Por unanimidade, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deliberou em reunião nesta terça-feira (20/04) pela autorização temporária do uso emergencial do coquetel Regen-Cov2 no tratamento de pacientes com a covid-19.
Liberado em caráter
experimental, o tratamento reúne os medicamentos casirivimabe e imdevimabe
(cujos nomes originais são, respectivamente, casirivimab e imdevimab) e é
destinado a pacientes com resultado positivo para o novo coronavírus, do grupo
de risco da doença, que não estejam em quadro grave e que não necessitam de
suplementação de oxigênio.
O uso será restrito a hospitais, com
venda proibida no comércio.
Este é o segundo tratamento para a doença liberado
para uso emergencial no País, após a aprovação do remdesivir em março.
O tratamento foi desenvolvido pela
empresa norte-americana Regeneron Pharmaceuticals, em parceria com a suíça
Roche, responsável pelo pedido de autorização de uso no Brasil, protocolado na
Anvisa em 1º de abril.
O coquetel está liberado para uso em
caráter emergencial nos Estados Unidos desde novembro passado, tendo sido um
dos utilizados pelo então presidente Donald Trump, além do Canadá e da Suíça.
Além disso, teve parecer positivo da
Agência Europeia de Medicamentos (EMA) em fevereiro, com posterior autorização
de uso emergencial na Itália, na Alemanha, na República Checa, na França e na
Islândia.
Como explicou Gustavo Mendes Lima
Santos, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da agência, o
tratamento reúne dois anticorpos monoclonais que têm o objetivo de se ligar à
proteína spike do vírus a fim de impedir que entre na célula e possa se
replicar.
A indicação terapêutica é para crianças
de ao menos 12 anos e com 40 quilos.
O tratamento não é recomendado para
paciente que estão em estado grave, em que pode piorar o quadro de saúde.
"Deve ser iniciado assim que
possível após o teste viral positivo, dentro de 10 dias do início dos sintomas",
destacou.
"Reduziu significativamente o
risco de hospitalização ou morte relacionadas à covid nos pacientes
ambulatoriais sintomáticos com um ou mais fator de risco."
Os fatores de risco considerados para a
indicação do medicamento são: idade avançada, obesidade, doença cardiovascular,
hipertensão, doença pulmonar crônica, asma, diabetes, doenças renais crônicas,
incluindo pacientes em diálise, imunossuprimidos e doenças hepáticas crônicas.
No caso da autorização no Brasil, a dose
é de 600 mg de cada um dos dois medicamentos, que devem ser administrados
juntos e por meio de infusão intravenosa única.
A posologia é, portanto, distinta da
autorizada nos Estados Unidos e na Europa, que prevê o 1,2 mil mg.
Segundo Santos, a empresa submeteu a
nova posologia nos locais citados.
Santos destacou que o tratamento passou
por quatro estudos não clínicos distintos, nos quais não foram identificadas
"questões maiores" em relação à segurança, considerada com perfil
"aceitável".
"Os ensaios realizados não geraram
preocupação que ensejasse uma investigação específica", apontou.
O benefício seria perceptível a partir
do segundo dia após a aplicação.
Segundo o estudo considerado pela
Anvisa, houve redução de 70,4% no número de pacientes hospitalizados por
covid-19 quando comparado ao grupo que recebeu placebo.
Nesse estudo, os eventos adversos graves
foram mais frequentes no grupo placebo.
Ao todo, 0,3% do total que recebeu o
tratamento teve uma reação de hipersensibilidade.
No caso das doses de 2,4 mil mg, a
redução foi semelhante, de 71,3%, destacou Santos.
O medicamento tem validade de 12 meses
quando armazenado de 2º a 8º graus Celsius.
Quando diluído, pode ser armazenada por
até 4 horas em temperatura ambiente e, se refrigerado, por até 36 horas.
