Um dia após receber duras críticas do
ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), o governador João Azevêdo anunciou, nesta
terça-feira (03/12), a desfiliação do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Em carta divulgada ao povo paraibano, o
gestor afirma que chegou a aguardar o restabelecimento do diálogo no PSB, mas,
diante da falta de qualquer atitude de autocrítica depois da intervenção no
Diretório Estadual, sai da legenda “em busca da democracia perdida”.
Leia
a carta na íntegra:
“Saio do PSB em busca da democracia
perdida.
Ao povo paraibano.
Tenho exercido os limites da paciência
para não incorrer nas falhas que a pressa leva sempre a cometermos.
Mas, como humanos, todos temos nossos
limites. E o meu chegou com o PSB, partido ao qual sou filiado e me elegi
governador em 2018.
Desde a dissolução do Diretório
Estadual, em agosto deste ano, sucedido por uma intervenção nacional ou
simplesmente pelo golpe aplicado – segundo companheiros de partido e a imprensa
local, que o incômodo com a situação só se agravava e exigia, mais cedo ou mais
tarde, uma tomada de decisão.
E ela chegou.
Saio do PSB em busca da democracia
perdida.
Muitos achavam que essa decisão deveria
ter sido imediata ao ato de força que culminou com a dissolução do Diretório
eleito em congresso, sem a menor justificativa.
Ou quando foi nomeada uma Comissão
Interventora pela direção nacional da legenda que colocaram meu nome junto com
o senador Veneziano Vital e outros dois companheiros, sem consulta alguma,
nessa tal Comissão Interventora.
Não a tomei em nenhum desses momentos,
embora justificativas não faltassem, justamente para que os ânimos pudessem ser
serenados, o diálogo restabelecido e a ordem verdadeiramente democrática
voltasse a predominar no PSB paraibano.
O que se viu, no entanto, foi a falta de
qualquer gesto ou atitude de autocrítica pelo terrível erro cometido com a
bonita história de nosso partido na Paraíba.
Nos nivelamos a legendas autocráticas,
de ocasião, sem zelo pelos mandatos eletivos em andamento.
E pensar que o partido acaba de realizar
evento nacional para promover uma Autorreforma.
Sem democracia interna não existem
sequer reformas, imaginem autorreforma.
A democracia que defendemos não deve ser
um conceito vago, um ser abstrato, que se usa quando convém, para embasar as
próprias teses e dar ganho de causa a argumentos e procedimentos.
Democracia é uma palavra viva que
precisa estar presente no nosso dia a dia.
E eu procuro praticá-la nas minhas
atividades, no cotidiano, com minha equipe, com amigos, com companheiros e
companheiras, na relação com a comunidade, com as instituições e os movimentos
sociais.
Uma prática que adoto em família,
compartilhando com minha esposa e estendendo esse conceito a filhos e netos,
como um legado de vida.
Mágoas e rancores não cabem em meu
coração.
Apenas lamentações.
A primeira, por ter que deixar o partido
pelo qual fui eleito.
Sem antes deixar de agradecer a todos os
militantes, dirigentes e colaboradores que confiaram nas nossas propostas e têm
hipotecado solidariedade irrestrita nesse momento tão delicado.
A segunda e última lamentação eu não
poderia deixar de registrar, porque essa dói profundamente e não vou guardar
apenas comigo, pois isso faz mal à alma.
Ironicamente, as maiores críticas ao
nosso Governo nesses 11 meses não vieram da oposição, dos partidos políticos,
dos sindicatos e associações de classe, dos deputados na Assembleia, da
imprensa, dos artistas e intelectuais, das universidades e da sociedade em
geral, que têm toda legitimidade para contestar e apontar os caminhos a serem
seguidos pelos governantes.
A maioria das críticas – ou melhor, dos
ataques –, veio de membros do nosso próprio partido.
E não foi do militante lá na ponta ou de
alguém que votou e contribuiu de alguma forma, talvez desgostoso com algum fato
menor ou desentendimento com alguém dos quadros governamentais.
O antagonismo veio de figuras de proa do
PSB, que mesmo antes da Intervenção ou do golpe, já atacavam o Governo,
secretários e o governador.
