A ex-secretária de administração da
Paraíba Livânia Farias, investigada na Operação Calvário, contou, em delação premiada,
que nove deputados estaduais receberam dinheiro, mensalmente, entre os anos de
2013 e 2014, para aprovar matérias do governo na Assembleia Legislativa da
Paraíba (ALPB).
Segundo Livânia, o empresário Roberto
Santiago, réu na Operação Xeque-Mate, era responsável por entregar o dinheiro.
ENTENDA
A OPERAÇÃO CALVÁRIO
A operação investiga uma organização
criminosa suspeita de desviar R$ 134,2 milhões de recursos que seriam
utilizados na saúde e educação.
A Calvário identificou fraudes em
procedimentos licitatórios e em concurso público, além de corrupção e
financiamento de campanhas de agentes políticos e superfaturamento em
equipamentos, serviços e medicamentos.
Do valor total desviado, mais de R$ 120
milhões foram destinados a agentes políticos e às campanhas eleitorais de 2010,
2012, 2014 e 2018.
Livânia foi presa em 16 de março de
2019.
Segundo o Ministério Público da Paraíba,
ela recebia, por mês, propina de “80 mil reais” paga pela Cruz Vermelha,
Organização Social que administrava o Hospital de Trauma de João Pessoa.
Segundo a delatora, a sugestão do
pagamento para os deputados teria surgido do empresário, que questionou a falta
de habilidade do governo ao lidar com os deputados.
Roberto Santiago teria assumido o
compromisso de que faria a entrega do dinheiro desde que Livânia fizesse os
repasses para ele.
Ela alegou que, com isso, passou a pegar
entre R$ 250 mil e R$ 280 mil, todos os meses, para entregar ao empresário, que
fazia os repasses em montantes que variava entre R$ 30 mil e R$ 50 mil.
A lista
dos deputados contemplados, segundo Livânia, incluiria:
Adriano
Galdino (PSB),
Branco
Mendes (Podemos),
Tião
Gomes (Avante),
João
Gonçalves (Podemos),
Márcio
Roberto (MDB),
Antônio
Mineral (PSB),
Doda
de Tião (PTB),
Eva
Gouveia (PSD),
Lindolfo
Pires (Podemos).
Segundo a delatora, Márcio Roberto, por
ser da oposição, seria o deputado mais beneficiado, e quando os pagamentos
atrasavam, os parlamentares cobravam à ex-secretária.
O mensalão teria sido pago durante os
anos de 2013 e 2014 e parou antes de 2015, após o ex-governador Ricardo
Coutinho (PSB) ser reeleito.
O dinheiro pago aos deputados teria como
origem os repasses feitos pela Cruz Vermelha, Organização Social que
administrava o Hospital de Trauma de João Pessoa.
LEIA
TRECHOS DA DELAÇÃO DE LIVÂNIA FARIAS
Livânia
Farias:
Quando foi em 2013, conversando com ele
[Roberto Santiago], ele disse: “Por que é que tem toda essa confusão aí com
esses deputados? Por que que essas coisas não se resolvem? Vocês não sabem
fazer a questão da política, porque não é assim que se faz política. Vocês têm
que ‘adoçar’ essa briga eterna com essa assembleia. Deixa eu dar uma sugestão
aqui [...]. Olha, tem uns deputados aqui que vocês podem muito bem ‘adoçar a
boca deles’, dar alguma coisa mensal”. Aí eu disse: “E quem é que vai dar esse
dinheiro?”. Ele disse: “Eu não tenho, porque estou com muita despesa”. Eu
disse: “Então se eu repassar o dinheiro para você, você entrega?”. Ele disse:
“Pode trazer amanhã que todo mês você me manda a lista dos deputados e eu mesmo
ligo, eu mesmo entrego e eu mesmo resolvo”. Como a gente recebia o dinheiro da
Cruz Vermelha mensalmente, mesmo que fosse atrasado, mas sabia que esse
dinheiro chegava, então a gente entregava a ele R$ 250 mil, R$ 280 mil,
dependia do mês, e ele fazia o repasse para alguns deputados.
Nesse momento, Livânia Farias lista o
nome dos deputados citados.
Ministério
Público da Paraíba:
Totalizava quantos?
Livânia: Nove. Nove deputados.
MPPB: Você disse que um recebia a mais, como era?
Livânia: Márcio Roberto recebia R$ 50 mil. Tinha uns
que recebiam R$ 30 mil, tinha outros que recebiam R$ 40 mil e tinham meses que
nem todos recebiam.
MPPB: Por quê?
Livânia: Dependia do comportamento na assembleia.
MPPB: Se começasse a ficar arisco, cortava?
Livânia: Isso. Aí aquele mês já não ia. Aí no outro mês entregava. Mas o
dinheiro não voltava pra gente, continuava lá com Roberto para ele fazer isso.
MPPB: Eles tinham ciência de que o dinheiro tinha
origem no governo? Apesar de ser Roberto a passar o dinheiro?
