O mundo passa por um momento de
crescimento do ódio ao jornalismo e aos jornalistas, o que ameaça as
democracias, diz a edição 2018 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa.
Os dados foram divulgado hoje (25/04)
pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), em sete eventos simultâneos
pelo mundo, incluindo no Rio de Janeiro.
Segundo o diretor regional da
organização para a América Latina, Emmanuel Colombié, a liberdade de imprensa
funciona como um termômetro do vigor da democracia e o índice global vive seus
piores momentos.
"Estamos com 3.826 pontos, caiu
muito desde que o ranking começou a ser feito em 2002."
No ranking geral, o país com mais
liberdade de imprensa é a Noruega, seguido pela Suécia e pelos Países Baixos
(Holanda).
Os países no fim da lista são Coreia do
Norte, Eritreia e Turkomenistão.
Colombié destacou o crescimento do ódio
aos jornalistas incentivado por líderes eleitos.
"Esse tipo de desqualificação é
cada vez mais comuns. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz
midia-bashing [ataques públicos aos meios de comunicação], o que é péssimo por
estimular outros países a tratar jornalistas da mesma maneira. Ele qualifica
sistematicamente os repórteres de 'inimigos do povo', uma expressão usada por
Joseph Stalin", afirmou.
Segundo o levantamento da ONG, a
hostilidade de dirigentes políticos aos meios de comunicação está cada vez mais
presente em países ditos democráticos.
Além de países como Turquia e Egito
conviverem com acusações generalizadas de terrorismo contra os jornalistas e
prisões arbitrárias de profissionais, a RSF destaca que, nas Filipinas, o
presidente Rodrigo Duterte, disse que ser jornalista "não protege contra assassinatos".
Na Índia, a ONG acusa o primeiro-ministro
Narendra Modi de pagar exércitos de trolls e robôs para disseminar e amplificar
os discursos de ódio contra os jornalistas nas redes sociais.
Na República Tcheca, o presidente Milos
Zeman foi a uma coletiva de imprensa portando um simulacro de fuzil AK-47
"para os jornalistas".
Na Eslováquia, o primeiro-ministro
Robert Fico, que ficou no cargo até o mês passado, chamava os jornalistas de
"prostitutas imundas anti-eslovacas"
e "simples hienas idiotas".
AMÉRICA
LATINA
Apesar da ligeira alta do índice
regional de liberdade de imprensa na América Latina, Colombié destaca que o
quadro geral segue "extremamente
preocupante".
"A região segue marcada pela
extrema violência e baixo índice de liberdade".
O levantamento aponta que a Costa Rica
continua na melhor posição do ranking regional, o único país classificado com
situação boa.
Cuba continua no pior, o único país da
região com situação grave, devido à proibição em lei da propriedade privada dos
meios de comunicação.
"A Venezuela teve a queda mais
acentuada na região, perdendo seis posições e ficando em 143º. Lá, foram
tiradas as licenças de dezenas de rádios e televisões, além de ser escasso o
papel necessário para os impressos. Também registra centenas de agressões a
jornalistas que cobriam as manifestações", alertou o diretor
regional.
De acordo com a ONG, o México continua
sendo o país mais perigoso para o exercício do jornalismo na região.
"Em 2017 foram 11 assassinatos de
jornalistas no exercício da profissão, atrás apenas da Síria, um país em guerra."
BRASIL
Em uma lista de 180 países, o Brasil
passou da posição 103 para 102 este ano, porém, classificado pela ONG como
"um ambiente de trabalho cada vez mais instável".
"A ausência de um mecanismo
nacional de proteção para os repórteres em perigo e o clima de impunidade -
alimentado por uma corrupção onipresente - tornam a tarefa dos jornalistas
ainda mais difícil. Em um contexto de forte instabilidade política, ilustrado
pela destituição da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 e pela incerteza que
envolve a corrida presidencial 2018, a liberdade de informação está longe de
ser uma prioridade para os poderes públicos".
Para Colombié, a situação do país é
"dramática".
"Na prática, está estagnado há
anos em matéria de liberdade de imprensa, sem demonstração de preocupação dos
sucessivos governos com isso".
Ele diz que, além disso, há o
envolvimento de autoridades em assassinatos de jornalistas e comunicadores no
Brasil, além de ameaças e difamações públicas em redes sociais. Outra
preocupação da RSF no país é com a cobertura de direitos humanos.
"O brutal assassinato da vereadora
Marielle Franco levou os comunicadores populares das favelas a ficar em estado
de alerta. A cobertura de manifestações segue um ambiente complicado pra atuar,
os jornalistas sofrem com a violência policial e com a hostilidade de
manifestantes."
A ONG demonstrou preocupação também com
o cenário da grande concentração da propriedade de mídia no Brasil e com o
período pré-eleitoral, quando, segundo a RSF, aumentam as censuras via ação
judicial e a difamação de jornalistas, além da distribuição de informações
falsas pela internet.
"O Congresso está discutindo leis para punir quem divulga notícias falsas, mas o projeto traz conceitos vagos que podem tender a aplicações arbitrárias. Isso é muito perigoso. Outro problema é a desinformação como estratégia de afogar o conteúdo jornalístico. Acreditamos na educação como forma de combater as notícias faltas, e não no endurecimento penal".
"O Congresso está discutindo leis para punir quem divulga notícias falsas, mas o projeto traz conceitos vagos que podem tender a aplicações arbitrárias. Isso é muito perigoso. Outro problema é a desinformação como estratégia de afogar o conteúdo jornalístico. Acreditamos na educação como forma de combater as notícias faltas, e não no endurecimento penal".
Em coletiva, o diretor executivo do
Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili, disse que exposições artísticas e
universidades também vêm sofrendo no país e afirmou que o Braisl passa por uma
quebra da normalidade democrática que têm reflexo na liberdade de expressão e
de imprensa.
"O Brasil vive um momento de grave
crise política, onde a violência contra a democracia age das mais diversas
formas. Em 2017, foram 53 defensores de direitos humanos e ativistas sociais
assassinados, o que já foi o dobro de 2016. Em 2018, foram 12 lideranças
assassinadas em três meses. Temos o aumento dos homicídios contra a população
preta, pobre e periférica, a seletividade nas prisões, a criminalização dos
movimentos sociais com mudança na legislação e nas políticas públicas. O
atentado que o ex-presidente lula sofreu no Rio Grande do Sul, que foi visto de
uma forma naturalizada pela mídia e pela sociedade em geral. A fragilização das
organizações sindicais".
Ele lembrou que também houve aumento das
ameaças e assassinatos de comunicadores e jornalistas, com o registro de 99
casos de violência contra jornalistas em 2017, segundo levantamento da
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
(Terra)
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