Na história da música brasileira, nenhum artista esteve no topo por tanto tempo quanto Roberto Carlos, que na próxima segunda-feira (19/04), Dia do Índio, completará 80 anos.
Com seis décadas de reinado, por toda
sua trajetória, merecia uma programação intensa e especial para festejar a
data.
Mas a pandemia da Covid-19 não permite.
O Rei, que já tomou a primeira dose da
vacina, está completamente recluso em seu apartamento no Bairro da Urca, no
Rio, onde, diante de seu prédio, todos os anos, seus súditos se aglomeravam
para celebrar o aniversário, a espera de um aceno do ídolo.
Consciente, torce para que dessa vez
seja diferente para preservar vidas.
“Para evitar aglomerações peço a vocês que
também fiquem em casa. Estarei recebendo esses abraços, esse carinho e todo
esse amor à distância que é como deve ser feito nesse momento. Mas agradeço de
coração esse presente maravilhoso que é o carinho e o amor que tenho recebido
de todos sempre”, frisa o cantor.
E prossegue: “Defendo, de verdade, a ciência. A
ciência é que realmente pode orientar o povo, o que deve ser feito em relação à
vacina. Me vacinei, estou mais tranquilo e agora estou para receber a segunda
dose, mas mantendo os mesmos cuidados de sempre. A vacina é muito importante e
todos devem se vacinar. VACINA SIM!!!”, reforça.
“Quero até pedir que todos sigam
rigorosamente as orientações das autoridades do setor de saúde. Usem máscaras,
álcool em gel, lavem as mãos, mantenham o distanciamento social o máximo
possível. Isso, com certeza, vai ajudar muito a acabar com esse problema”,
orienta.
Com a simplicidade de sempre, conta como
costuma ser o aniversário.
“É sempre um momento de muita reflexão, de se
pensar na vida, no passado, no presente e no futuro. Quase aos 80 anos, eu sou
o mesmo de sempre. Chegar nessa idade não me assusta. O importante é que eu me
sinto bem e com menos idade do que tenho. E ainda sou um cara com muitos sonhos”,
assegura.
Em seu aniversário, Roberto vai ser
homenageado por jovens alunos do Programa Orquestra nas Escolas, da Orquestra
Sinfônica Juvenil Carioca Villa-Lobos, que em seu canal do YouTube, ao
meio-dia, vai tocar a clássica Como É Grande O Meu Amor Por Você, sob a
regência de Vinícius Louzada.
Um dia antes, vai ser lançado o livro
Querem Acabar Comigo – Da Jovem Guarda ao Trono, a Trajetória de Roberto Carlos
na Visão da Crítica Musical, de Tito Guedes, que garimpou centenas de resenhas
escritas por jornalistas desde os anos 60.
O ‘Fantástico’ de domingo ouve
especialistas, pesquisadores e críticos musicais para entender os atributos que
fazem de Roberto Carlos o maior cantor brasileiro de todos os tempos.
São mais de mil músicas do Rei
cadastradas no ECAD e das 20 mais tocadas pelo órgão responsável pela
arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos seus autores,
16 são fruto da parceria entre Roberto e Erasmo.
Como todo artista, Roberto também anda
distante dos palcos. Entrando na onda das
lives que dominaram a internet, após o surgimento da pandemia, ele realizou
a primeira de sua carreira no dia em que completou 79 anos.
E uma segunda, em 10 de maio, Dia das
Mães.
Seu tradicional e inédito especial de
fim de ano não aconteceu e foi substituído pela reprise do show realizado em
Jerusalém, em 2012.
O Projeto Emoções Em Alto Mar deste ano
também foi cancelado.
“Sinto falta do palco, das luzes e
principalmente da plateia, de estar de frente para o público vendo os sorrisos,
os olhares, e do carinho e amor que eu recebo nesse momento. Mas isso vai
passar e daqui a pouco a gente está de volta”, acredita o cantor, que
tradicionalmente termina seus shows jogando rosas para a plateia.
Roberto já tem um dueto inédito gravado.
A canção A Cor do Amor, com Liah Soares,
que vai estar na trilha de Um Lugar Ao Sol, novela que deve estrear no segundo
semestre, após a reprise de Império.
Confiante de que com o avanço da
vacinação, a pandemia vai ser controlada, a agenda de Roberto para 2022 está
intensa.
Para fevereiro, está programado uma
turnê pelo México.
No mês seguinte, o Projeto Emoções Em
Alto Mar.
Depois, fará show de aniversário em
Cachoeiro de Itapemirim, sua terra natal, e, na sequência, algumas
apresentações nos Estados Unidos.
