Os “clientes” da quadrilha suspeita de
fraudar pelo menos 40 concursos públicos em seis estados do Nordeste eram
contatados principalmente em cursinhos e por meio das redes sociais, segundo
informou o delegado de Defraudações e Falsificações (DDF) de João Pessoa, Lucas
Sá, nesta segunda-feira (08/05).
O grupo cobrava até “150 mil reais” por
'kit completo' de aprovação em concursos e pelo menos 400 aprovados pagaram “18
milhões de reais” à quadrilha, em 6 estados do Nordeste.
O esquema foi desarticulado pela Polícia
Civil da Paraíba no domingo (07).
Segundo a polícia, 19 pessoas foram
presas, entre elas dois irmãos em um condomínio de luxo, apontados como líderes
do grupo e já aprovados em 29 concursos.
Outros envolvidos foram presos durante
um concurso do Ministério Público do Rio Grande do Norte.
“São muitas as maneiras, mas as principais
são pelo Facebook, WhatsApp e indicação de pessoas de cursinhos. Vários desses
professores [presos] são professores de cursinho. Então eles acabam indicando a
organização para os alunos desses cursos e fazendo a proposta de ingressar no
esquema fraudulento”, disse o delegado.
O delegado afirma que as fraudes
começaram em 2005, em concursos na Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do
Norte, Sergipe e Piauí.
“Tomando como base o menor valor informado
até o momento, podemos concluir que, no mínimo, a organização consegue obter a
quantia de ‘300 mil reais’ por concurso".
Muitos dos "clientes"
procuravam o esquema por meio de indicações de amigos.
Mas também havia casos em que os
integrantes do esquema entravam em contato com pessoas que estavam em grupos de
concursos e cursinhos em redes sociais, que eram "clientes" em
potencial, para fazer a proposta, segundo o titular da DDF.
Lucas Sá informou que, entre os
documentos, também foram apreendidos gabaritos e provas do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) 2016.
A Polícia Civil ainda vai investigar se
também houve fraude no exame.
'KIT
COMPLETO' DE APROVAÇÃO CUSTAVA 150 MIL REAIS
De acordo com as investigações, o grupo
cobrava até “150 mil reais” para vender o "kit completo" de
aprovação.
Os suspeitos fraudavam documentos para
facilitar empréstimos para pagar a fraude, diplomas para ingresso no cargo e
gabarito da prova.
Segundo o delegado, para o esquema ser
executado o grupo precisava que pelo menos dez candidatos do concurso
comprassem o gabarito.
“É cobrado, em média, o valor correspondente
a 10 vezes o salário inicial do cargo pleiteado, de maneira que cada candidato
interessado repassa a quantia de ‘30 mil reais a 150 mil reais’ para a
organização criminosa”, explica Lucas Sá.
O esquema funcionava por meio de escutas
e transmissões eletrônicas durante a aplicação das provas.
Parte dos suspeitos ficava na casa onde
os líderes do grupo foram presos, em João Pessoa, e eram responsáveis por
receber as informações das provas de outros integrantes do grupo que faziam as
provas.
“Eles repassavam as informações para os
‘professores’, que respondiam as questões e mandavam os gabaritos para os
candidatos”, explica Lucas Sá.
Além dos suspeitos presos na capital
paraibana, outros integrantes foram detidos no domingo no Rio Grande do Norte,
durante a aplicação das provas do concurso público do Ministério Público do Rio
Grande do Norte.
De acordo com Lucas Sá, os suspeitos
estavam com pontos eletrônicos no ouvido, que foram apreendidos durante a
operação.
“Diversos suspeitos ocupam atualmente cargos
públicos em importantes instituições, além de ter acesso frequente a outros
servidores, aprovados por meio da atuação da organização criminosa, motivo pelo
qual conseguiam acesso à estrutura de poder de diversos órgãos públicos e
instituições”, completa Lucas Sá.
IRMÃOS
JÁ ACUMULAVAM 29 APROVAÇÕES
Os dois irmãos apontados pela Polícia
Civil como líderes da quadrilha acumulam, juntos, 29 aprovações em concursos.
