*Um quarto das amputações tem origem em
problemas corriqueiros, como sapatos apertados e unhas encravadas
O diabetes é uma doença silenciosa que atinge entre 18 milhões e 25 milhões de
brasileiros.
No entanto, 25% das pessoas recebem o diagnóstico acidental, ou seja, não
apresentavam qualquer sintoma que tivesse chamado sua atenção, embora o
organismo já estivesse sendo afetado pelas alterações provocadas pela
enfermidade.
Frequentemente esse paciente procura
atendimento porque apresenta uma lesão no pé e não imagina que tem algo mais
sério.
Esse foi o objeto da minha conversa com o doutor Eliud Garcia Duarte Júnior,
coordenador da Comissão Nacional de Atuação Multidisciplinar de Diabetes e Pé
Diabético da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, que
explicou: “o paciente pode procurar o médico com uma lesão no pé sem saber que é
portador de diabetes há dois, três, cinco anos. Nesse caso, existe a
probabilidade de também haver complicações renais, cardiovasculares e nos olhos”.
E
por que o pé diabético necessita de cuidados redobrados?
Isso ocorre porque a neuropatia
diabética provoca danos aos nervos periféricos, a chamada neuropatia
periférica.
É como se a sensibilidade natural da
pele fosse “desligada” e a pessoa não sente que algo a está incomodando ou
ferindo.
A qualidade da percepção do quente e
frio também embute um risco severo: o diabético pode andar na areia da praia
sem se dar conta de que está quente demais e acabar com uma queimadura.
“A
bolha formada pela queimadura pode ser foco de infecção, assim como muitas
outras coisas pequenas que podem se tornar sérias: calçado apertado, sandálias
com tiras entre os dedos, micoses ou unhas encravadas, uma tachinha no sapato
que arranha o pé e assim por diante”, afirma o médico.
Ninguém deve subestimar a gravidade
dessas lesões: cerca de 20% das internações se devem a problemas nos membros
inferiores e 25% das amputações têm origem em machucados como os que ele
relacionou.
O doutor Eliud aconselha inclusive que
as meias devam ser usadas pelo avesso, para que a fricção da costura interna
não cause nenhum ferimento.
O autoexame é fundamental, para checar
se há lesões, mas um cuidador ou familiar deve se encarregar do processo se o
idoso estiver numa situação de fragilidade.
O indivíduo mais velho tem menos defesas
e, quando se trata de pé, estamos falando de tecidos com menor irrigação
sanguínea, como ossos, tendões e ligamentos, o que dificulta a ação de
antibióticos.
Some-se a isso o fato de 15% dos idosos apresentarem problemas
circulatórios.
A doença arterial tem importante relação
com a hipertensão arterial e o diabetes, ainda mais se o paciente fumar e for
sedentário.
Há uma diminuição progressiva do calibre
dos vasos sanguíneos, principalmente dos membros inferiores.
Estágios avançados da enfermidade podem
levar até à gangrena dos dedos – na verdade o risco de complicações é três
vezes maior para quem é diabético.
“Daí a necessidade de orientação, para que o
paciente consiga controlar a doença e preservar sua qualidade de vida”,
resume o doutor Eliud.
(Por Mariza Tavares/G1 – Rio de Janeiro)
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