Livânia: Tinham. Porque tinha mês que atrasava, o
dinheiro não era entregue mais ou menos na data, e eles vinham até mim para
cobrar porque não tinha recebido aquele dinheiro ainda. Então eles tinham a
ciência e a certeza que o dinheiro era Roberto que entregava, mas que o
dinheiro não era do Roberto.
MPPB: A senhora sabe dizer quem Roberto incumbia
de entregar esse dinheiro aos deputados? Ou ele mesmo, pessoalmente, entregava?
Livânia: Ele me dizia que ele próprio entregava. Ele
não incumbia a função a ninguém.
MPPB: Os deputados confirmavam isso?
Livânia: Confirmavam, que recebiam dele.
MPPB: O pagamento era para todo mundo, na mesma
época?
Livânia: Era na mesma época. Eu só não sei
especificar se era todo mundo no mesmo dia, mas era na mesma época.
MPPB: Quem levava esse dinheiro para o escritório
de Roberto?
Livânia: Leandro. Leandro quem levava. Bernardo
também.
MPPB: Esse repasse durou até quando?
Livânia: De 2013 a 2014.
MPPB: E aí parou por quê?
Livânia: Porque vieram as eleições de 2014 e aí houve
mudança na assembleia. E aí Roberto não pediu mais, os deputados também não
pediram, aí acabou.
O Leandro citado por Livânia é Leandro
Nunes Azevedo, ex-assessor de Livânia, preso na segunda fase da Operação
Calvário.
Ele chegou a ser flagrado recebendo repasse de dinheiro em uma caixa
de vinho, conforme vídeo mostrado em uma reportagem do Fantástico.
Leandro foi solto em março de 2019 e
cumpre medidas cautelares.
Bernardo é o gestor da Bernardo Vidal Advogados.
Ele é acusado de coordenar um núcleo que
desviava recursos de prefeituras com base na confecção de documentos e
informações falsos, causando prejuízos milionários aos municípios.
A empresa dele chegou a ser contratada
pela prefeitura de João Pessoa entre os anos de 2009 e 2011.
O
QUE DIZEM OS CITADOS:
Adriano Galdino, que atualmente é
presidente da ALPB, publicou uma nota em suas redes sociais nesta segunda-feira
(13/01), onde alega que entre os anos de 2012 e 2014 estava licenciado do
mandato de deputado e atuando como secretário de governo.
O deputado disse ainda “que
defende o trabalho do Ministério Público em toda e qualquer investigação, se
coloca a disposição das autoridades, mas reafirma que o instrumento da delação
por si só não pode ser considerado prova”.
A defesa do empresário Roberto Santiago
informou que não tem como se pronunciar, pois não está sabendo de nada em
relação à delação.
Segundo o advogado do empresário, a
defesa vai buscar mais informações antes de se posicionar.
O deputado estadual Tião Gomes disse que
não tem envolvimento com o esquema citado por Livânia Farias e que está à
disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.
O deputado Branco Mendes informou que
não vai se pronunciar sobre as acusações.
Ele disse ainda que confia na atuação da
Justiça e que vai estar à disposição das autoridades para qualquer
esclarecimento.
O ex-deputado Márcio Roberto informou
que está analisando o caso e que vai se informar melhor antes de dar um
posicionamento oficial.
O deputado estadual Doda de Tião
publicou uma nota em que disse receber com surpresa e indignação as declarações
de Livânia.
O deputado disse que repudia com máxima
veemência as palavras dela e assegura que nunca teve qualquer encontro com a
ex-secretária, a não ser em raríssimas ocasiões em que marcou audiência, com a
assessoria dela, para tratar de assuntos inerentes ao desenvolvimento do
mandato parlamentar.
Doda de Tião disse ainda que nunca viu o
empresário Roberto Santiago pessoalmente.
Por fim, ele disse que se coloca à
disposição de qualquer órgão investigativo ou da Justiça para quaisquer
esclarecimentos.
A ex-deputada Eva Gouveia disse, por
nota, que nunca recebeu recursos ilegais, propinas ou mesadas.
Ela alegou que nunca votou matérias que
tramitaram na ALPB em troca de dinheiro nem de favores.
Eva disse que nunca esteve com o
empresário Roberto Santiago ou com qualquer pessoa ligada à ele.
Na nota, a ex-deputada explica que o
contato que ela teve com Livânia sempre foi institucional e que nunca se envolveu
em escândalos de nenhuma natureza.
Eva também contestou as declarações de
Livânia.
O G1
tentou entrar em contato com Lindolfo Pires e João Gonlçalves, mas as
ligações não foram atendidas até as 19h00.
Também não foi possível entrar em
contato com Antônio Mineral.
(Do G1 PB)
Listinha a ser completada , vamos dona justiça... Dinheiro pra quem já tem e tomando de quem nada tem
ResponderExcluirListinha tá faltando muitos nomes, vamos completar... Bandidos serão expostos
ResponderExcluirPior que não vai adiantar de nada
ResponderExcluirVai preso hoje e amanhã sai....e
Cadê o dinheiro?
Era pra ser preso e só sair quando devolver todo dinheiro.
Mas eles sabem que isso não acontece. ..
Eles nem liga...