*Prefeito ameaçou repórter
O prefeito de Japeri, Carlos Moraes foi
preso na manhã desta sexta-feira (27/07) na Operação Sênones, por suspeita de
associação com o tráfico.
Em investigação conjunta, o Ministério
Público do Rio de Janeiro e a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense
(DHBF) afirmam que uma das maiores facções criminosas do estado se instalou na
Prefeitura de Japeri.
O objetivo é cumprir 41 mandados de
prisão.
No grupo visado estão ainda o presidente
da Câmara, Wesley George de Oliveira, o Miga, que está foragido; o vereador
Cláudio José da Silva, o Cacau, também preso; e 37 suspeitos de tráfico.
Determinação da desembargadora Márcia Perrini, da 7ª Câmara Criminal do TJ-RJ,
também suspende os direitos políticos dos três, todos do Partido Progressistas
(PP).
Flávio Fernandes, advogado de Carlos
Moraes, assegurou que o prefeito "jamais se associou a traficantes".
"Estou tomando ciência de tudo
agora. Mas, em uma análise superficial do que existe na investigação, é de
fácil conclusão de que não está nesse tipo penal”, disse, ele sobre a
acusação de associação para o tráfico.
“Ele vinha atuando para rechaçar o tráfico de
drogas", emendou.
Na casa de Moraes a polícia encontrou
arma, munição, “34 mil reais” em espécie e 850 dólares.
Parte do dinheiro estava em duas bolsas
azuis com logotipo da Prefeitura de Japeri.
Ao ser detido, o prefeito xingou e
ameaçou jornalistas.
"Você está me ameaçando?",
perguntou o repórter Diego Haidar.
"Tô! Tô!
Eu estou sendo ameaçado!",
gritou de volta.
"A gente resolve isso na Baixada!",
completou.
OPERAÇÃO
SÊNONES
A operação, batizada de Sênones, teve
por base as investigações da Polícia Civil, do Grupo de Atribuição Originária
em Matéria Criminal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado, estes do Ministério Público do Rio de Janeiro.
A ação contou com o apoio da
Coordenadoria de Inteligência da PM.
O nome da operação faz uma referência a
Breno, nome do líder de uma tribo celta que invadiu Roma no século 4 antes de
Cristo.
Os sênones bateram os romanos e
saquearam a cidade.
Os governantes concordaram em pagar um
resgate para se libertar das hordas de Breno, mas um ditador exilado formou
exército e expulsou os celtas.
LIGAÇÃO
COM O MAIS PROCURADO DA BAIXADA
Um dos mandados é contra Breno da Silva
de Souza, o BR, preso no dia 20.
Ele era o homem mais procurado da
Baixada Fluminense, suspeito de chefiar o tráfico no Complexo do Guandu.
Escutas autorizadas pela Justiça
flagraram, no ano passado, telefonema entre o prefeito Carlos Moraes e BR.
A partir de então, agentes e promotores
descobriram que Moraes, Miga e Cacau associaram-se ao tráfico de drogas local,
comandado pela facção criminosa Amigos dos Amigos.
As investigações apontam que o trio
colocou o exercício dos seus mandatos a serviço dos interesses da organização
criminosa em troca de benefícios pessoais e a possibilidade de estruturação de
um projeto político que os perpetuasse no poder.
A força-tarefa apurou que os políticos
valiam-se de seus mandatos para repassar informações privilegiadas e para
articular ações integradas que permitissem ao bando desenvolver livremente suas
atividades ilícitas.
Foram detectados ainda indícios de
fraudes em licitações e desvios de dinheiro público em favor dos interesses da
organização criminosa.
As escutas autorizadas pela Justiça
apuraram episódios em que BR ligou para o prefeito e para outras pessoas
influentes do município a fim de interromper uma operação policial para impedir
a realização de um baile funk promovido pelos traficantes da localidade.
O vereador Claudio José, o Cacau, também
ligou para o traficante se prontificando a ajudar a encontrar uma solução para
a intervenção policial na comunidade.
O prefeito retornou o contato telefônico
com Breno para dizer que estava empenhado em atender à demanda de Breno e para
passar informações privilegiadas sobre outra operação policial na comunidade.
Disse ainda que, em companhia do
vereador Wesley George, o Miga, iria procurar o comando do 24º BPM.
O elo entre a Prefeitura de Japeri, a
Câmara Municipal e o tráfico do Guandu era Jenifer Aparecida Kaiser de Matos,
um dos alvos da operação e que também foi presa.
GANGUE
ATUAVA NO ARCO METROPOLITANO
Na época em que flagrou o telefonema
entre Moraes e BR, a DHBF investigava a morte de três pessoas no Arco
Metropolitano, via que passa pelo município e interliga as rodovias federais
que servem ao Grande Rio.
A polícia aponta que BR coordenava
roubos de carga pela região.
Ele é um dos denunciados pelo assassinato dos
vigilantes Jonas Souza da Silva e Benedito Charles da Silva, em maio de 2017,
mortos durante assalto a um caminhão de carga no Arco Metropolitano.
Contra Breno já foram expedidos 14
mandados de prisão, por crimes como homicídio, latrocínio, tráfico e roubo.
PREFEITO
NO TERCEIRO MANDATO
Carlos Moraes foi eleito no primeiro
turno das eleições de 2016 em apuração apertada: 23.863 votos contra 23.252 de
André Ceciliano, diferença de apenas 611 (ou um ponto percentual).
Moraes voltava ao posto que já ocupou
por duas vezes, entre 1993 e 1996 – quando foi o primeiro prefeito eleito de
Japeri, que se tornou município em 1990, após se emancipar de Nova Iguaçu – e
de 2001 a 2004.
(Por Márcia Brasil e Henrique Coelho, TV
Globo e G1 Rio)
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