O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, afirma que investigações complementares da Lava-Jato comprovam acusação
de que, a partir de um pedido do presidente Michel Temer ao ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado, a empresa Barro Novo Empreendimentos, repassou “1
milhão de reais” em propina para a campanha do candidato do PMDB à prefeitura
de São Paulo em 2012 Gabriel Chalita.
As informações sobre a suposta transação
entre Temer, Sérgio Machado e a Barro Novo, empresa ligada a Odebrecht, estão
na denúncia apresentada por Janot nesta sexta-feira contra o ex-presidente José
Sarney (PMDB-AP) e os senadores do PMDB Renan Calheiros (AL), Romero Juca (RR)
e Valdir Raupp (RO), entre outros.
Temer só não foi denunciado porque está
protegido pelo mandato presidencial.
Pelo artigo 86 da Constituição,
presidente da República não pode ser investigado por fatos anteriores ao
mandato.
Diante do impedimento legal, as
informações relacionadas a Temer deixadas à parte para serem retomadas em uma
nova investigação quando o presidente deixar o cargo.
"Relativamente à suposta
participação do presidente Michel Temer nos fatos envolvendo o pagamento de
vantagem indevida pela empresa do grupo Odebrecht , a cláusula constitucional
de imunidade do art. 86, § 4P, impede a adoção de providências a respeito. Já a
possível ausência de outras pessoas ou fatos na denúncia não implica
arquivamento implícito ou indireto", explica Janot.
Temer e os demais colegas de partidos
citados pelo procurador-geral são suspeitos desviar dinheiro da Transpetro,
subsidiária da Petrobras, com base na intermediação de Sérgio Machado.
A partir da intervenção de Machado
empresas faziam pagamentos a políticos do PMDB, parte deles camuflados como
doações eleitorais.
Em troca, obtinham contratos
superfaturados com a Transpetro. Em delação premiada, Machado disse que a
estrutura de desvios vigorou de 2003 a 2015, período em que esteve à frente da
estatal.
Ao longo estes anos, ele teria intermediado o pagamento de mais de “100
milhões de reais” a Renan, Sarney, Juca, entre outros políticos da cúpula do
PMDB.
Na delação premiada, o ex-presidente da
Transpetro também narrou um pedido que teria recebido de Temer na Base Aérea de
Brasília para a campanha de Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012.
Machado disse que os dois se encontraram
na Base Aérea e Temer, então vice-presidente da República, pediu a ele
aproximadamente “1,5 milhão de reais”.
O dinheiro seria destinado à campanha de
Chalita. Machado repassou o pedido a Fernando Cunha Reis, diretor da Odebrecht
Ambiental.
Sem maiores embaraços, Reis acionou a
Bairro Novo Empreendimentos para fazer o pagamento a campanha de Chalita, numa
transação intermediada pelo diretório nacional do PMDB.
Na denúncia contra Renan, Juca e Sarney,
Janot afirma que, também a partir de um acordo de colaboração premiada, Reis
"corroborou o depoimento de Sérgio
Machado".
Como indícios do encontro entre Temer e
Machado na Base Aérea em 6 de setembro de 2012, Janot cita registro da
movimentação dos dois.
Pelo relato, Machado telefonou para
Temer e seguiu rumo à Base Aérea num carro alugado.
A agenda oficial de Temer informa que,
naquele mesmo dia, o presidente esteve na Base Aérea, onde embarcaria numa
viagem para Londres.
Duas semanas depois do encontro entre
Temer e Machado, a Barro Novo fez duas doações de “500 mil reais” para o PMDB
nacional.
Logo em seguida, o dinheiro foi
transferido para a campanha de Chalita.
Na delação, Machado disse que os
políticos que pediam dinheiro a ele sabiam da origem ilegal dos recursos.
O ex-presidente da Transpetro explica
que era um servidor público e não um generoso financiador de campanhas
eleitorais.
"Quanto a esses políticos, tem a
explicar que, quando o procuravam, conheciam o funcionamento do sistema; QUE,
embora a palavra propina não fosse dita, esses políticos sabiam, ao procurarem
o depoente, não obteriam dele doação com recursos do próprio, enquanto pessoa
física, nem da Transpetro, e sim de empresas que tinham relacionamento contratual
com a Transpetro", afirmou Machado.
(Agência O Globo)
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