Indicado
pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), o general do Exército
Jesus Corrêa disse ao Estado que vai adotar no órgão responsável
por executar a reforma agrária e o ordenamento fundiário nacional o
modelo de retirar a “gema ruim” sem quebrar o “ovo”.
"Se
a gente tiver de tirar dali uma gema que está estragada, se for de
forma precipitada, vai quebrar o ovo”, afirmou.
De forma cautelosa,
o novo presidente do Incra afirmou que todos os processos serão
analisados, incluindo distribuição de títulos, para que o governo
tome medidas corretivas, mas “sem atropelo ou estresse
institucional”.
De
acordo com o general, a negociação no Incra agora será direta, sem
intermediários.
Tem
alguma meta de assentamentos neste ano?
Há
uma concreta intenção por parte do governo de dar celeridade ao
processo de titularização.
Então,
os títulos de terra, que têm de ser distribuídos, que estão com
seu processo em andamento, a intenção do governo Jair Bolsonaro é
tocar isso aí pra frente.
O
resto, vou tomar conhecimento esta semana, inclusive das diretrizes a
serem emanadas pelo Ministério da Agricultura [órgão ao qual o
Incra está atualmente subordinado].
O
governo vai checar e revisar repasses irregulares de terras de
assentamento para terceiros ou fazendeiros?
Essas
práticas indevidas que podem estar sendo levadas a cabo deverão ser
verificadas para que possamos adotar procedimentos cabíveis, tudo
dentro da lei, tomando como referência a legislação que sustenta o
procedimento de demarcação de terras, separação das terras,
distribuição e titularização e as verificações cabíveis caso
algo esteja ocorrendo de forma incorreta.
Tudo isso, eu vou, de fato,
buscar me assenhorar assim que eu assumir as funções.
Vai
ter uma investigação em relação às fraudes de repasse de títulos
de terra?
O
que posso adiantar é que cada setor que tem responsabilidade dentro
do Incra deverá apresentar a situação da condução da sua
atividade.
Esse
é um dos temas que será abordado: como está sendo feita a
distribuição dos títulos e se existe algum processo viciado ou com
problemas que requeiram a gente tomar alguma medida corretiva.
Dentro
do diagnóstico, para verificar cada ponto que precisará ser atacado
e tudo dentro de uma progressividade de atuação para poder ser
feito tudo, dentro do tempo certo, sem atropelo ou estresse
institucional.
Se
tem de ser feita alguma coisa, se alguma medida tem de ser adotada,
com relação a algo que vá bem ou algo que não vá bem,
principalmente aquilo que não está indo bem.
Sempre
tive na minha cabeça que quando trabalho em uma estrutura
institucional – eu comandei regiões militares, que são órgãos
sensíveis dentro do Exército – a regra é a gente, se ter de
tirar a gema do ovo, ela vai ser retirada sem quebrar o ovo.
Então,
se alguma coisa tiver de ser feita, a instituição tem de continuar
saudável, tem de continuar com a sua personalidade preservada, com a
sua credibilidade.
Então,
se a gente tiver de tirar dali uma gema que está estragada, se for
de forma precipitada, vai quebrar o ovo.
Se
tiver de fazer alguma coisa, a gente vai tirar a gema do ovo ruim,
mas o ovo será preservado.
Quem
recebeu a terra do governo e a vendou indevidamente será enquadrado
na forma da lei?
Se
há um ato jurídico perfeito que está com respaldo das leis, é
algo que vai ser observado dentro da legalidade.
Mas
aquilo que for ilegal, terá de ser apurado como ilegalidade.
É
dentro desse escopo.
E o setor jurídico especifico do Incra tem
condições de apresentar as orientações sobre o que deverá ser
feito.
Diante
do problema verificar qual a forma de abordá-lo, tudo dentro do
chapéu da Constituição e das leis, do Estatuto da terra e das
medidas que fazem parte da sistemática desenvolvida pelo Incra.
Punição
seria reverter a terra para o Estado?
No
momento, não posso fazer uma abordagem dentro dessa ótica porque
tenho de verificar quais são as providências cabíveis a serem
tomadas em cada caso.
A
farra dos sem-terra acabou neste governo, como disse o secretário
especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia ao
Estado?
