O major Gilberto Felipe da Silva, de 45 anos, completou no último dia 28 de novembro um ano no comando do 2ºBPM.
Gilberto é natural de São Vicente
do Seridó/Curimataú paraibano e é formado em jornalismo pela UEPB.
Na última sexta-feira (27/11) o
comandante conversou por 47 minutos com o www.renatodiniz.com.
Gilberto Felipe falou sobre vários
assuntos.
Ele deixa claro que não é simpático ao
fato de o porte ilegal de arma ser um crime afiançável.
O major comenta sobre a questão da
segurança em Campina Grande.
O comandante comentou ainda sobre mal
entendido sobre o tema “a polícia prende e ajustiça solta”.
Segundo ele, houve uma interpretação indevida.
Segundo ele, houve uma interpretação indevida.
COMO É ENCARAR O FATO DE HOJE O SENHOR SER A VIDRAÇA E RECEBER OS ARREMESSOS DE PEDRAS?
“Inicialmente eu digo que a questão de
segurança e combate a violência não é uma questão isolada da polícia. São
vários órgãos envolvidos. Cada um tem uma função específica. E ainda: os
índices de violência em Alagoas, Bahia, Ceará são alarmantes. Quanto à Paraíba, ela tem pontuado em termos de reduções. No Segundo Batalhão, por exemplo, os
números são exitosos. Quanto aos ‘arremessos de pedra’ eu digo que são direcionados
as árvores que dão frutos e nós sabemos que muitas vezes esses arremessos têm
motivações diversas: desde a mesquinharia da política partidária (isso envolve
outros sentimentos dos quais não são nada nobres e faz com que alguém lance
críticas gratuitas). Uma coisa é reconhecer que há índices violência a exemplo
de outros estados. Outra coisa é você focar indevidamente e de forma injusta
agredir o órgão policial como se ele fosse o único responsável para arrefecer a
violência. Quando não é! Na verdade é um dos órgãos que mais estão trabalhando”.
O
SENHOR IMAGINOU QUE HOUVESSE TANTA COBRANÇA?
“Nossa tropa tem uma maturidade digna de
elogio. Nós diuturnamente velamos para a segurança do cidadão. Mas somos
conscientes que não somos o único órgão responsável pela segurança pública. Nós
perseguimos este objetivo que é a paz pública. Nós temos em mente que esta é
uma função nobre da polícia. É interessante saber que há toda uma panaceia de sistemas
que fazem a segurança pública. Lógico, os olhos estão voltados para a polícia;
a flechas são lançadas na polícia. O importante é dizer que segurança pública
não envolve só especificamente a polícia. A constituição em seu Artigo 114 frisa
que ‘embora dever do estado, a segurança é responsabilidade de todos’. Então
essa responsabilidade é de todos. A partir do momento em que temos uma
legislação falha; uma lei que permite a um agressor ‘entrar preso’ por porte
ilegal de arma, pagar uma fiança e voltar às ruas, isso é um impulso a
impunidade e a violência. É preciso que tenhamos um ‘tecido’ legislativo forte
para que possamos levar, até no sentido pedagógico, a mensagem a um delinquente
de que não compensa delinquir, mas o que é que nós temos? Temos uma legislação
falha que permite o delinquente entender que compensa ele cometer o crime. É
como se tivesse a certeza que a lei, o estado não vai chegar a ele. Fica a
deixa: se uma polícia de um batalhão, em menos de um ano, já prendeu mais de
1.200 agressores e apreendeu mais 260 armas, está provado EM LETRAS GARRAFAIS que este batalhão está trabalhando e trabalhando
muito. Matematicamente isto está comprovado, a sua parte está sendo feita. Por
outro lado é preciso que haja um amadurecimento de entender que tem de existir
todo um somatório (com os outros sistemas de segurança) para trabalhar de forma
harmônica e alcançarmos resultados exitosos”.
A
CIDADE PADECE E FICA INSEGURA SE ALGUÉM ASSUME A CADEIRA DE COMANDANTE CHEIO DE
VAIDADES? SE O CARGO SUBIR À CABEÇA...