Para junho, o Projeto Emoções Praia do
Forte, seguido de uma turnê pela Europa.
Além disso, está previsto para o começo
do próximo ano, o início das filmagens do longa-metragem dirigido por Breno
Silveira (o mesmo responsável por 2 Filhos de Francisco, sobre Zezé Di Camargo
e Luciano) sobre a trajetória do cantor.
“Vai contar tudo da minha vida desde que eu
nasci. Faria tudo igual na minha carreira”, conta Roberto, que em sua
trajetória artística marcou presença nos cinemas em três filmes: Roberto Carlos
em Ritmo de Aventura, Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa e Roberto Carlos
a 300 Quilômetros Por Hora, dirigidos por Roberto Farias (1932-2018),
respectivamente em 1968, 1970, 1971.
Os fãs, inclusive, poderão revê-los no
aniversário do Rei, quando vão ser exibidos no Canal Brasil, às 15h15, às 16h55
e às 18h30.
Mas nem tudo tem sido 100% de felicidade
para o Rei.
No dia 11 do mês passado, Roberto perdeu
seu irmão mais velho, Lauro Braga, aos 90 anos.
Em setembro do ano passado, o produtor
musical Dudu Braga, filho de Roberto, revelou aos seus seguidores no Instagram
que estava lutando contra um câncer no peritônio, membrana que recobre os
órgãos da cavidade abdominal.
Esta é a terceira vez que ele enfrenta a
doença, que, em 2019, se manifestou duas vezes no pâncreas.
Segundinho, é filho do primeiro
casamento do cantor, com Nice Rossi, que morreu em 1990, vítima de câncer de
mama.
Com ela, o cantor se tornou pai ainda de
Luciana Braga, 46.
Nice, já era mãe de Ana Paula, que
Roberto registrou como sendo sua filha.
Ana morreu aos 45 anos, de parada
cardíaca, em 2011.
Na década de 90, através de um exame de
paternidade, ficou comprovado que Roberto era pai também de Rafael Braga, 55.
Além de Nice, Roberto foi casado com a atriz Myrian Rios e com a pedagoga Maria
Rita, que em dezembro de 1999, também perdeu a luta contra o câncer.
Desde então, Roberto nunca mais assumiu
nenhuma relação amorosa.
“Maria Rita é o grande amor da minha vida e
todo mundo sabe disso”, ressalta mais uma vez.
Consagrado como Rei da Jovem Guarda,
Roberto teve seu primeiro registro fonográfico em 1959, um 78 rotações com as
músicas Fora do Tom e João e Maria, no melhor estilo bossanovista de João
Gilberto (1931-2019).
O primeiro LP, Louco Por Você, em 1961,
não fez sucesso. Curiosamente, a capa foi estampada com a foto de um casal.
Roberto não aparece.
O sucesso começou a chegar com o segundo
LP Roberto Carlos (1963), onde gravou a icônica Splish Splash, versão de Erasmo
Carlos da canção de Bobby Darin (1936-1973).
Erasmo viria a se tornar seu grande
parceiro musical, “o amigo de fé, irmão
camarada, amigo de tantos caminhos e tantas jornadas”, como Roberto cantou
em Amigo, música feita em homenagem ao parceiro, que completa 80 anos em 5 de
junho.
“A minha amizade com Erasmo continua a mesma
de sempre. Ele é meu grande irmão, meu parceiro em quase todas as canções que
tenho feito até hoje, mas nós respeitamos muito as regras de distanciamento
social. Vamos nos falar por telefone com o abraço de sempre e quando tudo isso
passar a gente vai comemorar com um outro grande abraço”, observa
Roberto. Parei na Contra Mão, de 1963, foi a primeira parceria da dupla.
Em 1965, Roberto lançou o disco Jovem
Guarda, com a emblemática canção Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, que virou hino
de toda uma geração.
No mesmo ano, com Erasmo e Wanderléa, a
Ternurinha, ele comandou o programa musical Jovem Guarda, na antiga TV Record,
transmitido nas tardes de domingo, até 1968.
Em 1970, gravou Jesus Cristo, a primeira
canção religiosa.
O início da década, marcou uma ruptura.
Ele deixou de ser o cantor de rock
enveredando pela música romântica.
As letras ingênuas de canções como Como
É Grande O Meu Amor Por Você (Eu tenho
tanto pra lhe falar/Mas com palavras não sei dizer/Como é grande o meu amor por
você/E não há nada pra comparar/Para poder lhe explicar/Como é grande o meu
amor por você/Nem mesmo o céu nem as estrelas/Nem mesmo o mar e o infinito/Nada
é maior que o meu amor/Nem mais bonito) foram dando espaço a letras mais
fortes, como em Amada Amante (Esse amor
sem preconceito/Sem saber o que é direito/Faz a suas próprias leis/Que flutua
no meu leito/Que explode no meu peito/E supera o que já fez/Neste mundo
desamante/Só você amada amante/Faz o mundo de nós dois).
