O presidente Michel Temer afirmou na
tarde desta terça-feira (27/06) que não há provas concretas na denúncia por
corrupção passiva contra ele apresentada nesta segunda (26) ao STF pela
Procuradoria Geral da República.
Segundo ele, a peça acusatória é uma
"ficção".
Foi a primeira fala de Temer desde que a
denúncia foi apresentada, na noite desta segunda.
Ele fez o pronunciamento no Salão Leste
do Palácio do Planalto.
O presidente chegou ao local acompanhado de diversos
ministros e parlamentares da base aliada, que se postaram de pé ao lado do
presidente em sinal de apoio.
"Somos vítimas dessa infâmia de
natureza política. [...] Fui denunciado por corrupção passiva sem jamais ter
recebido valores. Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores?
Inexistem", afirmou o presidente.
Na denúncia, Rodrigo Janot afirmou que
as provas de que Temer recebeu dinheiro de propina são "abundantes".
Antes da denúncia, em um relatório
elaborado após as investigações, a Polícia Federal afirmou que as provas
colhidas no inquérito indicam "com
vigor" que Temer praticou corrupção.
"Criaram uma trama de novela. Digo
sem medo de errar que a denúncia é uma ficção. [...] Tentaram imputar a mim um
ato criminoso e não conseguiram porque não existe, jurídica ou politicamente",
complementou.
Em outro momento do pronunciamento,
Temer se disse tranquilo, do ponto de vista jurídico.
Isso porque, para ele, não há
fundamentos que embasem a denúncia.
"Não me impressiono muitas vezes
com o fundamento ou até com a falta de fundamento jurídico. Sei quando uma
matéria é substanciosa, quando tem fundamento jurídico e quando não tem. Então,
sob o foco jurídico, minha preocupação é mínima", afirmou o
presidente.
Segundo ele, acrescentou-se ao direito
penal "uma nova categoria: a denúncia por ilação".
Além da denúncia por corrupção, Temer e
Rocha Loures são investigados em inquérito por obstrução de justiça e
organização criminosa.
Por isso, existe a possibilidade de que,
nos próximos dias, ambos sejam alvos de duas novas denúncias da PGR.
No pronunciamento, o presidente criticou
o eventual fatiamento da denúncia.
Para Temer, a estratégia de Rodrigo
Janot visa "paralisar o país".
"Ainda se fatiam as denúncias para
provocar fatos semanais. Querem paralisar o país, querem paralisar o governo",
criticou Temer.
Ao finalizar o discurso, Michel Temer
disse que não permitirá que o acusem de crimes.
"Não fugirei das batalhas. Nem da
guerra que temos pela frente".
A acusação formal contra ele foi enviada
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal
(STF) na noite de segunda-feira (26), por volta das 20h00.
No mesmo dia, Temer se reuniu a portas
fechadas com ministros e aliados políticos até pouco depois das 23h00.
Nesta terça, a habitual reunião pela
manhã no gabinete presidencial com assessores e ministros próximos não foi
realizada.
Temer permaneceu durante a manhã no
Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, local onde reside.
É a primeira vez na história do Brasil
que um presidente da República foi denunciado por corrupção durante o exercício
do mandato.
Entre os parlamentares presentes estava
Alceu Moreira (PMDB-RS), um dos cotados para ser indicado relator da denúncia
contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Também estiveram presentes os deputados
Nelson Marquezelli (PTB-SP), Ricardo Izar (PP-SP), Jovair Arantes (PTB-GO),
Darcísio Perondi (PMDB-RS), Hugo Motta (PMDB-PB), Mauro Pereira (PMDB-RS),
Izalci Lucas.(PSDB-DF), Pedro Paulo (PMDB-RJ) e Alfredo Kaefer (PSL-PR), além
do presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Elmar Nascimento
(DEM-BA).
Antes de a denúncia ser apreciada pelo
STF, caberá à Câmara (primeiro, na CCJ e, depois, no plenário) decidir sobre o
prosseguimento da acusação.
A
DENÚNCIA
A denúncia foi baseada na delação de
executivos da JBS.
O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, afirma que, "com vontade
livre e consciente", Temer "recebeu
para si, em razão de sua função", por intermédio do ex-deputado
Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), atualmente preso, “500 mil reais” oferecidos
pelo grupo J&F, ao qual pertence o frigorífico JBS, do empresário Joesley
Batista.
Além disso, de acordo com a acusação,
Michel Temer e Rocha Loures aceitaram ainda a promessa de vantagem indevida no
montante de “38 milhões de reais” para atuação em defesa dos interesses da
empresa.
O Ministério Público Federal
reconstituiu todos os fatos, do encontro entre Joesley Batista e Temer no
Palácio do Jaburu até a entrega de uma mala com “500 mil reais” a Rocha Loures
em São Paulo.
(Por Fernanda Calgaro, G1, Brasília)
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