Após quatro meses parada na Câmara dos
Deputados, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita o foro
privilegiado a apenas algumas autoridades corre o risco de ser engavetada sem
sequer ser discutida pela comissão especial.
O texto já foi aprovado no Senado e
passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
O passo seguinte seria a tramitação na
comissão especial criada em dezembro pelo presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ).
No entanto, à espera das indicações dos
membros pelos partidos, o colegiado não foi sequer instalado.
ENTENDA
A PROPOSTA EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
Prerrogativa de foro
A prerrogativa de foro é o direito que a
autoridade tem de ser julgado pelos tribunais superiores, como o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Pela proposta, esse direito ficaria
restrito aos presidentes da República, da Câmara, do Senado e do STF.
Deixariam de ter foro privilegiado os
ministros de Estado, governadores, senadores, deputados federais e estaduais,
entre outras autoridades.
Além do Congresso, o STF também discute
restringir o foro privilegiado.
A PEC, porém, é mais ampla do que a ação
que tramita no Supremo.
Enquanto a proposta em discussão no
Congresso limita o foro apenas aos presidentes dos poderes, o STF discute
apenas restringir o foro de deputados federais e senadores.
A proposta em análise pelos ministros é
de que os parlamentares respondam na Suprema Corte apenas aos crimes
relacionados ao exercício do mandato.
As demais acusações seriam julgadas por
instâncias inferiores.
O julgamento sobre o assunto no Supremo
deverá ser retomado no próximo dia 2 de maio.
O tema foi pautado pela presidente da
Corte, ministra Cármen Lúcia.
Intervenção
Com a intervenção federal na área de
segurança pública do Rio de Janeiro, em vigor até o fim de 2018, instalou-se um
impasse no Congresso sobre se PECs podem tramitar no Legislativo.
Isso porque, de acordo com a
Constituição, é proibido promover qualquer mudança no texto constitucional
enquanto vigorar a intervenção.
O presidente da Câmara decidiu liberar a
discussão de PECs nas comissões desde que as propostas não sejam votadas no
plenário principal.
Descontentes com essa medida, deputados
de diversos partidos, incluindo PT, PCdoB, PSDB e DEM, têm se articulado para
rever a decisão na CCJ, onde tramitam recursos a fim de barrar totalmente a
tramitação de PECs.
O movimento tomou corpo com a
apresentação de uma PEC para deixar claro na Constituição a possibilidade de
prisão após condenação em segunda instância.
Indicações
Criada em 12 de dezembro de 2017, a
comissão da PEC do foro já poderia estar em funcionamento desde o ano passado,
mas, dos 35 nomes titulares que vão compor o colegiado, apenas 16 foram
indicados – menos da metade.
Geralmente, entre a criação e a
instalação das comissões especiais passam-se apenas alguns dias.
No caso das PECs da reforma da
Previdência e do teto de gastos, por exemplo, esse prazo levou dois dias.
PT e MDB, as duas maiores bancadas da
Casa, têm direito a quatro vagas cada um na comissão especial da PEC do foto,
mas ainda não indicaram nenhum nome.
Procurados pelo G1, vários partidos
alegaram que estavam aguardando o fim da janela partidária, prazo encerrado na
última semana no qual os deputados puderam migrar de legenda sem serem punidos
por infidelidade partidária.
Segundo o MDB, passado o prazo, as
indicações para o colegiado devem sair a partir desta semana.
O líder do PT, Paulo Pimenta (RS), disse
à reportagem que ainda não fez as indicações porque, até o momento, o
presidente da Câmara não havia encaminhado o requerimento para que o partido
indicasse os membros.
No entanto, a Secretaria-Geral da Mesa
Diretora da Câmara informou que enviou ofício no dia seguinte à criação da
comissão para todos os partidos.
O PSDB foi um dos poucos partidos que
indicaram nomes para o colegiado.
O líder da sigla, Nilson Leitão (MT),
afirmou que as indicações foram rápidas porque é de interesse do partido
discutir a matéria.
“Sou totalmente a fim do foro”,
disse.
Pelo regimento da Câmara, caso os
líderes não indiquem os membros em 48 horas, o presidente da Casa pode fazê-lo.
O G1 procurou a assessoria de Rodrigo
Maia para saber porque o presidente não recorreu ao regimento para dar
celeridade a instalação da criação, mas não obteve resposta até a última
atualização desta reportagem.
(Por Fernanda Calgaro, Alessandra
Modzeleski e Fernanda Vivas, G1, Brasília)
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