Não
entro nesta seara do que foi dito pelo secretário.
O
secretário tem autoridade para expressar seu pensamento.
Nós
vamos trabalhar dentro das diretrizes que recebermos do governo
federal, do presidente Jair Bolsonaro, do Ministério da Agricultura.
Tudo
isso vai ser colocado neste chapéu do governo federal para que a
gente faça aquilo que temos de fazer, com tranquilidade, dentro da
lei e dentro do que o governo federal se propõe que é estabelecer a
justiça no campo, a justiça social, que é um dos objetivos
principais do governo do presidente Jair Bolsonaro.
O
governo federal vai aceitar invasão de terra?
Atos
ilegais, o governo vai considerar como atos ilegais.
Esta
é uma prática de qualquer governo.
Faz
parte do governo ele ser o guardião da lei e da ordem.
O
governo vai atuar de acordo com aquilo que lhe faz parecer
juridicamente correto, no momento certo.
Disso
não tenho a menor dúvida.
Qual
será a sua relação com MST? O sr. vai receber o MST?
O
que posso adiantar, dentro da minha ótica, e da ótica do governo,
pelo menos o que tenho acompanhado até agora, a ideia é que
mantenhamos o diálogo com aquelas entidades que possuam existência
e identidade jurídica.
Para
uma possibilidade de interlocução, julgo imperativo que essa
entidade considerada não esteja à margem da lei.
Então,
essa fotografia nós vamos tomar para verificar com quem poderemos
falar ou não, se é juridicamente representada ou não.
Essa
vai ser a linha.
Se
tiver algum movimento social ou alguma organização não
governamental que esteja com essa situação condizente, nós
poderemos conversar, mas vai depender de como a coisa vai acontecer.
Teme
que haja aumento de invasões em contraponto ao governo?
Não
acredito que este artifício venha a ser utilizado principalmente
porque o governo está pretendendo realizar ações de amplo espectro
social.
Se
isso realmente vier a acontecer é algo que vai ter de ser analisado
no momento oportuno.
Terá
alguma ação voltada aos que estão às margens das estradas?
Vamos
buscar o contato direto com aquele que é o necessitado, que está
precisando ser assentado, sem intermediários.
Essa
é uma diretriz.
Algumas
reuniões têm sido promovidos pelo governo federal com os
interessados, como aconteceu com indígenas na sexta-feira, com a
presença da Funai.
É
a ideia de fazer o contato para dar celeridade ao processo, ao mesmo
tempo que querermos verificar as diversas a realidades do País.
Queremos
buscar este canal direto para dar prioridade aos processos pendentes
e ver os que são prioritários.
O
sr. está falando muito em canal direto. A ideia é que não se
aceite intermediação de qualquer movimento?
A
ideia é realmente nós falarmos direto com quem realmente está
sendo afetado.
Movimentos
e ONGs normalmente acabam sendo um intermediário entre o governo e
aqueles que necessitam de uma ação mais célere.
Intermediário
maléfico ou benéfico?
Vai
depender.
É
como eu disse anteriormente, aquelas instituições com representação
jurídica estão dentro da lei serão consideradas como portadoras de
legitimidade jurídica para poder conversar conosco.
O
MST é uma instituição que não tem CNPJ. O sr. não vai falar com
o MST?
Reafirmo
que a entidade que tiver representatividade jurídica, que nós
possamos ter a interlocução, nós vamos conversar.
Se
no futuro movimento A, movimento B ou movimento C, tiver condição
jurídica que possa sentar à mesa para que possamos conversar, que
ele tenha responsabilidade jurídica e aja dentro da lei, não há
nenhum impedimento, a gente conversa.
Dentro
de uma democracia e dentro das orientações que o governo federal
tem estabelecido, a ideia é um amplo diálogo para que a gente possa
agir dentro do que a nossa população espera.
Agora,
se a gente não conversar com aqueles segmentos que são afetados, a
gente não vai conseguir levar a cabo o que tem de ser feito.
Por
isso a ideia de buscar o contato direto.
A
gente viu na sexta–feira parte das lideranças indígenas, ao serem
recebidas e ouvidas, com os assuntos sendo discutidos, saíram
extremamente satisfeitas com essa forma de trabalho.