Cheguei a ser severamente criticado em
entrevistas e redes sociais simplesmente por dar continuidade ao Projeto do
PSB, por sequenciar obras e realizações que não foram concluídas até 31 de
dezembro de 2018 e muitas dadas como concluídas e inauguradas. Mantivemos nomes
e continuamos todos os programas e projetos do Governo anterior, com direito a
ampliá-los, incorporando novas visões e atores sociais.
Mantive grande parte da equipe anterior,
mesmo assim, pelo fato de ter realmente assumido as funções de governador do
estado, tomando minhas próprias decisões, com possíveis erros e acertos, não
foi do agrado de alguns que achavam que continuariam a governar a Paraíba.
Convivi neste período, com boicotes e
sabotagens internos à gestão promovidos por alguns, que apegados a funções e
salários, não tiveram a dignidade de entregar seus cargos, agindo ou não sob
algum tipo de comando superior.
Confesso que ainda não entendi o porquê
disso tudo.
Quais objetivos se escondem – se é que
existem ou foi de ato impensado – para a semeadura de tanta discórdia em uma
legenda que venceu as eleições de forma consagradora e transformou-se na maior
agremiação partidária do Estado.
Mas, como a vida é feita de ciclos,
iniciaremos uma nova caminhada a partir de hoje.
‘A cada chamado da vida, o coração deve
estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias’,
assim escreveu um famoso escritor alemão.
Quero agradecer aos inúmeros convites
que tenho recebido, de dirigentes estaduais e nacionais, para ingressar em uma
nova legenda.
Não abri diálogo e nem avancei em
qualquer tratativa, ante minha filiação anterior ao PSB.
Mas irei fazê-lo neste final de ano, a
fim de iniciar 2020 em uma nova e acolhedora casa.
Não pretendo criar novo partido ou seguir
modismos oportunistas. Acredito que o fortalecimento da democracia passa por
partidos programáticos, ideológicos, com diversidade, unidade e,
principalmente, com eleições internas de seus membros em fóruns regimentais e
respeito às decisões de todas as instâncias partidárias.
Irei mudar de partido porque o meu atual
desconfigurou-se por completo na Paraíba.
Mas os princípios e o conjunto de ideias
que acredito, caminharão sempre comigo.
Vou procurar uma legenda que se afine
com nossa visão de mundo e de Brasil, que não seja sectária, dona da verdade,
que não exerça patrulha ideológica e refute alianças programáticas. Também que
não flerte com o extremismo, com o fanatismo político, seja de direita ou de
esquerda, nem tampouco pratique a idolatria personalista.
Que os discursos para dentro sejam os
mesmos para fora.
Que a verdade seja sempre o que norteie
as decisões.
Que o dinheiro público seja respeitado.
Acredito em um partido que abrace o
pluralismo de ideias, a independência e o respeito entre os poderes; que
professe a liberdade de imprensa e de religião, o estado laico, o
multiculturalismo, o desenvolvimento sustentável, a globalização e a inclusão
social com desenvolvimento; a defesa das causas ambientais, o direito das
minorias e o respeito às famílias; a diversidade, o empreendedorismo e o Estado
para corrigir as desigualdades e também como indutor da economia; os valores
cristãos, sem usar em vão o nome de Deus em atividade política; e, por fim, a
harmonia, o diálogo e a paz social entre nós cidadãos.
Aos amigos e amigas que esperaram por
essa decisão e confiam em nosso trabalho, que com muita humildade e seriedade
vem mantendo e melhorando praticamente todos os índices da Paraíba, em destaque
no cenário nacional, convido-os para nos acompanhar nessa caminhada que se
inicia.
A partir de hoje, vou consultar muitos
de vocês para que tomemos a decisão em conjunto, porque ninguém, sozinho, é
dono da verdade.
Aos paraibanos e paraibanas, meus
sinceros respeitos.
Ajudem-me a continuar trilhando o mesmo
caminho confiado, até o dia 31 de dezembro de 2022.
DEMOCRACIA, SEMPRE!
DITADURA, NUNCA MAIS!"
João Azevêdo Lins Filho
Governador da Paraíba
(Do Paraíba Todo Dia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.