O ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Gilmar Mendes criticou hoje (24), em São Paulo, o que chamou de
“excessos” na Operação Lava Jato e disse que é preciso estabelecer limites para
as prisões preventivas que ocorrem na operação.
“Há [excessos na Lava Jato], tanto é que
houve concessão de habeas corpus. Para mim, por exemplo, no que diz respeito à
prisão provisória sem limites, isso me parece excessivo e precisa ser discutido
no TRF [Tribunal Regional Federal], no STJ [Superior Tribunal de Justiça] e no
Supremo”,
disse Mendes a jornalistas antes de participar do 3º Colóquio sobre o Supremo
Tribunal Federal promovido pela Associação dos Advogados de São Paulo, no
centro da capital paulista.
Perguntado se a Lava Jato não estaria
promovendo um estado de exceção no país, como argumentam alguns juízes, Mendes
respondeu que vê exageros nos desdobramentos da operação.
“Acho que há exagero, mas é necessário
que a Justiça acompanhe isso de forma bastante tranquila e faça as correções
devidas. Nós, no Supremo, já concedemos habeas corpus. Eu entendo que já
deveríamos ter concedido mais. Acho que deveríamos ter colocado limites nessas
prisões preventivas que não terminam. Precisamos realmente mostrar que há
limites para determinados modelos que estão se desenhando.”
O ministro criticou também o que chamou
de “corporativismo” do Judiciário.
“O Brasil virou uma república
corporativa. A gente só vê os grupos altos, centrados, defendendo seus próprios
interesses. E agora nunca tivemos tantos combatentes de corrupção. Todos –
defensores públicos, AGU [Advocacia-Geral da União], membros do Ministério
Público, 18 mil juízes – todos dizem que estão tendo restrições de salários
porque eles querem combater a corrupção. Talvez tenhamos 18 mil Moros [juiz Sérgio
Moro, da Operação Lava Jato].”
LAVA
JATO E OPERAÇÃO MÉTIS
Gilmar Mendes disse que as ações da Lava
Jato no Supremo deverão ser julgadas até ano que vem.
A demora no Supremo, segundo ele, é
normal. “Já tivemos muitas denúncias recebidas.
Esse processo prossegue e certamente, no
ano que vem, já iremos ter decisões do Supremo, ou condenações ou absolvições.”
Sobre a Operação Métis, deflagrada na
última semana pela Polícia Federal contra agentes da Polícia Legislativa,
Gilmar Mendes disse concordar com a posição do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), de que os agentes federais tinham que ter autorização do
STF para agir.
“Tendo a concordar com ele porque
medidas em relação ao Senado devem ser autorizadas pelo Supremo. Não tenho
segurança quanto a todos os elementos que envolvem esta operação, mas me causa
realmente espécie que tenha havido obstrução de investigação em matéria que
deveria ter sido determinada pelo Supremo. A mim me parece que pode ter havido
excessos aqui”,
disse.
ABUSO
DE AUTORIDADE
Mendes também comentou as declarações de
integrantes do Poder Judiciário sobre alterações na Lei de Abuso de Autoridade
(Lei 4.898/1965), que tramita no Congresso, e criticou os que são contrários à
mudança da norma.
“Não entendo porque se combate uma lei
de abuso de autoridade. Não consigo compreender. É muito alta para mim essa
ideia de combater uma lei de abuso de autoridade. Porque se pode dizer que o
projeto não é adequado, vamos modificar, mas o que se quer é não enfrentar uma
questão que existe tão acima de qualquer questionamento, de seus atos, dos atos
do juiz Moro, os atos dos demais juízes, os atos dos promotores, os atos dos
delegados”,
disse.
Na semana, o juiz federal Sérgio Moro
disse que a proposta é um “atentado à independência da magistratura”.
Para Mendes, o projeto que atualiza a
Lei de Abuso de Autoridade não está ligado à Operação Lava Jato.
“Essa lei não está voltada para ninguém
especificamente. Ela foi feita em 2009 e não podia prever a Lava Jato. Ninguém
está acima da lei. O projeto é esse e pode pegar desde o guarda de trânsito até
o presidente da República e permitir o enquadramento quando houver abuso. Não
entendo essa resistência quanto a um projeto de lei de abuso de autoridade.”
(FONTE: Agência Brasil)
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