Muitas
vezes não temos solução imediata, mas a gente conhece com
profundidade aquilo que estão pedindo de fato.
O
sr. não quer responder ao MST?
Não.
No
momento, ainda não assumi, não tenho agenda perfeitamente definida.
Minha ideia é me prender àquilo que é a razão do Incra, dentro da
sua plenitude.
Invasões
de terra não serão toleradas?
Essa
pergunta tem de ser direcionada a todas as autoridades do governo
federal porque uma invasão de terra é um ato que afronta contra a
propriedade.
Temos
de colocar isso dentro do que prescreve a Constituição Federal na
hora que protege a propriedade e as medidas decorrentes dependendo de
onde isso aconteça, as medidas de caráter federal ou estadual são
várias.
Não é uma responsabilidade unilateral de um órgão ou
outro.
Impõe
aí a participação de vários setores, não necessariamente em
relação ao Incra.
Fala-se
que o Incra está tomado por influência político-partidária. O sr.
vai fazer um pente fino nisso?
Já
há uma diretriz do presidente Jair Bolsonaro quanto à maneira de
conduzir todos os processos no governo federal, que batem de frente o
que a senhora acabou de colocar.
Quando
eu assumir a função, esse assunto será analisado e vai ter a
atenção devida, junto com as demais autoridades, que têm de
participar da solução.
As
soluções precisam ser conjuntas envolvendo todos os setores.
O
sr. pretende chegar fazendo uma “limpeza” no Incra?
Não
digo isso.
Minha
maneira de proceder durante toda minha vida profissional sempre foi
de conduzir os processos com harmonia.
Aquilo
que tem de ser feito eu sempre procurei fazer e não gosto de ficar
fazendo estardalhaço, alardeando.
Minha
postura sempre foi discreta.
Sempre
comandei e conduzi meu trabalho evitando a personalização das
realizações.
Pretendo
ouvir as pessoas que vão trabalhar comigo, verificar o que está
acontecendo, ver as medidas que precisam ser tomadas, e aquilo que a
gente tiver de adotar como procedimento, com tranquilidade, vamos ir
implementando porque há muita coisa a ser feita em qualquer
instituição que a gente vá trabalhar.
Essas
realizações, dentro da minha ótica, dentro da maneira como
procurarei conduzir as minhas ações, acontecerão numa
progressividade e no tempo certo.
Não
tenho a menor intenção de sair atropelando o processo ou mesmo
querendo trabalhar sob a égide de uma espada na cabeça das pessoas.
Eu
não trabalho dessa forma.
Isso
não quer dizer que o sr. fará o que tiver de ser feito no Incra?
Pode
ter certeza absoluta que a minha intenção é realmente cumprir a
missão que deverei receber, que é conduzir o Incra dentro da
normalidade processualística interna de seu pessoal, que se espera
de conduta do seu pessoal, que se espera do presidente, do povo e por
parte de todos. Isso é líquido e certo.
Sem
influencia político-partidaria?
Procuraremos
conduzir dentro das diretrizes do governo, tendo a independência
para trabalhar. Não quero usar expressão sem influência política.
Porque
sabemos que muitas articulações acontecem.
No
entanto, existe uma orientação do presidente, e por mim será
observada.
Meu
farol será a diretriz do presidente em relação a essas questões
que a senhora está abordando.
Estarei
trabalhando alinhado e sob o comando do governo federal, alinhado com
os objetivos que o governo federal estabelecer para a autarquia,
independente de qualquer outra situação.
Vou
empreender o que receber como diretriz.
O
sr. não responde se o órgão funcionará sem interferência
partidária?
Minha
resposta é: vou trabalhar de acordo com a diretriz que foi
estabelecida pelo presidente Jair Bolsonaro em relação a este
assunto.
O
que me foi passado em relação a esta questão, eu creio que foi o
que o presidente vem falando desde a campanha, e vem realizando.
O
presidente tem dito que os órgãos federais têm de ter os cargos
ocupados por questões técnicas e não politico-partidárias.
Exatamente
esta é a diretriz nas qual eu me amarrarei.
(Tânia
Monteiro/ O Estadão)
BOA SORTE, EXCIA. QUE DEUS O PROTEJA NESTA DIFÍCIL EMPREITADA :.
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