O gerente-geral de Medicamentos pontou,
contudo, que há incertezas sobre o medicamento, pois os dados "ainda estão
sendo gerados" e que a aprovação foi sugerida por sua área pela
"situação de emergência" da pandemia.
Ele destacou que há a necessidade de
revisão quando for aberto um pedido de registro, como a confirmação do prazo de
validade.
Ele reiterou, ainda, não haver dados
sobre os resultados em menores de 18 anos ou tampouco para variantes, cuja
capacidade de neutralização para novas cepas (como a P1) foi demonstrada
exclusivamente in vitro.
Além disso, destacou que a administração
em grávidas deve ocorrer com "cautela", uma vez que os dados são
limitados nessa população, com estudos de toxicidade reprodutiva em animais
ainda não concluídos.
Na reunião, Liana Kusano Fonseca,
gerente substituta de Inspeção e Fiscalização de Medicamentos e Insumos
Farmacêuticos, informou que a equipe técnica identificou informações
"satisfatórias" para emitir análise de boas práticas de fabricação, essenciais
para a liberação do uso emergencial.
A avaliação envolveu as três fabricantes
envolvidas, desde a produção da substância ativa (ocorrida nos Estados Unidos),
o acabamento dos medicamentos (igualmente ocorrida no território
norte-americano) e o embalamento secundário (feito na Suíça).
O envolvimento de outras plantas fabris
nessa cadeia exigirá nova autorização de uso emergencial na Anvisa.
Da mesma forma, Suzie Marie Gomes,
gerente-geral de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária,
apontou que os dados são suficientes para aprovar o Plano de Gerenciamento de
Risco.
Relatora do pedido e uma das diretoras
da agência, Meiruze Sousa Freitas destacou que o tratamento atende às
expectativas quanto aos “requisitos mínimos".
"Espero que essa autorização possa
aliviar a carga do nosso sistema de saúde", destacou, por envolver um
tratamento que pode ser "mais uma ferramenta no combate à pandemia",
junto com o remdesivir e as vacinas.
Ela destacou que a autorização não
envolve o uso com a proposta de prevenir o contágio, que também é alvo de
estudo pelas fabricantes.
Além disso, lembrou que os pacientes que
receberem o tratamento deverão aguardar ao menos 90 dias para serem vacinados
contra a covid-19, após procurarem avaliação médica.
"É importante a convocação dos
profissionais de saúde para a notificação de qualquer suspeita de reações
adversas", salientou.
Ela lembrou, ainda, que a Anvisa pode se
manifestar novamente sobre o tratamento a "qualquer momento",
inclusive com a tomada de "medidas protetivas".
Coquetel também reduziu 81% de casos
sintomáticos em contactantes, apontou farmacêutica
Em 12 de abril, a Regeneron divulgou um
estudo que apontava que o tratamento seria capaz de reduzir o risco de casos
sintomáticos em 81% em pessoas que moram na mesma residência que pacientes com
a covid-19.
Os demais participantes do estudo
tiveram sintomas leves e com permanência menor, por até cerca de uma semana
(ante as cerca de três semanas de sintomas identificados em quem recebeu o
placebo).
Esse tipo de uso não está autorizado no
Brasil, cuja liberação é exclusiva para pacientes com teste positivo para a
doença.
O estudo foi feito com uma amostra de
1.505 pessoas não infectadas pelo novo coronavírus, que não tinham anticorpos
para a doença e viviam na mesma residência que alguém que teve covid-19 nos
quatro dias anteriores.
Realizado em conjunto com o Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID na sigla em inglês), foi
duplo-cego, com administração de placebo para parte dos envolvidos.
Do total dos participantes, 31% tinham
ao menos um fator de risco para a doença.
Além disso, 33% eram obesos e 38%
estavam com 50 anos ou mais.
A média de idade foi de 44 anos, embora
o estudo tenha reunido desde pré-adolescentes com 12 anos a idosos com 92 anos.
(Estadão)
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