*Informação consta em relatório do
Ministério da Saúde; gravidade entre mais jovens seria diretamente proporcional
ao peso
De acordo com os últimos relatos do
governo, existe uma relação importante entre as formas mais graves do novo
coronavírus em pessoas jovens e uma outra doença pandêmica de alta prevalência
no Brasil: a obesidade.
Pelo menos 20% da população do País é
considerada obesa e mais da metade dos habitantes está acima do peso normal.
Dados do Ministério da Saúde divulgados
há uma semana revelam que a obesidade já é considerada o principal fator de
risco nas vítimas da covid-19 com menos de 60 anos - à frente até de problemas
respiratórios e cardiológicos.
Médicos que estão na linha de frente
também já fazem essa constatação.
"Pelo menos 60% dos pacientes que
estão hoje (na sexta-feira) no CTI do Hospital Pedro Ernesto são obesos e são
os de pior evolução", contou a endocrinologista Eliete Bouskela,
da UERJ, que está à frente de um estudo sobre a evolução dos pacientes da
covid-19 do ponto de vista da massa corporal e dos distúrbios de coagulação
sanguínea.
"Depois da idade, esse é o maior
fator de risco."
Um porcentual parecido é constatado na
UTI do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, no Rio, que está
atendendo apenas pacientes com covid-19, segundo contou a endocrinologista
Monica Gadelha.
Mas por que isso acontece?
"O tecido adiposo não é inerte,
não é apenas um estoque de nutrientes; é um tecido ativo e importante para um
grande número de condições fisiológicas e patológicas", explicou
ao Estado a endocrinologista Amy Rothberg, professora associada da Escola de
Medicina da Universidade de Michigan.
"A obesidade contribui para um
estado inflamatório produzindo moléculas chamadas de citoquinas. Elas afetam
outros sistemas, causando estresse celular, falta de oxigenação celular e morte
celular."
À inflamação natural do obeso se junta a
grave inflamação produzida pela covid-19, potencializando a produção das
citoquinas e agravando todo o processo decorrente.
Para piorar a situação, as pessoas com
excesso de peso em geral têm uma capacidade pulmonar mais restrita porque o
excesso de gordura abdominal tende a reduzir o volume da caixa torácica.
Para a endocrinologista da UERJ Eliete
Bouskela, integrante da Academia Nacional de Medicina, os dados mais recentes
estão mostrando que a gravidade do quadro clínico do paciente é diretamente
proporcional ao seu peso.
Ou seja, quanto mais gordo é o
indivíduo, maior a chance de ele ter um quadro grave de covid-19.
De acordo com as especialistas, essa
interação já havia sido notada em outras enfermidades que comprometem o sistema
respiratório, mas nunca de uma forma tão grave.
Ex-presidente da Federação Mundial de
Obesidade, o endocrinologista Walmir Coutinho, diretor do Departamento de
Medicina da PUC-RJ, considera ainda que as condições gerais das Unidades de
Terapia Intensiva agravam o desafio de tratar um paciente com obesidade grave.
"Faltam aos hospitais leitos
apropriados para essa população, a entubação é mais difícil e, frequentemente,
não estão disponíveis aparelhos de imagem que comportem pessoas muito pesadas",
enumerou.
"Nesse esforço de abrir hospitais
de campanha, seria importante levar em consideração as necessidades dos
pacientes obesos", aponta.
"Embora pessoas com o peso normal
possam ficar muito doentes por causa do novo coronavírus, são os obesos que
estão morrendo por comprometimento respiratório."
(O Estadão)
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