Os tumultos ocorridos nessa quinta-feira
(01/06), na sede da Federação Paraibana de Futebol (FPF), não envolveram apenas
a tentativa do vice-presidente Nosman Barreiro de assumir o comando da entidade
no lugar do presidente Amadeu Rodrigues, que estava na França a serviço da CBF.
Um episódio de intolerância religiosa e
de racismo foi mais um grave incidente neste cenário caótico que empobrece o
futebol paraibano, a ponto de um dos principais símbolos do
catolicismo brasileiro ter sido chamado de "neguinha macumbeira".
Nosman Barreiro, seus advogados e
aliados já haviam entrado na sede da FPF e chamado um chaveiro para abrir as
portas da sala presidencial (pois os advogados e aliados de Amadeu Rodrigues se
recusaram a lhes entregar as chaves que dariam acesso a todos os espaços do
prédio), quando um ato aparentemente criminoso roubou a cena por alguns
instantes.
O episódio foi praticado por uma aliada
de Nosman Barreiro.
Há desencontro de informações sobre ela
ser secretária ou irmã do vice-presidente - ou as duas coisas.
Fato é que o tempo todo, durante o
tumulto, ela esteve apoiando o ato do dirigente e, por vezes, o orientando
sobre o que ele devia dizer à imprensa.
Nosman estava sentado à mesa de
presidente da FPF, onde já havia identificado a imagem de Nossa Senhora
Aparecida, considerada pelos católicos como a padroeira do Brasil (santa da
qual o presidente Amadeu Rodrigues é devoto).
Antes que Nosman iniciasse o seu
pronunciamento, a sua aliada fez questão de retirar a imagem, que estava presa
à mesa com fita adesiva.
Nosman, aparentemente, até tentou
impedi-la.
Mas não conseguiu.
E enquanto ela se desvencilhava do
símbolo religioso, deixava claro, falando em voz alta, que não queria que a
santa aparecesse ao lado de Nosman em seus primeiros instantes como suposto
presidente.
“Vamos tirar ela daqui. Porque... ela aqui
não. Não, deixa ela aqui atrás. A gente só adora uma coisa: Deus. Deixa ela
aqui - alardeava a mulher, em tom agressivo, enquanto levava a santa para um
dos sofás do recinto”.
Logo após alojar a imagem no canto de um
dos sofás, aos olhos de dirigentes, advogados e profissionais da imprensa, a
aliada de Nosman ainda se propôs a um último ajuste na "acomodação"
da santa.
A mulher tratou de colocar o símbolo
religioso de costas para os presentes.
Ainda em meio a alguns comentários
rápidos sobre o embate político que era travado naquela sala, a mulher
vociferou as últimas palavras da sua manifestação de intolerância religiosa e
racismo:
“Tá repreendido. Botaram a neguinha
macumbeira pra cá ", finalizou.
Feito isso, Nosman fez o seu
pronunciamento na condição de presidente, cargo que ele se autodeclara assumir
desde então. Falou das providências que pretende tomar à frente da FPF, o tempo
todo ladeado pela mulher, sua aliada e declarada opositora de Nossa Senhora
Aparecida.
Uma vez terminada a fala de Nosman e já
passada, inclusive, a declaração do diretor jurídico da FPF, Marcos Souto Maior
Filho – que , por procuração, é o atual presidente da entidade – a mulher voltou à tona.
Resgatou a imagem da santa no canto do
sofá.
Recolocou-a na mesa presidencial.
Deixou a principal sala da Federação.
E, no fim das contas, o símbolo
religioso seguiu em sua espécie de "altar improvisado".
(Por Cadu Vieira, João Pessoa)
ENTENDA
O CASO
Tudo começou por volta das 16h00 desta
quinta-feira.
O vice-presidente Nosman Barreiro chegou
à entidade acompanhado de seu advogado e de alguns aliados, dizendo que iria
tomar posse como novo presidente da FPF.
A confusão, como não poderia ser
diferente, foi generalizada.
E os aliados do presidente Amadeu
Rodrigues reagiram.
De acordo com Nosman Barreiro, o
presidente deveria ter lhe passado o cargo quando viajou para a França, para
onde foi como chefe da delegação da CBF no Torneio de Toulon, disputado pela
Seleção Sub-20.
Como isso não aconteceu, a entidade
teria ficado acéfala, de forma que ele poderia requerer o cargo que tinha
ficado vago.
Amadeu, obviamente, discorda de seu
vice.
Diz que tudo não passa de mais uma
tentativa de seu ex-aliado de assumir o poder à força e que tinha deixado com o
seu diretor jurídico, Marcos Souto Maior Filho, uma procuração que lhe
transmitia provisoriamente o cargo de presidente.
Ele diz que está voltando imediatamente
à Paraíba para reassumir o seu cargo.
Amadeu Rodrigues e Nosman Barreiro foram
eleitos presidente e vice-presidnete da FPF respectivamente em 12 de dezembro
de 2014, com 52,85% dos votos, em uma chapa apoiada pela ex-presidente Rosilene
Gomes, que tinha sido afastada do cargo meses antes.
Eles tomaram posse em 2 de janeiro do
ano seguinte.
Entretanto, Nosman conta que quatro
meses depois os dois romperam relações e, por isso, ele se manteve afastado da
entidade.
(Por Phelipe Caldas, João Pessoa)
(Todos os créditos: Cadu Vieira, Phelipe Calodas/Globo Esporte PB)
Fotos: Cisco Nobre
Mulecagem
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