Por Marcos Marinho Falcão*
“Não fui da ‘cozinha’ do Senador José
Maranhão, mas na casa dele no Altiplano do Cabo Branco, e mesmo lá no
apartamento funcional em Brasília, ele só me recebia pela cozinha...
Em João Pessoa, acho que apenas uma vez
entrei pelo portão frontal, aberto para receber Trocolly Júnior, com quem eu
estava no momento.
É esse Zé, meu amigo desde quando
Raymundo Asfóra a ele me apresentou na Capital da República, que hoje encerra
seu ciclo de vida longa no mundo dos justos e - raro isso - onde se portava com
singular altivez.
A pequenina Paraíba se reduz, com a
morte de Maranhão, a quase nada.
Pouco terei a dizer sobre o querido
amigo, porque a redundância alcançaria meu gesto.
Hoje portais, rádios e televisões já
expõem nos seus mais nobres espaços a trajetória do senador, seu vasto
currículo e – principalmente – a bondade e a elegância com as quais ele sempre
se portou nos embates do dia-a-dia em favor da sua gente.
Nunca vi Maranhão com cara de tristeza,
insônia, mal estar...
A pose de ESTADISTA nunca foi pose; era
marca!
Aliás, da Paraíba foi o único estadista
que eu até aqui tive o prazer de conhecer.
Em Brasília, ele deputado federal e eu
assessor parlamentar de Asfóra (cargo hoje equivalente a Chefe de Gabinete), o
assessorei na parte de imprensa, tempo em que solidificamos nossa amizade e eu
pude avaliar o tamanho da humildade que carregava e os gestos largos que
produzia em favor do povo amado da sua amada terra.
O Nordeste era foco do seu mandato e no
Congresso Nacional daquela época tenho certeza que ninguém mais do que ele
entendia as agruras da região e trabalhava intensamente para mudar o caos quase
perene de tão imenso e glorioso pedaço de Brasil.
Maranhão foi na essência da palavra um
DEPUTADO e um SENADOR NORDESTINO e a região a ele deve vitórias ousadas, sem
que se fale na sua voz firme e presente na hora de desconstituir preconceitos e
pequenez de insanos técnicos da burocracia estatal.
Como governador da Paraíba, foi um gigante
nos três mandatos e sua obra aí está dando testemunho do amor que nutria pelo
chão que pisou com galhardia invulgar.
Quando soube da morte de Asfóra, me
ligou ainda cedo antes de vir para o sepultamento do amigo convidando para que
eu voltasse ao Planalto para chefiar o seu gabinete.
Com tristeza, recusei, por já ter-me
fixado em João Pessoa com filhos pequenos que de mim exigiam cuidados de pai e
de mãe.
Mais tarde, eleito Senador da República,
exigiu que eu integrasse a sua assessoria e à minha revelia assinou o ato, que
precisou ser anulado porque, para assumir a missão primeiro o presidente do
Senado teria que oficiar ao presidente do TRT da Paraíba, aonde eu passara a
ser servidor do quadro efetivo, solicitando minha cessão funcional, o que veio
a acontecer e eu, durante os oito anos do mandato dele, tive o privilégio de
ajudá-lo a trabalhar pela Paraíba, interrompendo o vínculo apenas durante os
anos em que exerci o mandato de Vereador em Campina Grande.
Zé me tratava também por ‘querido’,
tratamento comum que dispensava a quem considerava amigo de verdade, daqueles
que entrava e saía da sua casa pela porta da cozinha!
Saudade dói demais e eu fico por aqui,
porque nessa fase da vida onde o Alzheimer ronda a minha porta, o choro é fácil
fácil...”
*Marcos Marinho Falcão é jornalista e
proprietário do Jornal A Palavra Online
(Por A Palavra Online)
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