Nove anos após o lançamento de Zé
Ramalho da Paraíba (2008), CD duplo que apresentou registros então inéditos de
oito números de show seminal de Zé Ramalho, o selo Discobertas põe no
mercado fonográfico caixa com três CDs que revelam outras raras gravações dos
primórdios da carreira solo do cantor, compositor e músico paraibano.
Zé Ramalho da Paraíba trouxe à tona
fragmentos do show Atlântida, somente apresentado em maio de 1974, em três
noites no Teatro Santa Roza, em João Pessoa.
Já a caixa Zé Ramalho – Anos 70,
produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes, avança um pouco mais no
tempo, trazendo gravações de valor documental que cobrem período que vai de
1976 até 1978, ano em que o artista começou a alcançar projeção nacional.
O CD 1, Demos (1976 / 1977), é o título
mais valioso para colecionadores de discos.
Traz duas demos que totalizam seis
gravações cujo repertório é quase inteiramente formado por músicas de autoria
do próprio Ramalho, que em 1975 já lançara (sem repercussão) o lendário álbum
duplo Paêbirú, gravado e assinado com o cantor, compositor e poeta pernambucano
Lula Côrtes (1949 – 2011).
A primeira demo, gravada por Ramalho em
1976 com músicos da banda do cantor pernambucano Alceu Valença (também
integrada pelo músico paraibano), traz registros embrionários das músicas
Frágil (Zé Ramalho) e Jacarepaguá blues (Zé Ramalho), ambas lançadas
oficialmente somente oito anos depois, no sexto álbum solo de Ramalho, Pra não
dizer que não falei de rock (1984).
De resultado infrutífero, essa demo
inicial foi gravada na cidade de São Paulo (SP) no palco do Teatro Aquarius, no
qual Alceu apresentava o show cuja banda incluía Ramalho.
No verão de 1976 / 1977, o artista teve
a chance de gravar uma segunda demo, com
cinco músicas alocadas em quatro fonogramas feitos sob a batuta do produtor
Carlos Alberto Sion. As músicas dessa demo são Avôhai (Zé Ramalho), Jardim das
acácias (Zé Ramalho), a recorrente Frágil (Zé Ramalho) e Adeus segunda-feira
cinzenta (Zé Ramalho), unida em medley com Espelho cristalino (Alceu Valença),
música que Alceu Valença já tocava em shows e que iria dar título ao terceiro
álbum solo do cantor, lançado em 1977.
Tal como Roberto Carlos, Zé Ramalho
seria recusado pelas principais gravadoras do Brasil (Phonogram, RCA-Victor,
EMI-Odeon e Som Livre). Mas uma porta foi aberta pelo produtor Jairo Pires e
Ramalho entrou na gravadora CBS, por onde gravou pelo selo Epic em novembro
daquele ano de 1977 o primeiro álbum solo, Zé Ramalho (1977).
Lançado no
primeiro semestre de 1978, o álbum rendeu a Ramalho o primeiro sucesso, Avôhai,
música que a cantora Vanusa já havia gravado e lançado no ano anterior, no
álbum Vanusa 30 anos (Som Livre, 1977).
No rastro da boa repercussão do disco,
Ramalho fez shows pelo Brasil para divulgar o álbum.
O segundo CD da caixa,
Avôhai ao vivo no Rio, traz o registro de 10 números extraídos de apresentações
da primeira temporada carioca do show, feita por Ramalho de 12 a 16 de abril de
1978 no Teatro Tereza Rachel, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
No roteiro do show, Ramalho cantava músicas autorais do primeiro álbum solo, como Vila do sossego (Zé Ramalho, 1978), e já apresentava uma composição então inédita de lavra própria que iria ser o carro-chefe do segundo álbum solo, A peleja do diabo com o dono do céu, lançado em 1979.
No roteiro do show, Ramalho cantava músicas autorais do primeiro álbum solo, como Vila do sossego (Zé Ramalho, 1978), e já apresentava uma composição então inédita de lavra própria que iria ser o carro-chefe do segundo álbum solo, A peleja do diabo com o dono do céu, lançado em 1979.
Trata-se de Admirável gado
novo (Zé Ramalho, 1979).
Ainda hoje uma das músicas mais
celebradas da obra autoral de Zé Ramalho, Admirável gado novoreaparece no
terceiro CD da caixa, Avôhai ao vivo em São Paulo, de conteúdo mais redundante.
O disco traz o registro parcial de apresentações do show na segunda temporada
paulistana, feita por Ramalho de 21 a 26 de novembro daquele ano de 1978, no
Teatro Nydia Licia.
Como Ramalho já preparava o segundo álbum, músicas desse
então inédito segundo disco já apareciam no roteiro, caso de Mote das amplidões
(Zé Ramalho, 1979).
Enfim, apesar do teor de redundância, o valor documental da
caixa Zé Ramalho – Anos 70 é alto e justifica a edição pelo selo Discobertas.
*(Créditos das imagens: capas da caixa Zé
Ramalho – Anos 70 e dos CDs Demos (1976 / 1977), Avôhai ao vivo no Rio e Avôhai
ao vivo em São Paulo)
Por
Mauro Ferreira
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