De:
O Estadão*
A morte do líder do Primeiro Comando da
Capital (PCC) Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, desencadeou uma
investigação que descobriu novos segredos da maior facção criminosa do País.
Documentos encontrados pela polícia
revelaram parte da estrutura montada pelos líderes do PCC para o tráfico
internacional de drogas, a lista de seus integrantes em cada região de São
Paulo, nos Estados e em cinco países da América do Sul - Colômbia, Paraguai,
Bolívia, Peru e Guiana.
Gegê do Mangue, maior liderança PCC, foi morto no Ceará |
A inteligência policial tem provas da
evolução das rendas do grupo e sua ligação com o primeiro cartel de drogas
chefiado por um brasileiro: Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho.
Os negócios particulares dos líderes e
da própria facção têm um faturamento estimado pela inteligência policial em, no
mínimo, R$ 400 milhões por ano.
Alguns policiais acreditam que esse
número pode chegar a cerca de R$ 800 milhões, o que colocaria o PCC entre as
500 maiores empresas do País.
Seu tamanho dependeria da quantidade de
drogas que o cartel liderado por Fuminho e os líderes do PCC conseguem exportar
nos Portos de Santos, Itajaí, Rio e Fortaleza.
Estimativas conservadoras fixam em 1
tonelada por mês, enquanto analistas policiais consideram que esse número
corresponde apenas ao movimento de uma semana.
Entre as descobertas feitas pela
inteligência policial estão remessas da facção para um doleiro da capital
paulista.
Em 9 de dezembro de 2017, um dos grupos
responsáveis pelo tráfico internacional de drogas entregou R$ 1.464.118 ao
doleiro.
Em 16 de dezembro, foram enviados mais R$ 1.522.374 e no dia 21, R$ 1.105.651.
Em 16 de dezembro, foram enviados mais R$ 1.522.374 e no dia 21, R$ 1.105.651.
Em duas semanas, a soma chega a mais de
R$ 4 milhões.
A contabilidade mostra que em uma única
vez, em dezembro de 2017, o bando gastou R$ 2,5 mil para comprar malas para
entregar o dinheiro.
As remessas continuaram em janeiro deste
ano.
Segundo as investigações, a facção
entregava reais ao doleiro e recebia dólares, por meio do sistema dólar cabo,
na Bolívia e no Paraguai, para pagar a produção das drogas - cocaína e maconha.
O sistema de lavagem da facção inclui ainda a compra de postos de gasolina (200 deles estão nas mãos de laranjas que trabalham para um bandido conhecido como Flavinho).
O sistema de lavagem da facção inclui ainda a compra de postos de gasolina (200 deles estão nas mãos de laranjas que trabalham para um bandido conhecido como Flavinho).
Esta não foi a primeira vez que a
polícia descobriu um esquema de lavagem de dinheiro da facção.
Para o promotor de Justiça Lincoln
Gakiya, o PCC ainda é uma organização de tipo pré-mafiosa, pois lhe falta
conhecimento para fazer a lavagem de dinheiro.
Essa seria a última barreira que separa
o grupo das demais máfias pelo mundo.
"Muitas das operações da facção
são feitas em dinheiro vivo, guardado em lugares seguros", diz.
Em 2014, a polícia detectou um esquema
que envolvia uma transportadora de cargas fantasma que movimentou R$ 100
milhões por meio de duas corretoras de valores, que enviavam o dinheiro do crime
organizado para a China e para os Estados Unidos.
As contas da transportadora eram
movimentadas pela internet.
Essa tarefa era executada por meio de sete IPs com base no Paraguai.
Essa tarefa era executada por meio de sete IPs com base no Paraguai.
MORTOS
Foi no apartamento de José Adinaldo
Moura, o Nado, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, que o Departamento Estadual
de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) encontrou os papéis.
Nado era o braço direito de Wagner
Ferreira da Silva, o Cabelo Duro.
Os dois eram acusados de participar no
Ceará do assassinato de Gegê do Mangue em fevereiro e acabaram mortos pela
facção a mando da cúpula.
Nado morava em um apartamento de
cobertura e teria sido executado um dia antes do assassinato de Cabelo Duro, em
22 de fevereiro.
No dia 15 de maio, a polícia achou um
corpo que seria de Nado.
Ele estava enterrado de ponta-cabeça e amarrado em um terreno na região de Americanópolis, zona sul da capital.
Ele estava enterrado de ponta-cabeça e amarrado em um terreno na região de Americanópolis, zona sul da capital.
Nado e Cabelo Duro trabalhariam para
Fuminho, que era apontado como sócio do líder do PCC, Marco Willians Herbas
Camacho, o Marcola.
Gegê do Mangue, que havia saído da
cadeia em 2017, teria descoberto que eles usavam a logística montada pelo PCC
para traficar drogas sem pagar à facção.
Gegê começou a cobrar um pedágio de
Fuminho e usou o dinheiro para comprar imóveis no Ceará, em vez de entregá-lo
para o caixa do grupo.
Ao descobrirem o desvio, Gegê teve o
destino selado.
Fuminho mandou assassiná-lo.
Fuminho mandou assassiná-lo.
A cúpula reagiu e decidiu matar os
envolvidos na execução.
Só depois de Fuminho apresentar as provas de que Gegê estava roubando o grupo é que a cúpula decidiu perdoá-lo.
Só depois de Fuminho apresentar as provas de que Gegê estava roubando o grupo é que a cúpula decidiu perdoá-lo.
Os pontos de varejo de drogas dominados
por ele em São Paulo - região da Avenida Presidente Wilson e na Favela de
Heliópolis -, que haviam sido tomados pela facção, foram devolvidos
recentemente pelo PCC.
SUCESSO
O sucesso de Fuminho no tráfico atraiu
outros bandidos para a atividade.
"Grupos de ladrões de carga, de
carro-forte e de banco passaram a se juntar para investir no tráfico
internacional de drogas", disse o delegado Ruy Ferraz Fontes,
diretor do Denarc.
Para conseguir grandes quantidades da droga e enviá-la para a Europa - os Estados Unidos são um mercado cativo dos cartéis mexicanos -, os bandidos aproveitam a logística do PCC.
Para conseguir grandes quantidades da droga e enviá-la para a Europa - os Estados Unidos são um mercado cativo dos cartéis mexicanos -, os bandidos aproveitam a logística do PCC.
Os ladrões se unem em grupos e compram a
cocaína para montar um carregamento e embarcá-la em contêiner.
Esse movimento começou a tirar o espaço
no Brasil da máfia nigeriana no tráfico.
Em 18 de abril, policiais civis que
vigiavam o galpão no Guarujá surpreenderam uma dessas partidas.
A droga chegou em picape S-10.
Uma hora depois, o portão se abriu e
saíram a picape, um Fiorino e um caminhão que transportaria um contêiner.
Quando o grupo foi abordado pelos
policiais, a escolta do caminhão reagiu a tiros de fuzil, ferindo um
investigador.
Sete acusados foram presos e 213 quilos
de cocaína apreendidos - outros três bandidos fugiram, deixando para trás um
fuzil e uma pistola calibre 45.
*(Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo)
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