O ministro da Educação, Ricardo Vélez
Rodríguez, reconheceu nesta terça-feira (26/02) que errou ao pedir que as
escolas filmassem as crianças cantando o Hino Nacional, sem a autorização dos
pais.
O Ministério da Educação (MEC) enviou um
e-mail para as escolas do país pedindo a leitura de uma carta do ministro e
orientando que, logo após, os responsáveis pelas escolas executassem o Hino
Nacional e filmassem as crianças durante o ato.
O pedido foi alvo de críticas de
educadores e juristas. Na tarde desta terça, a Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão (PFDC), que integra o Ministério Público Federal, afirmou
que encaminhou um "pedido de
esclarecimentos" ao ministro. Segundo a PFDC, Vélez Rodríguez tem 24
horas para apresentar uma justificativa ao pedido "fundamentada nos preceitos constitucionais e legais a que estão
submetidos todos os agentes públicos".
A carta é encerrada com as frases "Brasil acima de tudo" e "DEUS acima de todos", que foram o
slogan da campanha do presidente Jair Bolsonaro nas eleições.
"Eu percebi o erro, tirei essa
frase, tirei a parte correspondente a filmar crianças sem a autorização dos
pais. Evidentemente, se alguma coisa for publicada, será dentro da lei, com
autorização dos pais", afirmou.
Questionado quando retirou o trecho do
slogan, respondeu: "Saiu hoje de circulação".
O ministro deu a declaração na manhã
desta terça no Senado após se reunir com o presidente da Casa, senador Davi
Alcolumbre (DEM-AP).
Em seguida, ele participou de uma
audiência na Comissão de Educação para apresentar aos senadores as diretrizes e
os programas prioritários da pasta.
Durante a audiência, Vélez foi
questionado por senadores sobre o conteúdo da carta enviada às escolas e
repetiu que se tratou de um erro.
“Cantar o Hino Nacional não é constrangimento,
não, é amor à pátria”, disse.
E acrescentou: “O slogan de campanha foi um erro,
já tirei, reconheci, foi um engano, tirei imediatamente. E quanto à filmagem,
só será divulgada com autorização da família”.
Diante dos questionamentos da senadora Eliziane
Gama (PPS-MA) sobre o fato de que a autorização da família não constava do
texto original da carta, Vélez respondeu que “constava como algo implícito
dentro da lei”.
A senadora, então, contestou: “Estava
na sua cabeça. Na carta, não”.
NOVA
CARTA
O MEC informou, por meio de nota, que
enviará ainda nesta terça a escolas do país uma carta atualizada do ministro
para que seja lida pelos responsáveis pelas instituições de ensino de forma
voluntária no primeiro dia letivo deste ano.
A nova carta não contém trecho que foi
utilizado durante a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência.
"A carta a ser lida foi
devidamente revisada a pedido do ministro, após reconhecer o equívoco, tendo
sido retirado o trecho também utilizado durante o período eleitoral",
informa a nota do MEC.
De acordo com o MEC, o e-mail a ser
enviado com a nova carta pede que, após a leitura da mensagem do ministro,
professores, alunos e demais funcionários da escola fiquem perfilados diante da
bandeira do Brasil, se houver na unidade de ensino, e que seja executado o Hino
Nacional.
Segundo o MEC, a escola que quiser
atender voluntariamente o pedido do ministro, deve filmar trechos curtos da
leitura da carta e da execução do Hino, mediante autorização da pessoa filmada
ou de seus pais ou responsáveis.
Os vídeos devem ser enviados ao MEC que
para uso institucional. De acordo com o MEC, a atividade faz parte da política
de incentivo à valorização dos símbolos nacionais.
A nova versão da carta tem a seguinte
redação, segundo o MEC:
"Brasileiros! Vamos saudar o Brasil e celebrar a educação responsável e
de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício
de vocês, alunos, que constituem a nova geração."
PROTESTO
Quando fazia uma apresentação inicial no
Senado, o ministro teve que interromper a sua fala devido a um ato que
manifestantes pretendiam fazer no fundo do plenário da comissão.
Vestindo camisetas da União Nacional dos
Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES),
duas estudantes iam começar a escrever cartazes quando foram abordadas por
policiais legislativos.
Uma delas amarrou à boca uma faixa usada
para atadura como se estivesse amordaçada.
A outra ia amarrar também, mas uma
policial legislativa arrancou a faixa da mão dela.
O presidente da comissão, senador Dário
Berger (MDB-SC), explicou que manifestações são proibidas nas audiências e
somente os parlamentares têm direito à palavra.
Impedida de amarrar a faixa, a estudante
Bruna Brelaz, que é diretora de relações institucionais da UNE, protestou
dizendo que pretendiam fazer apenas um protesto silencioso e que expulsar os
estudantes seria antidemocrático.
Após alguns minutos de impasse, as
manifestantes puderam permanecer no plenário da comissão, mas sem fazer
qualquer protesto.
Brelaz explicou ao G1 que o objetivo do
ato era manifestar repúdio às recentes declarações de Vélez.
"Acredito que a escola tem que ser
democrática e que o estudante tem o direito de dar opinião dentro e fora da
sala. E as últimas declarações do ministro vão contra isso",
disse.
(Por Fernanda Calgaro, G1 — Brasília)
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