Vítimas que reconheceram o empresário
Adson Muniz dos Santos, preso desde a semana passada suspeito de cometer uma
série de estupros e roubos a mulheres em São Paulo, disseram ao G1 que ele mostrava fotos dele nas redes
sociais ao lado de políticos, famosos, celebridades e ostentando uma vida de
luxo, com carros importados e viagens pelo mundo, como uma 'isca' para se
aproximar de quem abordava.
Entre os disfarces para ganhar a
confiança das vítimas, ele fingia ser produtor de TV.
O homem de 34 anos nega ter cometido os
crimes. "Essas acusações, a maioria delas, são falsas”, se defendeu na
segunda-feira (16/10).
A declaração foi dada aos jornalistas na
frente da delegacia onde Adson foi levado algemado.
Segundo a Polícia Civil, 21 mulheres o
acusam de ter sido abusadas sexualmente e roubadas por ele desde 2012.
Ele também responde por estelionato e
falsidade ideológica.
No seu perfil no Instagram, o preso aparece em fotos, por exemplo, ao lado do
prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e do jornalista Celso Russomanno, ambos do
Partido Republicano Brasileiro (PRB), sigla pela qual Adson conseguiu ser
suplente de vereador por Jussiape, na Bahia, nas eleições de 2016.
Procurado pela reportagem, o PRB
informou que decidiu pela desfiliação do empresário.
INSTAGRAM
Até esta terça-feira (17), a conta
continuava ativa com 100 publicações e 956 seguidores.
Já a página dele no Facebook foi
apagada.
Nas fotografias, Adson também surge
perto de outros políticos e jogadores de futebol.
Algumas vítimas abordadas por ele
contaram ao G1 que, quando não era correspondido, Adson as ameaçava com uma
arma de brinquedo, mostrando um distintivo, dizendo ser policial federal.
Em
outras ocasiões, chegava até mesmo a dizer que era amigo do preso Marcola,
Marcos Willians Herbas Camacho, uma das lideranças da facção criminosa Primeiro
Comando da Capital (PCC) para intimidar as mulheres.
"Ele falou: 'eu sou o Adson Muniz
e sou famoso, olhe minhas fotos na internet'", contou uma
empresária de 50 anos que o reconheceu como o homem de terno que a abordou na
terça-feira (10) perto de uma academia no Itaim Bibi, bairro de alto padrão de
São Paulo.
Como não deu bola, ela disse que ele a
atacou gritando: “Eu também sou amigo do Marcola. Me puxou pelo braço, me deu um beijo na
bochecha e comecei a andar rápido.”
No dia 6 de outubro nos Jardins, área
nobre da capital, a câmera de segurança de um estacionamento gravou a abordagem
de Adson a uma motorista, que foi obrigada a fazer sexo oral e dar dinheiro ao
estuprador.
Em outra filmagem do dia 2 de outubro,
Adson aparece ao lado de uma mulher em um hotel.
Ele a convenceu a fazer testes para a
TV, dizendo ser influente junto a famosos.
Lá, ela disse que o agressor usou
uma arma para obrigá-la a tirar a roupa e a estuprou.
Adson foi preso na quarta-feira (11)
passada em um hotel após as vítimas divulgarem a foto dele na web.
Com ele foram apreendidas uma pistola
falsa e crachá com brasão da Justiça Federal e outro da TV Globo.
Desde então, a 1ª Delegacia de Defesa da
Mulher (DDM), no Centro, recebe diversos telefonemas e visitas de mulheres que
dizem ser vítimas dele.
MAIS
VÍTIMAS
Nesta terça-feira, mais cinco mulheres
devem ir à DDM para reconhecer Adson por meio de um sistema que não permite que
ele as veja.
Mesmo reconhecendo ser o homem que
aparece nas imagens obtidas pela polícia, Adson negou ter estuprado as
mulheres.
“Isso não”, disse enquanto era levado para a carceragem do 77º
Distrito Policial (DP), na Santa Cecília, região central, onde cumpre a prisão
temporária de 30 dias.
A delegada Cristine Nascimento, da 1ª
DDM, deverá indiciá-lo por diversos crimes e pedir à Justiça a decretação da
prisão preventiva dele, para que fique detido até seu eventual julgamento.
"Ele não pode ficar solto",
falou ela à imprensa.
"É um predador sexual".
“Meu objetivo hoje é só acabar esse pesadelo
e me tratar”, afirmou Adson aos jornalistas durante uma das idas e
vindas entre as delegacias, sugerindo que sofre de algum transtorno mental.
“Eu
também não sei o que está passando pela minha cabeça. Eu preciso de um
tratamento, quero me curar”.
Nascido em Livramento de Nossa Senhora,
o baiano Adson não tinha passagens criminais até então.
Com o ensino médio completo e solteiro,
ele pretendia ser presidente do Brasil um dia, segundo seu Instagram.
Nele, o homem aparece ao lado de um
carro importado e os dizeres: 'Adson
Presidente: o Brasil em primeiro lugar!'
“!
Rumo a vitória !! Depois a presidência!! Com Deus e o povo tudo é possível
!!!”, escreveu Adson em uma foto dele em meio à multidão em 4 de setembro
do ano passado, quando concorria a uma vaga na Câmara Municipal de Vereadores
de Jussiape.
Ele já havia sido vereador da cidade em
2014, quando também saiu frustrado ao não conseguir se eleger deputado federal.
Fã das ideias de Donald Trump, Adson
chamou de 'amigo' o futuro presidente dos Estados Unidos em 22 de agosto de
2015. “!!!boa sorte amigo!!! A América vai ser nossa!!! Estamos juntos
amigo!!!!”.
Viagens a Mônaco e a final da NBA,
hospedagens em hotéis de luxo, são outras fotos postadas por Adson.
O G1 não conseguiu localizar o advogado
de Adson.
(Por Kleber Tomaz, G1 SP, São Paulo)
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