As redes sociais foram inundadas com
notas do governo do estado, juízes da
infância, tribunal de justiça e sindicato dos trabalhadores da Fundac sobre o
massacre no Lar do Garoto, em Lagoa Seca, que culminou com a morte de sete
infratores.
Nas notas, o governo do estado e os
juízes da infância, se eximem de culpas.
Já a nota do tribunal de justiça é de
restrita solidariedade aos juízes.
Por fim uma nota do sindicato dos trabalhadores
da Fundac encontrou um culpado: a própria fundac.
SEGUEM ABAIXO AS NOTAS
NOTA
DO GOVERNO DO ESATADO
O Governo do Estado da Paraíba vem a
público lamentar o ocorrido na unidade Lar do Garoto, neste sábado (03), e
informar que tomará todas as providências cabíveis para apuração exata de todo
o fato e, consequentemente, punição, no âmbito administrativo, dos responsáveis
por eventuais omissões, negligências ou excessos.
No entanto, não admitirá que instituição
alguma se revista do direito absoluto da verdade e possa apontar o dedo
acusatório sem antes mesmo olhar-se no espelho.
Este é um problema que chama todas as
instâncias de poder à responsabilidade, incluindo o Poder Judiciário que tem a
obrigação, por exemplo, de respeitar os prazos para liberação dos menores
infratores com internações cumpridas, combatendo a superlotação nesta e em
outras unidades.
A Unidade Lar do Garoto oferece aulas,
atividades ocupacionais e profissionalizantes (pastelaria, confeitaria,
confecção de sapatos, bombeiro hidráulico), inclusive em parceria com o
Ministério Público do trabalho.
Existem, no entanto, dezenas de pedidos
de liberação sem apreciação por parte do Judiciário.
E internos que já ultrapassaram o tempo
legal de internação.
Mesmo assim, o Estado não foge as suas
responsabilidades e não busca, na tentativa de esconder as próprias carências,
transferir exclusivamente para um ou outro poder ou segmento as causas de um
problema que é bem mais complexo.
A questão da vulnerabilidade dos jovens
é um problema que demanda esforços de todos os entes federados, desde à União,
com uma política nacional sólida, até, e principalmente, aos municípios, que
deveriam contribuir com uma política profunda nos campos da educação, esporte,
cultura e lazer.
Este, por sua vez, é um governo que já
entregou e está construindo escolas técnicas estaduais profissionalizantes; que
já entregou mais de 2.500 novas salas de aulas, muitas delas em escolas cidadãs
integrais; que construiu centros de convivência coletiva como o Parque
Bodocongó, em Campina Grande, além de centros esportivos como a Vila Olímpica,
em João Pessoa; que forma centenas de crianças e adolescentes no Programa de
Inclusão Através da Músicas e Artes (PRIMA); que já enviou adolescentes das
escolas públicas para intercâmbio no Canadá, entre tantos outros programas e
ações, e que foi o único estado do Brasil a reduzir por cinco anos seguidos o
índice de homicídios.
Por fim, longe do debate reducionista
que venha a ser apresentado, o governo se solidariza com as famílias das
vítimas da rebelião causada após contenção de fuga na unidade e reafirma seu
compromisso em continuar lutando pela garantia de oportunidades para nossas
crianças e jovens. Com clareza e coragem. E sem hipocrisia.
NOTA
DOS JUÍZES DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA PARAÍBA
Nós, juízes da infância e Juventude do
Estado da Paraíba, abaixo assinados, em face da rebelião ocorrida na unidade de
internação de adolescentes denominada “Lar do Garoto”, na Comarca de Campina
Grande-PB, que vitimou 9 adolescentes, 7 mortos (carbonizados e esquartejados)
e 2 gravemente feridos, vimos a público expressar nossa indignação pela grave
violação dos direitos fundamentais dos adolescentes que estão sob custódia do
Estado e preocupação com o atual estado das unidades de internação da Paraíba,
nos seguintes termos:
O massacre ocorrido na unidade de
internação de responsabilidade do Poder Executivo Estadual decorre do total
descaso do Estado e da sociedade com o tratamento digno de crianças e
adolescentes marginalizados e abandonados à própria sorte, sem políticas públicas,
apoio familiar e comunitário que busquem a retirada dessas pessoas ainda em
formação reeducativa da delinquência e da exclusão social.
Assim como os presídios brasileiros
estão dominados por organizações criminosas, as unidades de internação de adolescentes
também são palco de disputas de facções e do recrudescimento da violência,
inexistindo por parte do Poder Executivo Estadual, responsável pelas unidades,
investimentos estruturais e em políticas de ressocialização dos adolescentes e
programas de inclusão social para aqueles que deixam as unidades, após o
cumprimento das medidas socioeducativas.
A delinquência juvenil tem aumentado nos
últimos anos e não houve qualquer investimento para ampliação e reestruturação
das unidades de internação.
