(Vereador Gilberto Natalini) |
*Gilberto Natalini (PV-SP) conta em
entrevista ao iG como Ustra o torturou dentro do DOI-Codi, em São Paulo:
"Sou uma vítima do herói do presidente"
“Eu
fui torturado pelo coronel Ustra.
Aos
19 anos, em 1972, quando eu era estudante de medicina, fui preso pela ditadura
militar e levado para o DOI-Codi [órgão de repressão do regime].
Fiquei
lá cerca de 45, 60 dias; não lembro bem agora.
O
Ustra comandava as sessões de terror.
Eu
fui torturado pela mão dele e da equipe dele, várias vezes. Colocavam duas
latas de Neston [de alumínio], me faziam subir nelas, molhavam meu corpo com
água e sal, ligavam fios em toda parte e disparavam os choques.
Era
a noite toda: choque elétrico e paulada nas costas, com uma vara de cipó, que o
Ustra usava para me chicotear.
Estou
descrevendo uma das formas que eles adotavam, mas não me peça para narrar
todas, porque é muito doído para mim.
A
tortura pesada durou mais ou menos um mês.
Choque
nos ouvidos era todo dia.
Sou
deficiente nos meus ouvidos, de choque elétrico que o Ustra me deu.
Fiquei
com sequelas permanentes.
Perdi
60% da capacidade de ouvir na orelha direita e 40% na esquerda.
Você
não faz ideia do que é o choque no ouvido.
Quando
eles ligam a corrente elétrica, você grita.
E,
quando você grita, surge uma faísca que pula de um lado da boca para o outro.
Isso
queima toda a sua mucosa bucal.
Descasca.
Fica
em carne viva.
É
impossível você não gritar, porque não consegue suportar.
Todo
mundo grita na dor.
Ali
era uma casa de horrores.
Uma
vez eu vi pendurarem um homem de cabeça para baixo, pelo pé, e deixarem quase
48 horas assim.
Quando
foi retirado, ele tinha tido uma apoplexia cerebral, e ficou lesado da cabeça.
Eu
vi um outro preso entrar vivo, gritar a noite inteira de tanto apanhar e no dia
seguinte sair arrastado pelo pé, morto, todo ensanguentado.
A
gente viu coisa que nunca esquece.
O
Ustra era o nosso terror, porque coordenava tudo.
Quem
vai esquecer uma cara daquela?
Aquilo
é a própria cara da bestialidade, da monstruosidade.
Ele
torturava jovens e velhos, mulheres e homens, crianças.
Até
matar.
Ele
e os paus-mandados dele.
A
equipe era toda de monstros.
E
ele ria, debochava, tirava sarro, numa boa”.
Idolatrado pelo presidente Jair
Bolsonaro (PSL), o ex-chefe do DOI-Codi Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o
primeiro militar brasileiro a responder a processo e ser condenado por tortura
durante a ditadura militar (1964-1985).
Uma das pessoas que sofreram na mão dele
foi médico e vereador em quinto mandato Gilberto Natalini (PV-SP), que o
considera um "monstro" e diz que ele não pertencia à "raça
humana".
"Em agosto de 1972, fiquei lá [no
DOI-Codi] mais de um mês apanhando barbaramente do Ustra. Eu perdi 60% da
audição de um ouvido e 30% do outro porque o Ustra fazia questão de dar choques
elétricos nas minhas orelhas para que eu entregasse uma pessoa",
conta o vereador à reportagem do iG .
"O coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra , na época major, me torturou muitas vezes pessoalmente e
também mandou a sua equipe para torturar. Eu sou vítima direta do herói do presidente
do Brasil", acrescenta o parlamentar, que garante que não fazia
parte de nenhuma organização contra o governo militar, mas ainda assim passou
cerca de 30 dias preso em São Paulo.
O motivo de sua prisão, conta, foi por
manter relacionamento com um grupo político que distribuía jornais contrários à
ditadura militar.
Os agentes do DOI-Codi queriam saber
quem era a responsável pela criação e distribuição dos exemplares.
"Eu desmaiei umas três ou quatro
vezes [durante as sessões de tortura], mas o nome não saiu da minha boca.
Estávamos preparados para morrer, mas não entregar ninguém. Era uma questão de
caráter", relata.
Além dos choques elétricos, Natalini
conta que Ustra utilizava outros métodos de tortura, como a cadeira do dragão,
espécie de cadeira elétrica onde a pessoa era amarrada aos
pulsos por cintas de couro e o
torturador amarrava fios em locais do corpo, como orelhas, língua, órgãos
genitais, dedos e seios, no caso das mulheres.