“Eu defino da seguinte forma: no serviço
público só cabe profissionalismo. Lógico que a ele você agrega outros valores
como ética, responsabilidade, caráter, honra, bom senso e espírito de
coletividade. Tudo isso faz naturalmente a pessoa despojar-se de qualquer tipo
de vaidade. Neste cargo de comando, distancia-se da realidade, da sociedade, da
tropa e do clamor, não é uma postura correta.
NUMA
ENTREVISTA RECENTE, EM UMA EMISSORA DE RÁDIO, O SENHOR CHEGOU A AFIRMAR QUE “A POLÍCIA
PRENDE E A JUSTIÇA SOLTA”? POR CAUSA DISSO A “JUSTIÇA” RESPONDEU DE FORMA
CONTUNDENTE. É DESSA MANEIRA: “A POLÍCIA PRENDE E A JUSTIÇA SOLTA”?
“Olha eu lamento profundamente e aqui não
vai nenhum crítica à imprensa, mas faço sim a alguns maus comunicadores que eu
não sei se por desprovimento de conhecimento acadêmico, por maldade ou levado
pela ética da ‘barriga’. Eu me referi (como estou ratificado) a legislação
falha. E ai o ‘cidadão’ entendeu que legislação é justiça. E quando ele alega
que a polícia militar prende e a justiça solta, a frase soa como se a justiça
estivesse soltando o preso ilegalmente, ao ‘arrepio da lei’. Como se fosse uma
acusação. Em minhas entrevistas, em momento algum eu fiz alusão culpando o
sistema judiciário. Não é isso que ocorre. Tanto a justiça, quantos os órgãos
policiais têm como matéria prima a lei. Se a lei diz que ‘quem for pego com
arma de fogo, o crime é afiançável’, o delinquente vai pagar uma fiança e vai
para a rua. O que fica claro é isto: a legislação permite ao delinquente a sensação
de impunidade, de liberdade e de não pagar pelo crime que cometeu. Infelizmente
veio esse incomodo que alguns pouquíssimos comunicadores quiseram fazer um
atrito ou um mal estar entre a polícia e ajustiça. Nós mantemos um sadio
relacionamento com o judiciário, o ministério público, polícia civil, PRF,
polícia federal, guarda municipal, sistema prisional, Detran, CPTran, STTP e
outros órgãos de segurança. O fato é que existem pessoas que torcem pelo ‘quanto
pior, melhor’ e ficam ali fustigando a discórdia.
O
SENHOR IMAGINOU QUE PODERIA CHEGAR A COMANDAR O SEGUNDO BATALHÃO?
“Francamente falando, sem proselitismo
religioso. Eu sou um homem temente a Jesus Cristo. ‘Tudo posso naquele que fortalece’.
O meu escudo protetor é Jesus Cristo. Ele me deu uma família maravilhosa que me
educou. Educou-me na família. Meu pai me educou. Eu agradeço a ele. Aliado a
isso eu tive uma formação acadêmica irretocável. Eu sempre acreditei que
poderia chegar mais longe. E digo: agradeço a todos aqueles que somam comigo.
Eles são alvo do meu agradecimento. Essas forças que convergem faz com que a
gente sonhe, dentro da realidade, em chegar a patamares mais elevados. Isso de
maneira sadia, com respeito a todos que nos ladeiam, no cumprimento da
legislação, no respeito ao cidadão, na integridade da pessoa”.
“Eu costumo de dizer aos meus irmãos
negros, a exemplo de todas as raças, que somos uma nação rica. Nós temos aqui uma
miscigenação democrática (e por mais que alguém queira bloquear). Veja que aqui
no Brasil, por exemplo, ninguém vai recusar matricular um aluno em virtude de
ele ser negro. No entanto não é bom ‘a pessoa’ se valer do fato de negro e não
estudar, não batalhar e atribuir à cor. Eu acho, se assim for, esse cidadão não
honra a cor que tem. Então, seu tivesse nascido branco, e não estudasse eu
seria um branco desempregado e um branco sem cargo. A cor é indiferente a
aquilo que se possa chegar. Os acessos públicos e privados não fazem alusão a
cor”.
A
SOCIEDADE SEMPRE FOI CISMADA COM A POLÍCIA MILITAR, MAS ESSA CISMA VEM MUDANDO.
É NOTÓRIO. COMO O SENHOR AVALIA?
“A polícia é a guardiã dessa sociedade.
