A vereadora eleita em novembro Jô Oliveira (PCdoB), vem conquistando espaço e se destacando na imprensa.
Depois de participar de vários programas
de TV e rádio na Paraíba ela agora ganhou destaque na mídia nacional, sendo
apresentada para todo o Brasil pelo portal Terra
(em matéria do Estadão) como a primeira
negra a ocupar uma vaga na câmara de vereadores campinense.
Assistente social, 39 anos, Jô Oliveira
obteve 3.050 votos e é citada na
matéria que fala sob a sub-representação de pretos e pardos em cargos eletivos
no país, mesmo sendo maioria da população.
O portal Terra destaca ainda sua eleição
numa cidade dominada politicamente por famílias tradicionais, a desigualdade de
recursos (enquanto teve candidato que recebeu “200 mil reais”, ela teve apenas “13
mil reais” para fazer a campanha) mas soube fazer uma mobilização que acabou
resultando em sua vitória.
LEIA
A MATÉRIA DO PORTAL TERRA NA ÍNTEGRA:
“Uma
em cada cinco cidades não elegeu nenhuma vereadora”
Apesar
de as candidaturas de pautas identitárias – em defesa de grupos LGBT,
feministas, antirracistas ou de povos indígenas – avançarem, a falta de
representatividade ainda é realidade em boa parte dos municípios brasileiros.
Levantamento
feito pelo Estadão mostra que quase uma em cada cinco cidades do País – ou 931
municípios (17% do total) – não elegeu nenhuma vereadora neste ano.
O
número representa um avanço em relação a 2016, quando 1.292 câmaras municipais
ficaram sem representatividade feminina.
Segundo
especialistas, a cota de 30% de candidatas ajudou a conquistar mais espaço, mas
ainda falta investimento e apoio das siglas.
Em
Cotia, Carolina Rubinato (PSOL), de 38 anos, bem que tentou quebrar a sequência
de 32 anos sem eleger uma só mulher no município.
Ela
uniu forças com outras quatro para lançar o Mandato Coletivo Feminino.
Mas,
relata, esbarrou no machismo e na falta de investimento do partido.
“Ganhamos ‘1.425 reais que foram depositados
uma semana antes da eleição. Não deu tempo nem de rodar papel. Nós mesmas
bancamos a impressão do folheto, os cartões e as redes sociais”, disse
Carolina, que é especialista em política empresarial e pública para mulheres.
Ainda
que com poucos recursos, ela foi a que teve maior votação entre as mulheres: ao
todo, 1.052.
O
resultado de quatro décadas de um Legislativo composto só por homens é a falta
de políticas para mulheres em áreas como saúde e educação, segundo Carolina.
“Eles não têm o olhar da necessidade da
mulher. Por isso, a paridade de gênero é importante: para que as políticas
atinjam a todos.”
Na
Grande São Paulo, Cotia não é exceção: outras nove cidades também não tiveram
mulheres eleitas, quase 30% de toda a região. Carapicuíba e Embu das Artes
ficaram de fora do levantamento, pois o resultado da eleição ainda não foi
validado pela Justiça Eleitoral.
Mesmo
com as cotas, as candidaturas femininas tiveram crescimento tímido.
Parte
da explicação tem a ver com a formação da cúpula dos partidos, que por ser
majoritariamente masculina e branca, prioriza candidatos homens, segundo a
cientista social Beatriz Della Costa Pedreira, diretora e cofundadora do
Instituto Update.
“As pessoas eleitas refletem o sistema
interno partidário, que não é democrático. As mulheres não conseguem vencer
essas barreiras, porque elas não têm apoio, inclusive financeiro, dos partidos.”
Sempre
houve resistência por parte das legendas em cumprir a lei de cotas, que não é
apenas incluir mulheres em condição de candidatura, mas com chances reais de
serem eleitas, diz a cientista política Malu A. C. Gatto, professora da
University College London.
“Para que isso seja possível, elas não
somente precisam estar na lista de concorrentes, mas ter acesso a recurso e a
apoio partidário.”
Nas
últimas eleições, as siglas começaram a respeitar mais a lei em termos de
proporção de candidaturas, diz Malu.
Mas
a maioria não tem passado dos 30% exigidos.
“A cota se tornou um teto, em vez de um piso”,
diz a especialista. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhum partido
lançou mais mulheres do que homens nas eleições 2020.
O
que mais se aproximou da paridade foi a recém-criada Unidade Popular (UP), com
43,28% de candidatas.
Em
seguida, vem o PSTU (38,94%).
A
sub-representação também afeta pretos e pardos, que são a maioria da população.
Este
ano, 766 municípios não elegeram vereadores pretos ou pardos.
Mas,
em comparação com 2016, houve uma conquista de 277 cidades. Campina Grande, na
Paraíba, é uma delas.
Lá,
a assistente social Jô Oliveira (PCdoB), de 39 anos, será a primeira negra a
ocupar uma cadeira na Câmara.
Sua
candidatura vinha sendo construída desde 2016, quando ficou como suplente.
Em
um município onde famílias tradicionais dominam a política, Jô fez uma campanha
de poucos recursos, mas com mobilização social. Recebeu o fundo partidário e o
recurso da cota racial do partido, só que nas duas últimas semanas.
Em
comparação com adversários, que arrecadaram quase “200 mil reais” ela obteve “13 mil reais”.
“Quem tem mais dinheiro tem mais tempo para
estar na rua, mais pessoas para pedir votos, equipes de redes sociais. Os
recursos são primordiais. Mas, o que eu não pude pagar, tive pessoas que
ajudaram.”
Da
construção do programa de mandato até começar a pedir votos, Jô teve a ajuda de
movimentos como o das mulheres e o da juventude. Isso a levou a conseguir 3.050
votos.
“É uma conquista importante enfrentar essa
estrutura. Conseguir um mandato marca um espaço, mas ainda temos muito o que
avançar.”
A
cientista política Ana Claudia Farranha, professora de Direito da Universidade
de Brasília (UnB), diz que é importante que espaços como a Câmara Municipal
representem a diversidade do País.
“Quanto mais a gente tiver o espelhamento da
sociedade nas instâncias representativas, ela estará mais próxima da realidade
da sociedade.”
A
redução da desigualdade vai ao encontro da determinação de um critério racial
na divisão de recursos do Fundo Eleitoral.
O
TSE decidiu, em agosto, que a distribuição do Fundo Especial de Financiamento
de Campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita devem ser proporcionais
ao número de candidatos negros do partido.
Apesar
de o plenário ter entendido que a medida deveria valer a partir de 2022, o
Supremo Tribunal Federal antecipou a regra para este ano.
A
eleição mostra que candidaturas de pautas identitárias avançaram, mas ainda não
são maioria.
“Sabemos que 81,7% dos novatos são homens e
52,7%, brancos e brancas. Pretos e pretas são 6,58%”, diz Malu Gatto.
Ela
explica que, ao se analisar gênero e raça, as mulheres pretas continuam sendo
minoria, com apenas 1,02% de eleitos.
“Houve ganhos. Mas é um espaço que vem sendo
conquistado lentamente e carregando com ele essas desigualdades sociodemográficas.”
Estadão Conteúdo Terra/Estadão
(Do Rede de Notícias)
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