Professor de Ciência Política da PUC-RJ,
Luiz Werneck Vianna avalia que as delações da Odebrecht têm tido repercussão
muito maior na imprensa do que nas casas dos brasileiros.
"É visível o silêncio das ruas em relação a tudo isso", afirma
Vianna, que já lecionou na Unicamp e na Universidade Federal de Juiz de Fora e
é autor de livros como A judicialização da política e das relações sociais no
Brasil (1999) e Democracia e os três poderes no Brasil (2002).
Para ele, a abertura de investigações
contra dezenas de líderes partidários citados pela empreiteira abre espaço para
outsiders na política, mas não deve provocar transformações tão radicais em
Brasília.
Em entrevista à BBC Brasil, ele afirma
que grandes partidos abalados pelas delações - como PT, PSDB e PMDB - deverão
passar por uma renovação, mas continuarão relevantes.
Leia a seguir os principais trechos da
entrevista:
BBC
Brasil - Quais consequências às delações da Odebrecht terão para o governo?
Luiz
Werneck Vianna
- O governo Temer deve sobreviver - acho
que ele deve cumprir o seu mandato.
E deve também fazer as reformas com as
quais vem se identificando.
O apoio do Congresso continua forte.
BBC
Brasil - A forma como a política é feita vai mudar? Haverá mudanças na relação
entre partidos e empresas?
Vianna - Isso certamente vai sofrer uma mudança
radical.
Mas não creio que esse expurgo da classe política assuma a mesma proporção que assumiu na Itália [após a Operação Mãos Limpas, nos anos 1990].
Mas não creio que esse expurgo da classe política assuma a mesma proporção que assumiu na Itália [após a Operação Mãos Limpas, nos anos 1990].
Vai
ser forte, mas não com a radicalidade da situação italiana.
Acho muito difícil que partidos mais enraizados, como PT, PSDB e PMDB, saiam do mapa.
Acho que eles ficarão, porque inclusive fora deles não há nada de novo surgindo.
Acho muito difícil que partidos mais enraizados, como PT, PSDB e PMDB, saiam do mapa.
Acho que eles ficarão, porque inclusive fora deles não há nada de novo surgindo.
BBC
Brasil - Novos partidos, como Rede, PSOL e Partido Novo, não são capazes de
preencher espaços?
Vianna
-
Dificilmente. Eles não têm quadros, não
têm programa.
O PSOL é muito parecido com o que o PT foi em determinado momento, com a denúncia da corrupção e [a defesa da] ética na política.
Mas qual o programa econômico do PSOL?
O PSOL é muito parecido com o que o PT foi em determinado momento, com a denúncia da corrupção e [a defesa da] ética na política.
Mas qual o programa econômico do PSOL?
BBC
Brasil - Com a crescente rejeição popular à política tradicional, há
possibilidade de surgimento de outsiders ?
Vianna - O outsider é uma possibilidade real - para o
bem e para o mal.
Tem
vários tentando furar esse nevoeiro e se projetar como alternativa.
Por ora, nenhum deles é muito atraente.
Por ora, nenhum deles é muito atraente.
BBC
Brasil - Haverá algum esforço dos grandes partidos para estancar danos?
Vianna - Acho que sim, a reforma política vem aí.
Não vem de forma muito aprofundada porque as circunstâncias não permitem.
Não vem de forma muito aprofundada porque as circunstâncias não permitem.
A
cláusula de barreira deve vir, assim como a interdição das coligações
eleitorais nas eleições proporcionais.
Isso
já tem um efeito muito saneador do quadro atual.
BBC
Brasil - Na história brasileira, momentos de grande turbulência - como as
revoltas do século 19 - se intercalam com momentos de acomodação de interesses
e transições pacíficas, como na Independência. Qual característica vai
predominar na crise atual?
Vianna
-
A grande massa, por ora - e isso pode
mudar -, está apenas sentindo e observando de longe esses fatos.
Esses
fatos têm tido muito peso, muita vocalização na mídia.
Uma
coisa que se tem de considerar na política brasileira hoje é que a mídia se
tornou ator político de peso considerável, mas ela não tem braço, não tem mãos.
Tem
apenas voz.
Não
tivemos ainda as crises da Regência [período de grande turbulência entre a
abdicação de dom Pedro 1º e o governo de seu filho, Pedro 2º].
Elas
(as pessoas) não estão se manifestando.
É visível o silêncio das ruas em
relação a tudo isso.
Mas
os partidos, as personalidades políticas sobreviventes podem procurar um
caminho de salvação mútua.
Isso
está em curso.
Será possível?
Não
sei, dependerá da habilidade e criatividade deles e, ao mesmo tempo, de que
aceitem perdas.
Esses
partidos não poderão mais ser o que eram, vão ter que passar por mudanças.
Haverá
uma renovação de pessoas.
Não
talvez com a carga necessária, porque se se olha toda movimentação que tem
havido, há pouquíssimos quadros novos.
Não surgiu quase ninguém [com os
protestos] em junho de 2013.
A
política brasileira tem sido muito pouco permeável a novas lideranças.
Essa
hora poderá ser a da grande mudança geracional?
Tomara,
mas depende de como vem essa geração.
Porque,
a tomar por algumas manifestações, elas não suscitam muita esperança.
BBC
Brasil - O grande público não está tão abalado pelos acontecimentos?
Vianna - Se olharmos o registro das ruas, acho que
não.
BBC
Brasil - Como a situação atual se compara com outros grandes momentos da
história brasileira?
Vianna - Certamente tudo isso vai ser lembrado.
Agora,
o que temos de novo aí?
Primeiro
o protagonismo da mídia.
Segundo,
do Judiciário.
Ambos
parecem que vieram para ficar.
Mas a política deve reagir a isso.
Mas a política deve reagir a isso.
O
Brasil é muito grande.
É
muito diverso.
É
muito difícil haver formas muito vertebradas de expressão, no sentido de que
unifiquem classes e regiões, dada a diversidade e a desigualdade existentes.
(BBCBRASIL.COM)
(BBCBRASIL.COM)
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