As políticas sociais também fazem parte do nosso cotidiano. As ações sociais
fazem parte do nosso dia a dia. Não existe mais aquela ideia de que um homem
fardado, carrancudo, impõe a ordem. Isso não existe mais. Armas como o dialogo,
a ética e o respeito conduzem uma boa polícia entre a sociedade civil e a polícia”.
AQUI
EM CAMPINA GRANDE TIVEMOS MOMENTOS EM QUE AS AÇÕES DA POLÍCIA FORAM DURAMENTE
QUESTIONADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, PELA IMPRENSA, PELA SOCIEDADE EM GERAL.
HOUVE UMA DIMINUIÇÃO DESSAS OCORRÊNCIAS. A POLÍCIA ESTÁ SE POLICIANDO?
“Nós temos 99,99 por cento de policiais
comprometidos e dedicados. Aqui no Batalhão temos uma imensa parcela de
policiais de conduta regrada e de conduta digna de elogios. Aqueles que
lamentavelmente empunharam uma conduta que não é digna e compatível com a
profissão foram punidos e assim será. Mas tudo isto é uma questão do ser o
humano, da própria pessoa. Eu, enquanto comandante deste Batalhão, faço minha obrigação
calcada na ética e na lei. Não há espaço para desvio de conduta”.
NESTE
CARGO QUE O SENHOR OCUPA É POSSÍVEL SE DESLIGAR UM POUCO DA FUNÇÃO E SE DEDICAR
A OUTRAS ATIVIDADES?
“Nós que amamos a polícia militar quando
vestimos a nossa farda, a farda passa a ser a nossa pele. A escala de serviço é
apenas um detalhe burocrático. Somos 24 horas policiais. Em que pese estarmos
de folga, no seio familiar, o pensamento está sempre voltado para a nossa
função. E isto de forma prazerosa. É como se confundisse com exercício da
profissão, com o dever familiar. Eu tenho que agradecer a compreensão da família.
Repito: sou policial com prazer. Com ou sem farda eu sou policial. Meu celular
permanece ligado 24 horas”.
É POSSÍVEL LEMBRAR DE UMA OCORRÊNCIA QUE MARCOU?
“Pela importância que causou a minha
pessoa, eu posso citar que teve um caso em que um jovem atentava contra a
própria vida usando arma. Quando chegamos
ao local ocorreu então aquele canal de diálogo (gerenciamento de crise, eu
diria). Uma coisa é estar numa ocorrência onde tem um refém, outra coisa é
estar numa ocorrência onde alguém quer por fim à própria vida. Este caso
específico começou a tarde e se estendeu pela noite. No final da noite
conseguimos desestimulá-lo. Anos depois essa pessoa me procurou e relembrou
todo o episódio e agradeceu por estar viva. Isso foi bastante gratificante.
Isto não tem preço. Outro caso diz respeito a um senhor embriagado que estava caído
no meio da rua. Nós colocamos ele dentro de casa, ele dormiu e saiu daquela sarjeta.
Dias depois eu recebi os agradecimentos do filho dele por colocar o pai dentro
de casa. Coisa simples até, mas de um significado importante para o filho
daquele homem. Eu poderia citar aqui outras situações de combate, do bem contra
o mal, mas me reservo a esses dois fatos pelo valor que essas pessoas deram a
polícia. Pelo valor que essas pessoas deram aos soldados. Nós policiais fazemos
dezenas de ações diárias nas ruas que passam despercebidas, mas que nos enchem de ânimo, não pelo fatos de
apenas fazemos, mas pelo significado que essas ações têm nas pessoas que nos
procuram”.
CAMPINA
GRANDE É UMA CIDADE POLICIADA E SEGURA?
“Nós sabemos que fazer segurança pública
não é só obrigação da polícia. Repito: a certeza da impunidade faz com que o
crime seja repetido. No caso específico de Campina Grande, por mais que alguém
questione, por mais que alguém avalie negativamente, nós temos resultados apresentados
(resultados matemáticos) probantes positivos. Prendemos diariamente,
apreendemos drogas e armas diariamente. Vamos tornar o discurso mais adulto
para que outros fatores se somem aos órgãos policiais, pois a partir daí nós teremos
uma redução do índice de criminalidade e melhor ainda: vamos ter uma prevenção de
tal forma que ela emane o sentimento de sensação de segurança, pois deixará de
estar sozinho o organismo policial e teremos sim o somatório”.
