O Ministério Público Federal (MPF)
cobrou do Ministério da Integração Nacional que fiscalize o rompimento em
trecho do canal do Projeto de Integração do Rio São Francisco ocorrido no
último sábado (10/06), em Custódia (PE), para saber se houve erro de execução
ou de projeto no ponto danificado.
O rompimento ocorreu no Eixo Leste e o
reparo definitivo foi feito em 72 horas.
O pedido foi fundamentado em inquéritos
civis públicos que indicam a possibilidade de falhas na construção de outros
trechos do projeto da transposição.
A preocupação foi exposta pela
procuradora da República Polireda Medeiros, integrante do Grupo de Trabalho
Revitalização do Rio São Francisco, da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural do MPF, durante reunião, ontem (13), em Brasília, com o secretário de
Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional, Antônio de Pádua,
e integrantes do Comitê de Gestão de Recursos Hídricos (CGRH) do Ministério
Público da Paraíba.
A reunião tratou do rompimento do canal
e as consequências para o abastecimento de água de Campina Grande, atualmente
dependente do abastecimento gerado pelo sistema da transposição, em fase de
testes.
O trecho danificado em Custódia foi
filmado e repercutido nas redes sociais.
O vídeo mostra um buraco de grande
proporção que interrompeu a passagem da água no canal e desviou o fluxo em
direção à vegetação lateral à estrutura.
O acidente não deixou vítimas e o trecho
já foi consertado, de acordo com o Ministério da Integração.
“A preocupação do Ministério Público Federal
é para alertar, pedir que o ministério [Ministério da Integração Nacional]
preste a devida atenção a essas questões de erros de projeto e execução, e que
eles avaliem se existem e em que medida existem, para que haja a devida
prevenção. E que se possa evitar novos acidentes”, disse a procuradora.
De acordo com ela, a Procuradoria da
República em Garanhuns abriu dois inquéritos civis públicos que indicam falhas
na construção do canal.
INQUÉRITOS
CIVIS
Um dos inquéritos abertos pelo MPF trata
do rompimento ocorrido, em março, em uma barragem do projeto de integração
localizada em Sertânia (PE).
De acordo com Polireda Medeiros, laudo
da área técnica do MPF indicou, como provável causa, falhas no projeto de
construção do reservatório, que não incluía duas exigências técnicas
necessárias para o tipo de estrutura.
A outra investigação foi iniciada em
2014 e trata de fiscalização feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e a
então Controladoria-Geral da União (CGU) em toda a extensão do Eixo Leste do
sistema, em que foram constatadas falhas de execução e de fiscalização das
obras.
“Diante de dois acidentes no mesmo ano, do
que foi apurado, não se pode afirmar que foi episódico. Também não estou
afirmando que existam falhas incorrigíveis e que haverá um grande desastre. Mas
é possível se recomendar prudência. É necessário que o ministério adote medidas
de regularização, porque existem irregularidades”, argumentou.
Há ainda outros problemas apontados pelo
MPF, como a ausências de plano de segurança e de plano de ação em caso de
emergência para todas as barragens da transposição localizadas na Paraíba.
Ainda de acordo com a procuradora, o
secretário se mostrou “empenhado” em resolver as questões.
Segundo o MPF, foi decidido, durante a
reunião, que os planos de segurança das barragens da Paraíba serão encaminhados
à Agência Nacional de Águas (ANA) em até três meses, e que as 12 barragens do
Eixo Leste passarão por diagnóstico de um consultor externo.
Também foi acertado que o Ministério da
Integração Nacional reforçará a fiscalização no sistema e dará acesso integral
ao Ministério Público Federal na Paraíba aos projetos que fazem parte da obra.
RESPOSTA
DO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO
O Ministério da Integração Nacional
enviou resposta à Agência Brasil informando que todos os planos de segurança
das barragens que fazem parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco
estão sendo readequados, mas que todas as estruturas de engenharia do sistema
são monitoradas 24 horas e qualquer eventualidade é solucionada rapidamente.
Também esclareceu que o sistema está em
fase de pré-operação e que nesta fase ocorrem os testes e ajustes necessários.
Sobre os inquéritos civis públicos
abertos no âmbito do MPF, o ministério esclarece que eles tratam de problemas
identificados pelo TCU em acórdãos referentes à gestão do governo anterior, mas
que tem prestado esclarecimentos ao Ministério Público Federal a respeito das
irregularidades.
Ainda de acordo com o ministério, os itens
mencionados pelo MPF como resultado da reunião em Brasília, “já
fazem parte da rotina dos procedimentos técnicos das equipes responsáveis pelas
obras do Projeto São Francisco”.
Destacou ainda que o vazamento
registrado no Canal Leste foi rapidamente controlado e já voltou a levar água
ao município de Campina Grande.
(Agência Brasil)
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