De Jonas Duarte*
Esses cantores nordestinos, forrozeiros,
vêm todos de baixo.
Gil, em sua genialidade disse que o
Baião vem de baixo do barro do chão.
Esses forrozeiros pisaram esse chão
descalços, se equilibrando em corpos franzinos, muitos, famintos.
Gonzaga, o "pai" de todos, por ser negro e pobre não pôde viver sua paixão juvenil por uma estudante (sinônimo de ser rica nos sertões nordestinos dos anos 30) e fugiu de casa, mentindo sua idade, pra entrar no Exército e escapar da fome.
Gonzaga, o "pai" de todos, por ser negro e pobre não pôde viver sua paixão juvenil por uma estudante (sinônimo de ser rica nos sertões nordestinos dos anos 30) e fugiu de casa, mentindo sua idade, pra entrar no Exército e escapar da fome.
Jackson do Pandeiro, descendente de
Quilombolas, era "nêgo fubento" que perambulava nas ruas de Campina
Grande, com balaios de pães na cabeça entregando nas bodegas do Zepa.
Descansava seu corpo franzino e faminto
nos cabarés da cidade onde as proprietárias, generosamente, o abrigava.
Deu em música de gratidão a Zefa
Tiburtina e outras.
Zé Calixto conta que, com um fole velho,
pra ganhar o pão, colocou "broxas" no teclado e tocou com os dedos
sangrando, em carne viva. Tinha entre 10 e 12 anos.
Houve momentos que o acordavam
cochichando sobre o fole, em bailes que varavam a madrugada.
Trabalho infantil.
Pra sobreviver.
Dominguinhos foi pro Rio como retirante.
Pra escapar da fome nordestina, tão
presente naquelas vidas, naqueles tempos.
Pinto.
Negro, pobre, do mato.
Trabalhou árduo ainda criança.
"Bateu" 20 milheiros de tijolo
pra comprar sua sanfona.
Essa é a síntese da história de alguns
dos mais famosos.
Imaginem a dos que não alcançaram tanto
sucesso.
É essa a trajetória destes que produzem
estes sons maravilhosos do Forró.
Observem que mais de 90% são negros e
com pouquíssimo grau de escolaridade formal.
É desse chão popular, negro, que
floresce o forró.
Que surgiu "Pinto do
Acordeon".
Meu respeito aos forrozeiros e
forrozeiras.
*Jonas Duarte possui
graduação em Bacharelado em História pela Universidade Federal da Paraíba
(1989), mestrado em Economia Rural [C. Grande] pela UFPB (1996) e doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo
(2003).
É professor Associado IV da UFPB.
Membro da Comissão Pedagógica Nacional do PRONERA.
Coordenador do Curso de história PRONERA UFPB.
Coordena Projeto de Extensão de
Assessoria o CFEJPT.
Principais temas de estudos: Economia e Sociedade no
Semiárido Brasileiro Brasileiro, com ênfase em Políticas Públicas, Educação do
Campo e Contextualizada ao Semiárido, Reforma Agrária e Convivência com o
Semiárido.
(Por www.renatodiniz.com)
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