Morreu na manhã deste domingo (28/07) a
atriz Ruth de Souza, de 98 anos.
Ela estava internada desde o começo da
semana no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D'Or, em Copacabana,
na Zona Sul do Rio, vítima de uma pneumonia.
A causa da morte não foi informada pelo
hospital.
Com mais de 70 anos dedicados à
dramaturgia, Ruth de Souza é ícone de várias gerações de atores.
Ela foi pioneira ao longo de sua
carreira: foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do
Rio e a construir carreira na dramaturgia.
Foi também a primeira brasileira
indicada a um prêmio internacional de cinema – no Festival de Veneza de 1954.
TRAJETÓRIA
Ruth de Souza Pinto nasceu em 12 de maio
de 1921, no bairro do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Passou a infância com a família em Porto
do Marinho (MG) e, após a morte do pai, voltou ao Rio com a mãe.
Viveram em uma vila de lavadeiras e
jardineiras em Copacabana.
Interessada em teatro, procurou e se
uniu ao Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e
Agnaldo Camargo.
Foi com o grupo que, em 8 de maio de
1945, atuou pela primeira vez no Theatro Municipal, que até então só tinha
recebido atrizes brancas e ajudou a abrir as portas para artistas negras no
Brasil.
A peça encenada foi "O Imperador
Jones", de Eugene O’Neil.
Na porta do hospital, familiares
disseram que tentam que o velório de Ruth seja realizado no Theatro Municipal.
Ainda não há, no entanto, a confirmação.
"Ela merece essa homenagem da
família, e os fãs também merecem, né, dar esse adeus para ela, porque a gente
sabe que tem muita gente que gosta dela (...) Minha tia foi uma pessoa muito
importante para a família toda. Uma pessoa de muita garra, uma pessoa que
sempre deu conselhos, presente demais na família. Era tipo a matriarca da família",
declarou Midori de Souza, sobrinha-neta de Ruth.
MAIS
DE 20 NOVELAS
Na televisão, foi uma das pioneiras.
Passou pela TV Tupi, pela Record, TV
Excelsior e, em 1968, Ruth de Souza foi contratada pela Globo para atuar na
novela "Passo dos ventos", onde interpretou a mãe de santo Tuiá, uma
mulher sábia cujos antepassados eram escravos, no Haiti.
Seu último trabalho foi na minissérie
"Se eu fechar os olhos agora", que foi ao ar este ano, na Globo.
Na história recriada por Ricardo
Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, ela viveu Madalena.
Idosa e abandonada, a personagem era "adotada" pelos meninos Paulo
Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser
assassinada de forma brutal e misteriosa.
Filha de um lavrador e de uma lavadeira,
desde criança Ruth sonhava em ser atriz.
“Eu era apaixonada por cinema. Queria ser
atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim:
‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio
chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia", declarou a
atriz no site Memória Globo.
Como uma das pioneiras da TV brasileira,
a atriz participou de programas de variedades e musicais no início das
transmissões da TV Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a
peça "O filho pródigo", que havia encenado no Teatro Experimental do
Negro.
A primeira novela foi "A deusa
vencida" (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.
Na Globo, a atriz atuou em mais de 20
novelas.
Entre elas: "A cabana do Pai
Tomás", "Pigmalião 70", "Os ossos do barão", "O
rebu", "Duas vidas" e "O clone".
Em "Sinhá Moça" Ruth fez uma
dupla inesquecível com Grande Otelo.
Também atuou em seriados como
"Memorial de Maria Moura" e "Na Forma da Lei".
CARREIRA
NO CINEMA
No cinema, Ruth participou de mais de 30
filmes, incluindo a versão para a telona de "Sinhá Moça", de Tom
Payne.
O longa levou Ruth a concorrer ao prêmio
de melhor atriz do Festival de Veneza de 1954.
Em entrevista ao Memória Globo, ela
lembra que, por pouco, não levou o prêmio e ainda superou atrizes consagradas
como Katherine Hepburn e a Michèle Morgan – Lili Palmer foi a vencedora.
“Era muito importante o festival, Veneza, o
festival de Veneza naquela época acho que era mais importante que o de Cannes,
era muito importante. E aí, quando veio a notícia de que Lili Palmer tinha ganho
o prêmio e eu tinha perdido por dois votos. Dois votos... Então, a Katherine
Hepburn e a Michèle Morgan ficaram para trás, ficaram em quarto lugar, não
sei.. Para mim, foi como se eu tivesse ganho o prêmio, foi muito importante
para a minha carreira, inclusive", contou Ruth.
A atriz esteve também no clássico
"O assalto ao trem pagador" (1962), de Roberto Farias, e "As
filhas do vento", de Joel Zito Araujo, com o qual foi premiada no Festival
de Gramado de 2004.
Ruth de Souza era grande admiradora do
cinema por entender que era onde o artista negro tinha mais oportunidades.
"O cinema sempre deu mais
oportunidade para o negro, desde o Grande Otelo. Eu tive sorte na continuidade
de trabalho, tanto no teatro quanto na televisão. Sempre tive trabalho, mas são
poucos os negros que têm. Isso foi benção de Deus”, declarou.
(Por G1 Rio)
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