Sete clubes brasileiros da Série A
ganharam nesta quinta-feira (09/08) um grande problema de última hora.
Todos foram pegos de surpresa pelo
anúncio do fim das operações do canal Esporte Interativo, com o qual haviam
fechado acordo para transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro em TV
fechada entre 2019 e 2024.
A partir de agora os departamentos
jurídicos das equipes começarão a analisar a situação – alguns já falam até em
conseguir brechas para romper os contratos sem pagar multas rescisórias.
Os times da Série A afetados pelo fim do
canal são Palmeiras, Inter, Atlético-PR, Paraná, Bahia, Santos e Ceará.
Todos haviam começado em 2016 o contato
com o Esporte Interativo e não foram avisados previamente.
A informação foi divulgada ontem na
página oficial da empresa no Facebook.
Quem já manifestou posição mais firme
nos bastidores foram Bahia e Santos.
Os dois times falam em buscar romper o
contrato, pois já estavam descontentes com algumas das condições.
Os demais avaliam o momento e, entre as
atitudes, pensam em levar o questionamento sobre os contratos até a Câmara de
Arbitragem, na Fundação Getúlio Vargas.
A decisão do canal de encerrar as
operações vai fazer com que os jogos dessas equipes como mandantes no
Brasileiro, assim como os da Liga dos Campeões transmitidos pelo Esporte
Interativo, sejam transferidos para os canais TNT e Space.
Ambos fazem parte do Grupo Turner,
empresa americana de mídia, controlador do EI.
"Se forem confirmadas as
informações prévias que a gente tem, somadas aos problemas já identificados no
contrato, o Bahia vai buscar a rescisão via arbitragem, tudo isso com as
respectivas indenizações, para proteger o patrimônio e a imagem do clube",
disse o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani.
O clube que tem o maior acordo com o
canal era o Palmeiras, que vai estudar as implicações sobre a relação
contratual.
A equipe recebeu nos últimos anos “100
milhões de reais” como prêmio pela assinatura.
O montante pago às demais equipes foi
menor, de “40 milhões de reais”.
A diferença entre os valores motivou as
primeiras queixas dos times.
Alguns se sentiram desprestigiados.
Alegavam que a Turner inicialmente havia
prometido valores iguais a serem repartidos entre quem assinasse o contrato.
Como os acordos foram assinados em 2016,
alguns clubes tiveram eleições e trocas de diretoria, com os novos mandatários
insatisfeitos com os contratos previamente firmados e dispostos a conseguir
alterações.
Procurada, a Turner afirmou que não
comentaria o caso porque os contratos com os clubes estão protegidos por
cláusulas de confidencialidade.
A empresa diz que se compromete a
cumprir todos os contratos.
SÉRIE
B
O fim do Esporte Interativo também
afetas clubes das séries B e C.
Coritiba, Ponte Preta, Sampaio Corrêa,
Criciúma, Joinville, Paysandu, Fortaleza também haviam fechado contrato com o
canal para transmissão de jogos a partir de 2019.
Para os clubes nordestinos o impacto
pode ser ainda maior, pois a empresa transmitia também outras competições, como
a Copa do Nordeste (contrato até 2022) e o Campeonato Cearense (acordo por mais
duas temporadas) – para esses torneios, a empresa afirmou que "está
procurando encontrar soluções para a exibição desses campeonatos".
O vice-presidente do Fortaleza, Marcelo
Desidério, disse que o clube se preocupa com o futuro da negociação, pois, de
acordo com o canal em que as partidas dos torneios regionais são transmitidos,
é possível fechar acordos mais vantajosos de patrocínio.
"Nós temos ainda um contrato extra-assinado
em caso de acesso à Série A. Esperamos que eles cumpram o combinado",
afirmou Desidério.
'O
canal fez planos ambiciosos demais'
O
Esporte Interativo fez planos ambiciosos que não se confirmaram.
Provavelmente,
eles não tiveram a rentabilidade desejada e deixaram de lado a principal força
deles, os atrativos digitais, como redes sociais, sites e aplicativos.
Mas
deixaram de rentabilizar isso para tentar comprar direitos de TV, uma área em
que era a grande especialidade das concorrentes, como Globo e Fox.
Com
isso, acabaram esquecendo qual era a principal força deles.
Gastaram demais ao
tentar crescer.
Existem
estudos que mostram a queda de assinaturas dos canais a cabo, principalmente
pela mudança no comportamento do consumo de vídeo, sobretudo em dispositivos
móveis.
Quem
assina TV por assinatura, paga por cem canais, mas acompanha de verdade só uns
cinco.
Quando
se consegue consumir esse conteúdo de outra forma, como plataformas streaming,
encontra maneiras mais econômicas e deixa de lado a TV.
*
Professor de Marketing Esportivo da ESPM
(Ciro Campos – Estadão)
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