"Uma vez ele me colocou nu sem
sapato em cima de duas latas pequenas, com fios conectados. Jogou água com sal
no meu corpo e me deu choque a noite inteira. Além do choque, ele me bateu
muito, no lombo, nas costas, com pedaço de madeira que era tipo um cipó. Ele
não mandou, ele bateu várias vezes", recorda o parlamentar.
"Foi mais ou menos um mês de
tortura na mão do Ustra. Ele era um monstro, não pertencia à raça humana. Era
um ser bestial que torturava pessoalmente homens, mulheres, jovens, velhos e
crianças", acrescenta, mas ressalta não sentir raiva de seus
piores algozes.
"Eu não tenho ódio do Ustra e dos
outros torturadores. Uma vez, em meu consultório, eu atendi um torturador meu.
Eu o tratei com delicadeza e apenas ao final da consulta eu me identifiquei.
Ele apenas levantou e saiu correndo, sem falar nada", lembra.
Quando questionado sobre as declarações
de Bolsonaro sobre Ustra, a quem o presidente já elogiou abertamente mais de
uma vez, Natalini foi enfático.
"Como médico dou dois diagnósticos
para Bolsonaro: ou ele é insano mentalmente e precisa ser tratado com
psiquiatra ou ele saiu da raça humana e entrou no campo da bestialidade",
diz.
"A tortura está fora da raça humana e não é animalesca porque animais
não torturam. Esse é o diagnóstico que faço como médico pra ele defender e
achar que torturador é um herói nacional",
Natalini também diz que nunca imaginou
que, 34 anos após o fim do período militar no Brasil, iria presenciar um
presidente defender o seu principal torturador.
"Quando ele fala, eu sofro pelo
Brasil. Nunca imaginei isso. Mas eu convoco o presidente Bolsonaro para tentar
voltar à espécie humana. O que ele defende está fora da espécie humana e eu
falo com tranquilidade porque eu vivi e sei o que é tortura: abjeta, ignóbil,
abominável, sem justificativa. 'Ah, mas o cara era terrorista e não sei o quê'.
Não, nada justifica a tortura de um ser
humano sobre o outro",
salienta.
Para ele, as declarações de Bolsonaro,
que já havia exaltado Ustra quando votou pela abertura do processo de
impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016, são pensadas e se
trata de uma estratégia política.
"Ele usa essa estratégia para
haver o debate por dias. Essa coisa de anticomunismo, anti-PT. O PT nunca foi
comunista ou marxista. É mentira dizer que Lula era comunista. Mas é uma
estratégia estudada de Bolsonaro e, na minha opinião, uma estratégia macabra.
Ele joga o Brasil no atoleiro da divisão social e ideológica. Faz com que o
ódio renasça", avalia.
"Com esse tipo de fala, Bolsonaro
levanta o ódio no Brasil e cutuca os fantasmas do País. O insano do Bolsonaro
quem faz isso. O nosso presidente, infelizmente, é insano ou é bestial",
finaliza o vereador, que presidiu a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de
São Paulo, Vladimir Herzog.
(Do IG – Joelmir Tavares/Folha de São Paulo)
DO OUTRO LADO SÓ TINHA ''SANTO''...OS COMUNISTAS ''LUTANDO'' CONTRA A ''DITADURA''(REGIME MILITAR),E AO MESMO TEMPO TENTANDO ATRAVÉS DE ATOS TERRORISTAS IMPLANTAR A DITADURA DO PROLETARIADO,ESSES ESQUERDISTAS SÃO MESMO UMA PIADA...
ResponderExcluirPARABÉNS PELO SEU DISCERNIMENTO. 100% CORRETO !!!!!
ExcluirNa verdade o comunismo nunca existiu de fato. Usa esses termos para dividir as pessoas. E o Lula foi quem mais deu lucro ao capital. Dizer que o PT é comunista é de uma imbecilidade sem procedentes. O fato é que PT e todos os outros partidos possuem uma corja de corruptos.
ResponderExcluirViva nosso heroi brilhante ustra e muitos que nos livrou de sermos uma república socialista comunista.
ResponderExcluirJoão, se na época da ditadura, em que não havia internet e redes sociais, a CIA conseguiu alienar a maioria da analfabetaralhada brasileira com essa história de comunismo, imaginem nos tempos atuais que eles têm a Cambridge Analitica. O Brasil progrediu muito pouco em educação. O gado continua muito alienável.
ResponderExcluirMEU COMANDANTE USTRA, MEU ETERNO LÍDER MORAL E INTELECTUAL !!!!!!
ResponderExcluirQUANTO AOS ANJINHOS TERRORISTAS E SUBVERSIVOS......................