quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

EU CHORO POR ZÉ!

Por Marcos Marinho Falcão*
Não fui da ‘cozinha’ do Senador José Maranhão, mas na casa dele no Altiplano do Cabo Branco, e mesmo lá no apartamento funcional em Brasília, ele só me recebia pela cozinha...

Em João Pessoa, acho que apenas uma vez entrei pelo portão frontal, aberto para receber Trocolly Júnior, com quem eu estava no momento.
É esse Zé, meu amigo desde quando Raymundo Asfóra a ele me apresentou na Capital da República, que hoje encerra seu ciclo de vida longa no mundo dos justos e - raro isso - onde se portava com singular altivez.
A pequenina Paraíba se reduz, com a morte de Maranhão, a quase nada.
Pouco terei a dizer sobre o querido amigo, porque a redundância alcançaria meu gesto.
Hoje portais, rádios e televisões já expõem nos seus mais nobres espaços a trajetória do senador, seu vasto currículo e – principalmente – a bondade e a elegância com as quais ele sempre se portou nos embates do dia-a-dia em favor da sua gente.
Nunca vi Maranhão com cara de tristeza, insônia, mal estar...
A pose de ESTADISTA nunca foi pose; era marca!
Aliás, da Paraíba foi o único estadista que eu até aqui tive o prazer de conhecer.
Em Brasília, ele deputado federal e eu assessor parlamentar de Asfóra (cargo hoje equivalente a Chefe de Gabinete), o assessorei na parte de imprensa, tempo em que solidificamos nossa amizade e eu pude avaliar o tamanho da humildade que carregava e os gestos largos que produzia em favor do povo amado da sua amada terra.
O Nordeste era foco do seu mandato e no Congresso Nacional daquela época tenho certeza que ninguém mais do que ele entendia as agruras da região e trabalhava intensamente para mudar o caos quase perene de tão imenso e glorioso pedaço de Brasil.
Maranhão foi na essência da palavra um DEPUTADO e um SENADOR NORDESTINO e a região a ele deve vitórias ousadas, sem que se fale na sua voz firme e presente na hora de desconstituir preconceitos e pequenez de insanos técnicos da burocracia estatal.
Como governador da Paraíba, foi um gigante nos três mandatos e sua obra aí está dando testemunho do amor que nutria pelo chão que pisou com galhardia invulgar.
Quando soube da morte de Asfóra, me ligou ainda cedo antes de vir para o sepultamento do amigo convidando para que eu voltasse ao Planalto para chefiar o seu gabinete.
Com tristeza, recusei, por já ter-me fixado em João Pessoa com filhos pequenos que de mim exigiam cuidados de pai e de mãe.
Mais tarde, eleito Senador da República, exigiu que eu integrasse a sua assessoria e à minha revelia assinou o ato, que precisou ser anulado porque, para assumir a missão primeiro o presidente do Senado teria que oficiar ao presidente do TRT da Paraíba, aonde eu passara a ser servidor do quadro efetivo, solicitando minha cessão funcional, o que veio a acontecer e eu, durante os oito anos do mandato dele, tive o privilégio de ajudá-lo a trabalhar pela Paraíba, interrompendo o vínculo apenas durante os anos em que exerci o mandato de Vereador em Campina Grande.
Zé me tratava também por ‘querido’, tratamento comum que dispensava a quem considerava amigo de verdade, daqueles que entrava e saía da sua casa pela porta da cozinha!
Saudade dói demais e eu fico por aqui, porque nessa fase da vida onde o Alzheimer ronda a minha porta, o choro é fácil fácil...”
*Marcos Marinho Falcão é jornalista e proprietário do Jornal A Palavra Online
(Por A Palavra Online)

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