No Lar do Garoto, havia 48 adolescentes
apreendidos provisoriamente e 152 cumprindo sentença definitiva de internação
por homicídio (28), latrocínio (02), estupro de vulnerável (05), roubo
qualificado (88), tráfico de drogas (08), furto (07), porte ilegal de arma
(03), ofensa física (01), além dos transferidos de outras unidades.
Na visão dos juízes da Infância e
Juventude, abaixo assinados, o Tribunal de Justiça e o Poder Executivo Estadual
devem iniciar tratativas urgentes para reestruturação das Unidades e das Varas
da Infância, com vistas a possibilitar o tratamento integrado de ações e,
principalmente, evitar tragédias como a do Lar do Garoto, cuja probabilidade de
acontecer em outras unidades de internação, também superlotadas, é iminente.
Uma das consequências diretas desse
quadro generalizado de desrespeito às condições mínimas de dignidade é a
cooptação cada vez mais precoce desses adolescentes por facções criminosas,
inviabilizando por completo sua ressocialização e aumentando exponencialmente
suas chances de reincidência infracional.
Ressaltamos, ainda, ser imprescindível
que o Tribunal de Justiça priorize a instalação de varas exclusivas da infância
e juventude, além de melhorar a assessoria dos juízes com equipes
interdisciplinares, a fim de tornar efetiva a prioridade absoluta reconhecida
constitucionalmente, para que possamos intervir de forma eficaz nesse cenário.
Finalmente, os juízes se solidarizam com
as famílias que perderam seus filhos que estavam sob a responsabilidade do
Estado e lamentam profundamente essa grave violação aos direitos humanos no
sistema socioeducativo.
Adriana Lins de
Oliveira Bezerra – Juíza da 2ª Vara de Cajazeiras-PB
Algacyr
Rodrigues Negromonte – Juiz da Infância e Juventude de Campina Grande-PB
Andrea
Costa Boto Targino – Juíza da 2ª Vara de Monteiro-PB
Antônio
Eugênio Leite Ferreira Neto – Juiz da 2ª Vara de Itaporanga-PB
Antônio
Silveira Neto – Juiz da Infância e Juventude de Cabedelo-PB
Brunna
Melgaço Alves – Juíza da Comarca de Barra de Santa Rosa-PB
Bruno
Medrado dos Santos – Juiz da Comarca de Serra Branca-PB
Candice
Queiroga de Castro Ataíde – Juíza da 2ª Vara Mista de Pombal-PB
Caroline
Silvestrini de Campos Rocha – Juíza da Comarca de Uiraúna-PB
Fábio
Brito de Faria – Juiz da Comarca de Araçagi-PB
Fernanda
Paz – Juíza da infância e juventude de Catolé do Rocha
Flavia
Fernanda Aguiar Silvestre – Juíza da Comarca de Pirpirituba-PB
Graziela
Queiroga Gadelha de Sousa – Juíza da Comarca de Lucena-PB
Henrique
Jorge Jácome – Juiz Auxiliar da Infância e Juventude de João Pessoa-PB
Hugo
Gomes Zaher – Juiz Auxiliar da Infância e Juventude de Campina Grande-PB
Isabella
Braga Guimarães de Melo – Juíza da 2ª Vara de Inga-PB
Israela
Cláudia da Silva Pontes – Juíza da 4ª Vara de Santa Rita-PB
Jailson
Shizue Suassuna – Juiz da Comarca de Bananeiras-PB
Jeremias
de Cassio Melo - Juiz da Infância e Juventude de Sousa-PB
João
Lucas Souto Gil Messias – Juiz da Comarca de Sumé-PB
José
Jackson Guimarães – Juiz da Comarca de Alagoa Grande-PB
Juliana
Dantas – Juíza da Comarca de Remígio-PB
Kleyber
Thiago Trovão Eulálio – Juiz da Comarca de Conceição
NOTA
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA
O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA vem a
público lamentar o ocorrido na unidade de cumprimento de medida socioeducativa
LAR DO GAROTO PADRE OTÁVIO SANTOS, situado na cidade de Lagoa Seca –
pertencente à Comarca de Campina Grande – e se solidarizar com os familiares
das vítimas adolescentes que faleceram em decorrência da rebelião naquele
estabelecimento na madrugada deste sábado, dia 03 de junho, ao tempo em que
reconhece o trabalho operoso do Juiz de Direito titular da Vara Privativa da
Infância e da Juventude de Campina Grande, Dr. ALGACYR RODRIGUES NEGROMONTE,
que tem envidado esforços para fazer cumprir a Lei nº 12.594/2012, que
instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE e enfatizar
que a responsabilidade pela administração de tais Unidades é do Poder
Executivo, e que o problema da superlotação pode ser resolvido com a construção
de novas unidades para cumprimento de medida socioeducativa de internação,
nomeação e capacitação de servidores.