“O povo tem que dizer que tipo de legislação
quer no país. Seria justo perguntar, por exemplo: ‘O senhor ou a senhora
concorda que o delinquente deve pagar a fiança e voltar às ruas, ou ele deve,
ao ser preso com arma de fogo, ficar na cadeia para pagar pela sua agressão à
sociedade?’ Hoje o homem de bem, com muita propriedade diz: ‘proíbe-se o homem
de bem andar armado, mas o bandido usa’. O bandido usa em virtude de a lei
dizer: pague a fiança e estarás solto.
Se esta mesma lei fosse revogada, nós teríamos aqui em Campina Grande, de
janeiro para cá, menos 260 assaltos ou menos de 260 outros crimes e 260
mantidos presos”.
VOU
MAIS ALÉM: A POPULAÇÃO ESTÁ PREPARADA PARA ANDAR ARMADA?
“Está em trâmite uma proposta para que o
Estatuto do Armamento propicie a quem preencher requisitos, ter o porte de
arma. Percebemos que metade da população é a favor e a outra metade não. Uma
pessoa portando uma arma ela pode estar bem segura ou pode estar levando a morte consigo. A arma é
um alvo. Eu solicito pena ‘gravosa’ para o porte ilegal de arma. 99 por cento
dos homicídios é com arma de fogo. E outra: nós somos bastante imprevisíveis. Quando
eu falo de ‘gravosidade’ para o porte ilegal de arma é para que o cidadão
entenda que o estado pôs a mão no delinquente e estar trazendo mais segurança
para ele (o cidadão). Não adiante armar o cidadão e deixar o crime de porte de
arma afiançável”.
AINDA
EXISTE AQUELA SITUAÇÃO: “POLÍCIA CIVIL NUM CANTO, POLÍCIA MILITAR NOUTRO”?
“Com a atual
política de estado (Paraíba Unida Pela Paz) a cúpula de segurança tem se
reunido toda semana para discutir estratégias e planejamentos. Reúnem-se
polícias militar e civil, Corpo de Bombeiros, além do IPC. Tudo é reavaliado.
Novas diretrizes são traçadas. Existe um 'irmanamento'. Não é cada um por si. Em
Campina Grande, por exemplo, o relacionamento nosso com a polícia civil é extremamente
cordial, parceira e salutar. Vou lhe dar um exemplo: quando eu digo que
apreendemos 260 armas e prendemos e apreendemos 1.200 pessoas em flagrante, com
certeza isso se dar por força de um trabalho integrado. Ninguém chega a esses números
se esse trabalho for isolado. Se a ONU ‘pegar’ esses números vai dizer que tem
alguma coisa errada e não é com a polícia. Ela entender que o Serrotão tem pouco
mais de 900 presos, e em menos de um ano prendemos 1.200, a ONU vai começar a
fazer uma leitura de que algo está errado e não é com a polícia”.
TIVEMOS
AQUI EM CAMPINA GRANDE, DE MODO MAIS PARTICULAR, ASSALTOS EM GRANDES EMPRESAS
COMERCIAIS ONDE EXISTE A VIGILÂNCIA PROFISSIONAL (ARMADA ATÉ). DO PONTO DE
VISTA DA POLÍCIA MILITAR, ESSE PESSOAL ESTÁ BEM PREPARADO?
“Nós temos várias escolas ou empresas de
segurança que ministram cursos acompanhadas de profissionais da polícia Federal
(como manda a lei). O dia a dia é uma outra situação. Mas sabemos da capacidade
profissional de um vigilante. O elemento surpresa não é uma coisa que se vê. O
importante é capacidade, atenção e assimilação.
FINALMENTE:
BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO?
“A polícia militar amadureceu muito com
respeito à dignidade, à integridade do ser humano. A população esbraveja e
clama por punição, por pena capital. Quando ela vê um criminoso pagamento um
crime com pena alternativa, ela reclama. Ela acredita que a impunidade está
reinando. Quanto ao termo ‘bandido bom é bandido morto’ não é minha opção. Eu
prefiro ficar com a mensagem da paz social. Não é interessante nunca partir
para o extremismo. Minha opção é pela prisão. privá-lo da liberdade. E outro ponto:
temos que ter políticas públicas para a ressocialização do preso”.
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