Entre as canções compostas por Roberto,
Como é Grande o Meu Amor por Você, aliás, é
a segunda mais gravada, perdendo apenas para Emoções.
Clássicos não faltaram nos anos 70 como
Proposta, O Portão, Seu Corpo, Olha, Além do Horizonte, Os Seus Botões, Falando
Sério, Cavalgada e Outra Vez, e as tocantes homenagens a mãe, Laura Moreira
Braga (1914-2010) com Lady Laura, e ao pai, Robertino Braga (1896-1980) com Meu
Querido, Meu Velho, Meu Amigo. Anos efervescentes que trouxeram um novo hábito
para os brasileiros, quando a partir de 1974 foi ao ar, na noite de Natal, o
primeiro especial de fim de ano de Roberto na Globo.
Somente duas vezes não foram realizados:
no ano da morte de Maria Rita e ano passado quando reprisaram o show de
Jerusalém.
Em paralelo, Roberto lançava discos em
espanhol.
Ainda nos anos 60, ele já havia
conquistado um séquito de fãs tanto na América Latina, quanto na Europa.
Em 1968, por exemplo, Roberto se tornou
o primeiro estrangeiro a vencer o Festival de San Remo, na Itália, defendendo a
música Canzone Per Te, de Sergio Endrigo (1933-2005).
Os anos 80 trouxeram a clássica Emoções,
com a qual ele costuma abrir seus shows, e letras mais fortes, como a de O
Côncavo e o Convexo, de 1983 (O nosso
amor é assim, pra você e pra mim/Como manda a receita/Nossas curvas se acham,
nossas formas se encaixam/Na medida perfeita/Esse amor é pra nós, a loucura que
traz/Esse sonho de paz, e é bonito demais/Quando a gente se beija, se ama e se
esquece/Da vida lá fora/Cada parte de nós, tem a forma ideal/Quando juntas
estão, coincidência total/Do côncavo e o convexo/Assim é nosso amor, no sexo).
No final dos anos 90, após a morte de
Maria Rita, seu grande amor, Roberto diminuiu o ritmo de seus lançamentos e de
canções inéditas.
Vale ressaltar o CD e DVD Roberto Carlos
e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim, de 2008, Elas Cantam Roberto Carlos,
de 2009, Duetos e Duetos II (2006/2014), com canções retiradas dos especiais de
TV, a música Esse Cara Sou Eu, de 2012, tema dos personagens de Rodrigo
Lombardi e Nanda Costa, na novela Salve Jorge.
Em Amor Sin Limite, seu mais recente
álbum, de 2018, chamaram atenção o dueto com Alejandro Sanz (Esa Mujer) e com
Jennifer Lopez (Llegaste), que nesta quinta-feira, dia 15, confirmou o término
de sua relação com o ex-jogador de beisebol Alex Rodriguez, com quem estava
desde 2017.
Nesse período, em casa, Roberto não
deixou de lado seu velho hábito.
“Tenho trabalhado bastante em casa compondo
novas canções”, conta.
E entrega que segue mais do que a risca
os protocolos.
“Lido com esse período com total cuidado, até
de repente um pouco exagerado, mas sigo realmente tudo o que deve ser feito”,
entrega.
Até por isso, não está curado do TOC
(Transtorno Obsessivo Compulsivo).
“Do conjunto de coisas que tenho do TOC um é
a higienização, lavar as mãos. Isso, logicamente ficou mais rigoroso. Então,
não estou curado do TOC totalmente não, mas estou tentando, lutando”,
explica.
E revela quais as maiores alegrias que
tem na vida, hoje, e que merecem um brinde.
“Brindo sempre à saúde, ao amor, à felicidade
e às bênçãos do nosso DEUS de bondade”, cita.
E Roberto está sempre surpreendendo.
Em 2019, quando seu Projeto Emoções em
Alto Mar completou 15 anos, ele surgiu vestindo uma camisa rosa em entrevista
coletiva, a bordo do navio Costa Favolosa.
Mas garantiu que a atitude nada tinha a
ver com a então recente declaração da ministra da Mulher, Família e Direitos
Humanos, Damares Alves, de que o Brasil estava iniciando uma nova era com
meninos vestindo azul e meninas usando rosa.
“Estou com essa cor, pois quis fugir um pouco
do azul que virou um TOC. E também porque garanto o homem que eu sou”,
explicou.
(Por Carlos Lima Costa – iG)
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