Desembargador JOÁS DE BRITO PEREIRA
FILHO
Presidente
NOTA
DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DA FUNDAC
O Sindicato dos Trabalhadores da
Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente ‘Alice de Almeida’ –
SINTAC, em face da tragédia ocorrida no sábado, dia de 03 de junho, na Unidade
de Internação Lar do Garoto Padre Otávio Santos, localizada no município de
Lagoa Seca, neste Estado da Paraíba, que culminou na morte de 07 (sete)
adolescentes, 02 (dois) gravemente feridos, além da evasão de mais de 10 (dez)
internos, vem por meio desta, expressar seu total REPÚDIO e INDIGNAÇÃO pela
gravidade dos fatos ocorridos, em mais uma flagrante violação dos direitos
fundamentais dos adolescentes e jovens que se encontram sob custódia do Estado,
bem como ao risco que os servidores das unidades passaram e continuam passando
em seu dia-a-dia.
Ressalte-se que o SINTAC, legítimo
representante da vontade e do sentimento da categoria, tem sido sempre atuante,
fiscalizador na socioeducação em nosso Estado, tentando dialogar e auxiliar os
gestores da Fundação em tarefa tão importante e difícil. Entretanto, estamos em
um momento no qual a ‘socioeducação’ no Estado da Paraíba tem que ser
reavaliada e encarada com mais seriedade por todos os envolvidos, devendo-se
colocar em prática ações eficazes para sair da crise atual vivida no sistema.
A rebelião no Lar do Garoto, assim como
as inúmeras rebeliões e fugas ocorridas nos últimos 09 (nove) meses, nas
Unidades Centro Educacional do Jovem – CEJ, Casa Educativa e no Centro
Socioeducativo Edson Mota – CSE, bem como a morte de um adolescente, na
‘última’ rebelião no CSE, poderiam ter sido evitadas, mas passaram totalmente
despercebidas pelo Poder Executivo Estadual, por meio da FUNDAC, apesar dos
insistentes avisos e alertas do SINTAC e dos demais órgãos, como o Conselho
Estadual de Direitos Humanos.
E por não reconhecer a sua falha, o
Governo do Estado da Paraíba, representando pela FUNDAC, órgão gestor do
sistema socioeducativo, lamentavelmente foi o responsável pela maior rebelião,
maior massacre da história da FUNDAC, quando em toda a sua existência, nunca
fatos tão graves como o que ocorrera, resultou na morte de 07 (sete)
adolescentes que estavam sob a sua custódia. Repita-se: Nunca na história da
FUNDAC, desde o seu tempo de FEBEMAA, uma rebelião resultou na morte de 07
(sete) internos!
É preciso dar um basta nessa situação!
Não há que se falar em ‘socioeducação’
em nosso Estado!
É preciso parar de querer se isentar ou
diminuir a sua responsabilidade, parar de hipocrisia, mas de reconhecer o erro,
pedir a ajuda e a colaboração dos demais poderes, órgãos e instituições que
participam do sistema socioeducativo paraibano e sair do caos vivenciado!
Infelizmente, o que se vê são apenas
‘depósitos’ de adolescentes e jovens que estão para serem responsabilizados
pelos atos infracionais cometidos, privados de sua liberdade, mas que possuem
direitos também, como o maior de todos que é o direito à vida.
A FUNDAC tem que parar de não reconhecer
que há problemas em todas as Unidades de superlotação, péssimas condições dos
quartos e alas dos internos, falta de materiais básicos de higiene, ausência de
profissionalização, escola deficitária (aula uma vez por semana) e a eterna
problemática dos agentes socioeducativos, que ainda não foi resolvida mesmo com
a realização de Processo Seletivo Simplificado.
O SINTAC também faz o convite ao Poder
Executivo Estadual e a FUNDAC, ao Poder Judiciário, ao Ministério Público
Estadual e Federal, à Defensoria Pública Estadual e da União, ao Grupo de
Trabalho (GT SINASE), ao Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, ao
Conselho Estadual de Direitos Humanos, às entidades de classe e aos demais
órgãos e instituições que participam do Sistema Socioeducativo deste Estado,
para que seja realizada uma reunião, com a extrema urgência que o caso requer,
para que mais do que a competência, a atribuição, a responsabilidade acerca da
causa seja tratada, mas, sobretudo, para que os caminhos da socioeducação em
nosso Estado sejam efetivamente discutidos e colocados em prática!
Por fim, o SINTAC lamenta imensamente a
perda de mais 07 (sete) adolescentes que estavam sob a guarda do Estado,
solidariza-se com as famílias que perderam seus entes em profunda violação aos
Direitos Humanos, ao mesmo tempo, reafirma a sua luta, a sua dedicação diária
na perspectiva de que em muito breve a categoria seja efetivamente ouvida e
possamos viver uma verdadeira socioeducação neste Estado da Paraíba!
A direção.
se fosse um pai de familia que tivesse sido assasinado por esses bandido não teria tanto juizes com essa lei de direitos humanos
ResponderExcluirdireitos humanos devem ser para humanos direitos,aí nesse "lar" só têm lixo!!!
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