Ministério Público Federal no Distrito
Federal (MPF-DF) apresentou denúncia por corrupção passiva contra o
ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
A denúncia, oferecida dentro da Operação
Zelotes, afirma que Lula editou uma medida provisória para favorecer empresas
do setor automotivo em troca de recebimento de propina.
Também foi denunciado por corrupção
passiva o então chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
A MP 471, assinada em novembro de 2009
por Lula, prorrogou os benefícios fiscais concedidos às montadoras instaladas
nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A lei previa que o desconto de Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) oferecidos às fabricantes que estavam
nessa região se encerraria em 2010.
A MP estendeu o benefício fiscal até o
fim de 2015.
A compra de medidas provisórias é
investigada na Operação Zelotes, que também investiga irregularidades em
decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão vinculado
ao Ministério da Fazenda que julga processos das empresas envolvendo questões
tributárias.
As investigações mostraram que, além de
manipular as decisões do Carf, alguns grupos de empresas também compravam
medidas provisórias para conseguir incentivos fiscais.
No caso das irregularidades envolvendo a
MP 471, também foram denunciados os empresários Carlos Alberto de Oliveira
Andrade, da empresa Caoa, e Paulo Ferraz, ex-presidente da Mitsubishi.
Os dois negaram as acusações.
RESPOSTAS
DOS ACUSADOS
Em nota, o Instituto Lula disse que os
procuradores do MPF tentam "constranger" o ex-presidente.
O texto diz ainda que a denúncia é
"improcedente, injurídica e imoral"
À TV Globo, Gilberto Carvalho disse ter
a consciência "tranquila" de que saiu do governo "sem
levar um clip ou grampo pra casa".
"O Brasil sabe que a MP estava no
programa de governo do presidente Lula para o desenvolvimento do setor nas
regiões centro-oeste e nordeste. Se não tramitação da MP no Congresso ou na
interferência de algum lobista houve corrupção, não tenho nada a ver com isso.
Se houve corrupção, foi no congresso ou na atuação de lobistas. Enfrento esta
situação com muita serenidade. É uma acusação sem provas",
afirmou.
Segundo os investigadores do MPF, as
empresas beneficiadas pela medida provisória pagaram a propina a
intermediários, que ficaram encarregados de repassar o dinheiro para os agentes
políticos.
Ainda de acordo com o MPF, os
participantes do esquema prometeram “6 milhões de reais” para Lula e Carvalho.
O dinheiro, segundo as investigações,
era para custear campanhas eleitorais do PT.
"Diante de tal promessa, os
agentes públicos, infringindo dever funcional, favoreceram às montadoras de
veículo MMC e Caoa ao editarem, em celeridade e procedimento atípicos, a Medida
Provisória n° 471, em 23/11/2009, exatamente nos termos encomendados",
diz um trecho da denúncia.
Além de Lula e Carvalho, também foram
denunciados:
José
Ricardo da Silva (ex-conselheiro
do Conselho Administrativo da Receita Federal) - corrupção ativa
Alexandre
Paes dos Santos
(lobista) – corrupção ativa
Paulo
Arantes Ferraz
(empresário da MMC - Mitsubishi) – corrupção ativa
Mauro
Marcondes Machado
(empresário) - corrupção ativa
Carlos
Alberto de Oliveira Andrade (empresário do Grupo Caoa) – corrupção ativa
De acordo com a denúncia, a medida
provisória alvo das investigações, editada em 2009, passou por avaliação dos
corruptores antes de ser finalizada.
Eles chegaram a fazer sugestões de
alterações, segundo o MPF.
ÍNTEGRA
Leia
abaixo a íntegra da nota do Instituto Lula:
Procuradores
voltam a perseguir Lula com denúncia repetida
Mais
uma vez membros do Ministério Público Federal abusam de suas prerrogativas
legais para tentar constranger o ex-presidente Lula e manipulam o sistema
judicial brasileiro para promover uma perseguição política que não pode mais
ser disfarçada.
A
nova denúncia do Ministério Público sobre a edição da Medida Provisória
471/2009 não é apenas improcedente, mas injurídica e imoral. Os procuradores
que a assinam tentam explorar novamente um tema que já foi objeto de ação penal
e julgamento na primeira instância há mais de um ano.
A
Medida Provisória 471 foi editada em 2009, para prorrogar a vigência de
incentivos fiscais que tornaram as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste
responsáveis por 13% dos empregos na indústria automobilística brasileira, e
por mais de 10% das exportações de automóveis pelo país.
São
absolutamente corretos os trâmites da medida, desde a edição até a aprovação
pelo Congresso Nacional, que a converteu em lei sem votos contrários. Somente a
sanha persecutória de determinados procuradores contra o ex-presidente Lula
pode explicar a tentativa de criminalização de uma política de desenvolvimento
regional iniciada em governo anterior ao dele.
Leia
abaixo a íntegra da declaração de Gilberto Carvalho à TV Globo:
Não
tenho nada a temer. Acabo de vender meu apartamento porque não consegui pagar o
financiamento e estou indo para uma casa de aluguel. Tenho a consciência
tranquila de que saí do governo sem levar um clip ou grampo pra casa.
O
Brasil sabe que a MP estava no programa de governo do presidente Lula para o
desenvolvimento do setor nas regiões centro-oeste e nordeste. Se não tramitação
da MP no Congresso ou na interferência de algum lobista houve corrupção, não
tenho nada a ver com isso. Se houve corrupção, foi no congresso ou na atuação
de lobistas. Enfrento esta situação com muita serenidade.
É
uma acusação sem provas. Aliás, o bilhete que dizia que tinham reunião comigo eu
já provei que na data anotada eu estava em Roma. E mais, recebi o Marcondes
mais de uma vez porque ele vinha falar do assunto em nome da Anfavea. Tenho o
cartão de visita dele, inclusive. E quando adotei minhas duas meninas, ele nos
mandou duas bonecas de presente. Interpretaram que boneca era um código para
propina.
Eu
tenho as bonecas lá em casa até hoje e levarei para a justiça para mostrar. Não
é possível. Estou indignado. Como pode o Ministério Público perder tempo com
uma acusação como esta. Confio que um juiz de bom senso vá parar com isso.
(Por
G1, Brasília)
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