Nas 19 horas que se seguiram à morte de
Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, mais de meio milhão de tuítes
circularam mencionando o assassinato da vereadora do PSOL, de acordo com estudo
da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV
Dapp).
Do total, 88% eram mensagens de apoio e luto e apenas 7% fizeram uso da
redes para criticar o PSOL, a esquerda e ativistas dos direitos humanos em
geral como "defensores de bandidos".
Passados alguns dias, o panorama
evoluiu.
Alguns atores da direita radical, incluindo o MBL (Movimento Brasil
Livre) e o deputado da bancada da bala Alberto Fraga (DEM), passaram a
protagonizar uma ativa campanha difamatória contra Marielle Franco.
Não se
trata de questionar visões de mundo ou até mesmo criticar a comoção com o crime
político, posições esperadas num debate.
O que foi ativado foi uma fábrica de
informações falsas e boatos que aludem, sem qualquer base factual, ao
envolvimento da vereadora com "bandidos".
Um dos focos para a propagação das
notícias falsas foi a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ),
Marília Castro Neves, uma das pessoas a disseminar uma acusação sem provas
sobre vereadora.
Ela afirmou, em um comentário no Facebook, que Marielle Franco
"estava engajada com bandidos" e "não era apenas uma
lutadora".
Segundo a desembargadora, "a tal Marielle descumpriu
'compromissos' assumidos com seus apoiadores", que, segundo Marília,
seriam do Comando Vermelho.
O comentário se espalhou na Internet em
poucas horas e fez com que um grupo de advogados começasse uma campanha, também
nas redes, para que a desembargadora seja denunciada ao Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) por ter atacado, sem embasamento, a reputação de Marielle Franco.
Após o episódio, a desembargadora disse à colunista Mônica Bergamo, da Folha de
S. Paulo, que apenas tinha dado a sua opinião como "cidadã".
Ela
explicou ainda que nunca tinha ouvido falar de Marielle até a notícia da morte.
"Eu postei as informações que li no texto de uma amiga", afirmou ao
jornal.
“A minha questão não é pessoal. Eu só
estava me opondo à politização da morte dela”, afirmou a desembargadora a Folha
de S. Paulo.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – do qual Marielle fazia
parte – anunciou que abrirá uma ação criminal por calúnia e difamação contra a
juíza, além de fazer uma representação oficial ao CNJ.
Num mecanismo típico de como funcionam
as engrenagens das fake news, o MBL usou a declaração assumidamente sem
embasamento da desembargadora em uma postagem em seu site.
O grupo publicou na
página do Facebook uma matéria titulada: "Desembargadora quebra narrativa
do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum' ".
Na chamada o MBL ressaltou: "Isso é complicado. Bem complicado... ".
Até as 17h00 deste sábado (17/-3), o post do movimento já tinha mais de 38 mil
curtidas e 28 mil compartilhamentos.
Na noite de sexta-feira, o deputado
Alberto Fraga, presidente do DEM no Distrito Federal e presidente da Frente
Parlamentar de Segurança Pública, também resolveu usar informações falsas na
campanha contra a vereadora. “Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle
Franco. Engravidou aos 16 anos, ex-esposa do Marcinho VP, usuária de maconha,
defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente
6 funcionários, mas quem a matou foi a PM”, escreveu no Twitter.
Na manhã deste
sábado, o tuíte de Fraga já tinha mais de mil curtidas e centenas de
compartilhamentos, mas acabou sendo deletado.
No início da tarde, o deputado
escreveu que o assunto tinha gerado muita polêmica.
"Vamos deixar a
Polícia trabalhar e com certeza essas acusações, de ambos os lados, serão
sanadas. Como prova, vou retirar o post", disse.
Ainda que há dias a biografia de
Marielle esteja nos jornais, o Aos Fatos, (site de checagem de notícias),
explicou ponto a ponto as informações inverídicas ou sem qualquer evidência
usadas: Marielle nunca foi casada com nenhum ex-traficante.
A vereadora tinha
38 anos de idade, era casada com Mônica Benício e tinha uma filha de 19 anos,
chamada Luyara Santos. Isso significa que ela engravidou entre os 18 e 19 anos
- e não aos 16.
Ainda segundo o site de checagem, não há qualquer nexo entre a
disputa de territórios do Comando Vermelho na Maré e a eleição de Marielle.
A
vereadora foi eleita com 46.500 votos, dentre os quais apenas 1.600 foram de
eleitores da Maré e arredores.
ENTENDA
O CASO
Defensora dos direitos humanos e crítica
da atuação de policiais que agem fora da lei, Marielle voltava de um evento no
bairro carioca da Lapa quando foi alvo de disparos.
O crime aconteceu nesta
quarta-feira, 14 de março, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, e o motorista
Anderson Gomes, que estava com ela, também foi assassinado a tiros.
No segundo
dia de investigações, a perícia concluiu que o lote de munições utilizados no
crime teria sido vendido para a Polícia Federal em Brasília.
A polícia trabalha com a hipótese de que
o assassinato foi uma execução. Ainda não foi divulgada nenhuma informação
sobre os assassinos e não se sabe nem quantos participaram da ação.
(Heloisa Mendonça/El País)
Parece que ser militante de partido de extrema esquerda coloca a pessoa a um nível superior aos demais mortais desse país. De 2016 pra cá mais de 200 vereadores foram assassinados mas, parece que a vida deles(e de tantos outros brasileiros que são
ResponderExcluirvítimas todos os dias)não têm importância.