Flávio Nascimento Borges, de 34 anos, e
Vicente Fabrício Borges, de 32 anos ainda seriam responsáveis por uma empresa
de fachada situada na cidade de Santa Rita, na Região Metropolitana de João
Pessoa.
De acordo com o delegado, a empresa
seria utilizada para possível lavagem de dinheiro dos valores obtidos com o
esquema.
“No endereço cadastrado como sendo da
empresa, não existe nenhuma referência ao prédio, sendo que sequer existe o
número do prédio apontado como sendo endereço”, explica.
Flávio Nascimento foi aprovado em 15
concursos, incluindo os da Prefeitura Municipal de Campina Grande, em 2015, e o
da Polícia Militar de Alagoas, no qual ele acumula, respectivamente, os cargos
de fiscal de obras e de cabo da PM.
Em um dos concursos, para a Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), o suspeito chegou a ser classificado e aprovado em
dois cargos.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o
irmão de Flávio Nascimento, Vicente Borges, chegou a ser aprovado em 11
concursos e também acumula cargo de policial militar em Alagoas com o de
servidor da Prefeitura Municipal de Santa Rita.
A polícia vai investigar se a classificação dos dois nos 29 concursos teria sido feita de forma fraudulenta.
A polícia vai investigar se a classificação dos dois nos 29 concursos teria sido feita de forma fraudulenta.
Concursos
que teriam sido fraudados pelo grupo
Ano
- Concurso – Empresa Organizadora
2005 - Companhia Brasileira de Trens
Urbanos (CBTU)
2006 - Câmara Municipal de João Pessoa -
Funiversa
2008 - Polícia Militar da Paraíba -
UEPC/Comvest
2008 - Fundac/PB - Cespe
2009 - Polícia Civil do Rio Grande do
Norte - Cespe
2010 - Guarda Municipal de Cabedelo -
IBFC
2010 - Detran/RN - Fundação Getúlio
Vargas
2011 - Concurso da Coperve - IFPB
2012 - Guarda Municipal de Bayeux -
Contemax Consultoria
2012 - Guarda Municipal de João Pessoa -
IBFC
2012 - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Alagoas
2012 - Prefeitura Municipal de Santa
Rita - Asperhs
2012 - Universidade Federal de Alagoas
(UFAL) - Fundepes
2013 - Oficial do Corpo de Bombeiros da
Paraíba - CPCON/UEPB
2013 - Assembleia Legislativa da Paraíba
- Fundação Carlos Chagas
2013 - Detran/PB - Funcab
2013 - Departamento Penitenciário
Nacional - Cespe
2013 - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB
2014 - Corpo de Bombeiros da Paraíba -
IBFC
2014 - Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB) - CPCon
2014 - CFO Polícia Militar da Paraíba -
Funape
2014 - Concurso Conab1
2014 - Concurso de agente da Polícia Federal
- Cespe
2014 - Polícia Rodoviária Federal -
Cespe
2014 - Câmara Municipal de Cabo de Santo
Agostinho
2014 - Tribunal Regional do Trabalho 13ª
Região - Fundação Carlos Chagas
2015 - Ministério Público da Paraíba -
Fundação Carlos Chagas
2015 - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB
2015 - Prefeitura Municipal de Campina
Grande - CPCON/UEPB
2015 - Tribunal Regional Eleitoral de
Sergipe - Fundação Carlos Chagas
2016 - Prefeitura Municipal de João
Pessoa - Quadrix
2016 - Prefeitura Municipal do Conde -
Advise
2016 - Tribunal Regional Eleitoral da
Paraíba - Fundação Carlos Chagas
2016 - Prefeitura Municipal de Alhandra
- Educa - Assessoria Educacional
2016 - Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) - Fundação Getúlio Vargas
2016 - Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) - Covest
2016 - Concurso Contemax
2016 - Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh) - Instituto AOCP
2016 - Universidade Federal Rural de
Pernambuco - UFRPE
2017 - Ministério Público do Rio Grande
do Norte (MPRN) - Comperve/RN
(Por G1 PB)
(Por G1 PB)
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