O principal suspeito pelos ataques a
tiros em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, que deixaram ao
menos 49 mortos nesta sexta-feira (15/03), planejou meticulosamente um atentado
voltado para a era da internet.
Ele transmitiu o massacre ao vivo pelo
Facebook e publicou um longo manifesto repleto de piadas internas voltadas para
os que estão familiarizados com o universo obscuro da internet.
Assim, o australiano de 28 anos Brenton
Tarrant, que foi acusado formalmente de homicídio na manhã deste sábado (16),
se transformou no mais recente exemplo de um ataque a tiros ligado a
comunidades online que propagam extremismo e violência.
Nesta mesma semana, o massacre em uma
escola pública em Suzano, na Grande São Paulo, também chamou atenção por sua
ligação com o mundo virtual, mais especificamente para o universo da chamada dark web – a internet obscura, ou seja, áreas da rede intencionalmente mantidas escondidas,
não rastreáveis e que não podem ser acessadas por um navegador comum.
O jornal Folha de S. Paulo, que vem
acompanhando a reação ao ataque a tiros em Suzano – cometido por dois ex-alunos
da escola, de 17 e 25 anos, e que deixou oito mortos –, apontou que a
comemoração do massacre começou minutos depois de ele ser noticiado nos
chamados chans, fóruns que permitem postagens anônimas e são acessíveis apenas com um
navegador que mascara os dados do usuário.
Antes do crime, o mais jovem dos
agressores, Guilherme Taucci Monteiro, publicou dezenas de fotos em seu perfil
no Facebook nas quais aparece armado, usando uma máscara de caveira – a mesma
com a qual foi encontrado morto – e fazendo sinais ofensivos.
O perfil do jovem no Facebook foi
removido, mas as imagens seguiram circulando na internet.
Em 2014, quando, antes de matar seis
pessoas e se suicidar em Isla Vista, na Califórnia, Eliott Rodger, de 22 anos,
postou um vídeo e um documento online repleto de ofensas.
Posteriormente, constatou-se que Rodger
tinha ligação com um grupo online misógino conhecido como "incels" ou "celibatos involuntários", que muitas vezes apela à violência contra as
mulheres.
Outro exemplo recente ocorreu no ano
passado, Robert Bowers, acusado de matar 11 pessoas numa sinagoga de
Pittsburgh, nos Estados Unidos, postou ameaças no Gab, rede social popular
entre supremacistas brancos.
A proliferação de ideais extremistas não
é algo novo, seja no mundo real ou virtual, aponta Daniel Byman, pesquisador do
Brookings Institution, ressaltando que pessoas que querem discutir ideias do
tipo muitas vezes acabam se achando.
No entanto, enquanto antes o que se
costumava ver eram grupos pequenos se reunindo pessoalmente, na internet,
consegue-se formar grupos maiores e propagar ideias quase que instantaneamente.
Byman destaca que as pessoas fazem
coisas no mundo virtual que talvez hesitassem em fazer na vida real – de atos
inofensivos até o compartilhamento e encorajamento de visões extremistas e de
violência.
"A internet permite que se seja
mais ousado", afirma o pesquisador.
Nesta sexta-feira, o manifesto de
Tarrant rapidamente se espalhou no fórum 8chan.
O documento de 74 páginas está repleto
de teorias da conspiração populares da extrema direita sobre como europeus
brancos supostamente estariam sendo substituídos por imigrantes não brancos.
O texto sugere que a ideologia
neonazista e a imigração motivaram o atentado.
O Brasil é mencionado na seção em que o
terrorista faz críticas à diversidade racial.
Especialistas viram semelhanças com o
manifesto de 1.500 páginas escrito pelo norueguês Anders Behring Breivik, que
matou 77 pessoas em 2011 motivado pelo ódio ao multiculturalismo.
O manifesto de Tarrant parece destinado
a alimentar as comunidades online das quais ele fazia parte, usando ironia ao
abordar temas comuns da internet.
"Você aprendeu violência e
extremismo com videogames, música, literatura, cinema?", Tarrant
pergunta a si mesmo.
"Sim, Spyro the dragon 3 me
ensinou etnonacionalismo", escreve, aparentemente de maneira
sarcástica, em referência a um jogo de PlayStation indicado para crianças de
dez anos de idade ou mais.
Tarrant também menciona o Fortnite,
popular jogo online de batalha, negando que o game o tenha treinado para ser um
assassino.
Após o manifesto de Tarrant e o massacre
na Nova Zelândia, Mary Anne Franks, professora de Direito na Universidade de
Miami e presidente da Cyber Civil Rights Initiative, defendeu uma maior
vigilância de plataformas de rede social.
"Está bastante claro que a pessoa
envolvida [no massacre] foi radicalizada online", afirma.
"As conversas nesses chats e
fóruns, com piadas internas e memes, são parte do cultivo de um certo tipo de
pessoa radical nestes espaços."
Na transmissão ao vivo que Tarrant fez
do ataque em uma mesquita da cidade neozelandesa de Christchurch, durante 17
minutos, ele afirma: "Lembrem-se, pessoal, assinem o PewDiePie."
Trata-se de uma alusão a Felix Kjelberg,
youtuber alvo de controvérsia devido a vídeos que incluem piadas antissemitas e
referências ao nazismo.
Kjelberg condenou o massacre nesta
sexta-feira.
Byman afirma que o fato de o ataque ter
sido transmitido ao vivo no Facebook chama atenção para como a cultura da
internet permeia hoje o mundo real.
Hoje em dia é comum transmitir
acontecimentos cotidianos ao vivo, incluindo confrontos com policiais, destaca
o pesquisador.
Facebook, Youtube, Twitter e outras
plataformas que permitem que pessoas façam o upload de seus próprios conteúdos
foram duramente criticadas após os ataques na Nova Zelândia, por permitirem a
difusão de postagens e vídeos violentos e com discurso de ódio.
Horas depois do ataque, as plataformas
acabaram removendo as imagens divulgadas por Tarrant.
Também foram tiradas do ar as contas do
australiano nas redes sociais.
No entanto, críticos afirmaram que as
empresas demoraram demais para agir e argumentam que a postagem do vídeo do
ataque deveria ter sido impedida desde o início.
(Por www.dw.com)
*A Deutsche Welle é a emissora
internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
ANALISANDO FRIAMENTE OS PRÓS E CONTRAS, A INTERNET É MUITO MAIS MALÉFICA DO QUE BENÉFICA !!!!
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