*Órgão de inteligência diz que proporção
de casos do Brasil sobre outros países é mais relevante do que aparenta
Nos relatórios enviados ao Palácio do
Planalto, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) destacou a alta
subnotificação de casos da covid-19 por falta de kits para diagnóstico.
O órgão responsável pelas informações
reservadas do presidente destacou que há "dúvidas" sobre a proporção de
infectados pelo coronavírus em relação a outras complicações respiratórias.
Neste cenário, a agência usa a alta de
casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) para estimar suspeitos da
pandemia.
A equipe de inteligência afirmou, no
último dia 12, que a proporção dos novos casos do Brasil sobre dados globais é
mais relevante do que aparenta.
"A participação do Brasil torna-se mais significativa se for considerado
que o País tem 10 a 15 vezes menos testes diagnósticos realizados por milhão de
habitantes que os demais (países) e, portanto, é provável que os números
brasileiros estejam subestimados e sejam de maior proporção do que os
apresentados", diz um dos relatórios.
Para a Abin, "circunstâncias locais" têm grande impacto sobre a
subnotificação de casos.
A agência cita Minas Gerais como
exemplo.
No fim de abril, o órgão observou que os
dados daquele Estado eram pouco confiáveis, pois o número de suspeitos acabava
sendo 30 vezes maior do que o de casos confirmados
Estudo feito pela Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) apontou elevada subnotificação da doença no Estado.
De
janeiro a abril de 2020, Minas registrou cerca de 200 mortos pela covid-19.
No
mesmo período, no entanto, houve 539 óbitos por SRAG, uma elevação de 648%,
segundo o estudo.
Para os pesquisadores, é forte a hipótese de que mortes por
coronavírus não tenham sido identificadas por falta de testes.
Em 13 de maio, a Abin afirmou que o País
está na fase de "aceleração da epidemia".
"Além disso, o Brasil
ainda tem testagem com baixa representatividade (cerca de 3 mil por 1 milhão) e
distribuída de modo não uniforme, o que impossibilita avaliar de forma precisa
a incidência e sua evolução em cada cidade", argumentou a agência.
Desde o começo do avanço da doença, o
Ministério da Saúde estima que 900 mil exames do tipo RT-PCR para covid-19
foram realizados no País, mas o dado é impreciso.
O período de maior
necessidade de exames deve ocorrer em junho, segundo a Abin, por ser o momento
de maior circulação de vírus respiratórios.
Neste mês, a agência acredita que
70 mil testes diários serão feitos.
Cada relatório da Abin sobre o novo
coronavírus tem cerca de 20 a 30 páginas.
A agência analisa o cenário da doença
no Brasil, em cada Estado, e em países de todos os continentes.
Também resume
estudos sobre diagnóstico e impactos econômicos e sociais da pandemia no mundo.
No fim de abril, os agentes apontaram
número "crescente" de mortes em casa, na capital paulista.
Dias mais
tarde, a agência informou que o governo de São Paulo estava com dificuldades
para vencer barreiras alfandegárias e logísticas para importação de
respiradores.
"Autoridades estaduais estariam estudando alternativas de transporte
aéreo, mas o enxugamento da malha aérea internacional impõe dificuldades
logísticas", observou o documento.
CLOROQUINA
Defendida por Bolsonaro, mas sem
evidência de eficácia contra o coronavírus, a cloroquina não é apontada como
medicamento promissor nos relatórios da Abin.
O produto é mencionado nove
vezes.
Nestes trechos, a agência apenas informa que determinado local usa
cloroquina ou que há pesquisa em andamento sobre a eficácia terapêutica, mas
não chega a julgar se é válido ou não apostar no tratamento.
Os documentos mostram, ainda, projeções
de casos e mortes no País para os dez dias seguintes.
Os cenários mais e menos
graves são calculados com base na curva de países como o próprio Brasil, além
de Reino Unido, Itália, EUA, Japão, entre outros.
A aposta no "cenário
referência Brasil" costuma ser certeira, conforme documentos obtidos pela
reportagem elaborados até 13 de maio.
Os dados são retirados de estudos do
próprio Ministério da Saúde.
Desde o começo da crise, técnicos da
Saúde projetam o avanço da doença no País, mas os dados não são divulgados.
(Por Terra)
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