Pedro Ciechanovicz, 66 anos, apontado como o maior sequestrador do Brasil, condenado a 296 anos e 11 meses por crimes hediondos, ainda mantém esperança de ir para casa.
Segundo boletim informativo
da Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, a pena dele vence em 20
de março de 2282.
No ano passado, a Justiça de São Paulo
negou todos os pedidos de prisão domiciliar para o detento - o último foi em
junho - por entender que o histórico prisional dele não permite benefício.
Para a Polícia Civil, o prisioneiro tem
ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital)
Chamado de Pedrão no sistema carcerário,
o criminoso foi acusado por ao menos 15 sequestros no estado de São Paulo.
Ele se especializou nessa modalidade de
crime na Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte da capital, em
meados dos anos 1990.
Os "professores" dele foram os
sequestradores do empresário Abílio Diniz, dono da rede Pão de Açúcar.
A vítima foi arrebatada em 11 de
dezembro de 1989.
Os criminosos pertenciam ao grupo
guerrilheiro MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), do Chile.
Eram quatro chilenos, três argentinos,
dois canadenses e um brasileiro.
Pedrão conviveu com parte da quadrilha
entre 12 de janeiro de 1993 a 19 de dezembro de 1995.
Os chefes do bando eram o canadense
David Spencer e o argentino Humberto Paz.
Os estrangeiros foram extraditados.
Em 19 de dezembro de 1995, Pedrão foi
transferido para o regime semiaberto no CPP (Centro de Progressão
Penitenciária) de Mongaguá (SP), e fugiu em 24 de janeiro de 1996.
Essa foi a segunda fuga dele.
No total, ele ficou nove anos foragido.
A prisão dele era questão de honra para
a polícia paulista, mas isso demorou a acontecer.
Pedrão só foi recapturado sete anos
depois, em 10 de fevereiro de 2003, em Curitiba (PR), por policiais civis do
Denarc (Departamento Estadual de Narcóticos), de São Paulo.
Foi durante a segunda fuga que Pedrão
cometeu os piores crimes, todos registrados em sua extensa ficha de
antecedentes.
No dia em que foi preso pela equipe do
delegado Everardo Tanganelli, ele confessou oito sequestros.
Muitas vítimas enfrentaram meses de
terror nas mãos da quadrilha de Pedrão.
Ficavam encapuzadas em quartos escuros
com luz de lampião e sem ventilação.
Eram obrigadas a fazer a necessidade
fisiológica em balde.
Ele mandava às famílias das pessoas
sequestradas fotos delas com fuzis e metralhadoras apontados para a cabeça.
Eis os sequestros confessados por
Pedrão, segundo a Polícia Civil:
1-Girz
Aronson, dono da rede de lojas G Aronson, sequestrado aos 82 anos em 17 de
julho de 1998.
Ficou
14 dias em cativeiro;
2-Paula
Cristina de Antônio, filha do dono da Paulimar, sequestrada aos 21 anos em
abril de 1999.
Ficou
29 dias em cativeiro;
3-Abraão
Zarzur, dono do Banco Mercantil de Descontos e acionista da Ripasa,
multinacional de celulose, sequestrado aos 82 anos em 22 de janeiro de 2000.
Ficou
44 dias em cativeiro;
4-Eduardo
Tonin, 18, filho do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Indaiatuba (PMDB),
José Carlos Tonin, sequestrado em 26 de junho de 2000.
Ficou
30 dias em cativeiro;
5-Samira,
40 e Vanessa Salete Santana Martos, 17, mulher e filha do pecuarista Mauro
Martos, sequestradas em 16 de novembro de 2000.
Ficaram
54 dias em cativeiro;
6-José
Lanaro, filho de dono de lotéricas em Sorocaba, sequestrado e morto aos 24 anos
com 14 tiros em 27 de junho de 2001 quando tentava fugir dos criminosos;
7-Roberto
Benito Júnior, herdeiro das Lojas Cem, sequestrado aos 35 anos em 2 de outubro
de 2001.
Ficou
120 dias no cativeiro;
8-João
Bertin, dono do frigorífico Bertin, sequestrado aos 82 anos em 8 de setembro de
2002.
Ficou
155 dias (cinco meses) em cativeiro. Foi o sequestro mais longo até então
registrado no Brasil.
Pedrão está recolhido na Penitenciária 1
de Avaré (SP).
Ele foi preso pela primeira vez em 11 de
maio de 1977.
O advogado dele, Eduardo Diamante, disse
que somando o tempo em que o cliente ficou preso - antes e depois das fugas -
ultrapassa 30 anos e, por isso, ele tem direito à prisão domiciliar.
Segundo o advogado, Pedrão sofre de
diabetes, hipertensão e problemas respiratórios, é do grupo de alto risco e
suscetível a pegar covid-19, necessitando ser solto.
Diamante explicou que cuida apenas da
execução criminal do preso e que não era defensor dele nos processos de
sequestros.
Para a Justiça, o histórico prisional de
Pedrão não permite benefício porque ele cometeu crimes gravíssimos, sendo um
roubo e oito sequestros - um deles seguido de homicídio - somente no segundo
período em que ficou foragido.
Além disso, Pedrão foi acusado pela
Justiça de ter praticado quatro faltas graves na prisão, a última em 6 de
fevereiro de 2007, e só poderia ter direito à progressão de regime em 2044.
Em relação ao risco de Pedrão contrair
coronavírus na cadeia, a Justiça entende que a Secretaria Estadual da
Administração Penitenciária tem adotado medidas articuladas para impedir a
disseminação da doença no sistema prisional.
(Josmar Josino – Uol)
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