Preso em operação da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Glaidson Acácio dos Santos, 38, conhecido como "faraó dos bitcoins", mantinha uma vida simples até abrir sua primeira empresa em 2015, em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos do estado.
Em 2003, ele ingressou no treinamento
pastoral da Igreja Universal do Reino de Deus, mas acabou afastado pouco tempo
depois "por não atender aos padrões
do ministério".
Mais tarde, em 2014, trabalhou como
garçom em um dos badalados restaurantes da orla Bardot, em Búzios.
À época, o salário dele era de “800
reais”.
Apenas seis anos foram suficientes para
que Glaidson se tornasse dono de ao menos quatro empresas que, juntas, somam “136
milhões de reais” em capital social.
Na última quarta-feira (25/08), Glaidson
foi preso por suspeita de operar um milionário esquema de pirâmide financeira.
Segundo as investigações, ele prometia
lucros de até 10% ao mês nos investimentos em criptomoedas, mas a empresa não
investia em bitcoins — os lucros eram pagos a clientes através da entrada de
capital de outras pessoas atraídas pela proposta de investimento.
Segundo a PF, a suspeita é de que
Glaidson tenha movimentado cifras bilionárias nos últimos seis anos.
A maior movimentação aconteceu nos
últimos 12 meses.
Das quatro empresas no nome de Glaidson,
duas estão cadastradas em Cabo Frio — que ficou conhecida como Novo Egito
devido à forte presença do esquema de pirâmides na região.
A G.A.S Consultoria
& Tecnologia LTDA foi aberta em 2015 e tem capital social estimado em “75
milhões de reais”, de acordo a Receita Federal.
Outra, também em Cabo Frio, tem capital
social de “60 milhões de reais” e foi aberta em 2019.
Outras duas possuem o endereço de
Barueri, na Grande São Paulo.
VIDA
DE LUXO DISCRETA
Glaidson tinha como sócia a mulher, a
venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, que é considerada foragida.
Os dois mantinham uma casa de luxo em
Cabo Frio, avaliada em “9 milhões de reais”.
O faraó das criptomoedas foi preso em
outro imóvel de alto padrão, na Barra da Tijuca, na zona oeste da capital
fluminense.
No local, foram encontrados carros de luxo, como BMW e Porshe, além
de “13,8 milhões de reais” em espécie e “150 milhões de reais em bitcoins”,
conforme a cotação daquele dia.
No imóvel, a PF ainda apreendeu joias, relógios
de alto valor e charutos cubanos.
Avesso a redes
sociais, Glaidson mantinha uma vida de luxo discreta com passeios em iates.
Em fevereiro, o
ex-garçom contratou o show do cantor João Gabriel para sua festa de
aniversário, em Angra dos Reis, na região da Costa Verde do Rio.
REPASSES MILIONÁRIOS À UNIVERSAL
Citada em uma
lista de empresas que receberam valores volumosos das GAS Consultoria, a Igreja
Universal do Reino de Deus entrou com uma ação de antecipação de provas no
Tribunal de Justiça do Rio após a operação que prendeu Glaidson.
O objetivo da
Universal é evitar que seu nome fosse relacionado ao esquema de pirâmide
financeira cujo suspeito realizou doações, segundo o jornal O Globo, de “72,3 milhões de reais” por
meio de suas empresas.
O UOL apurou que o processo foi
distribuído e encaminhado à Vara Cível de Cabo Frio dois dias após a PF e o MPF
(Ministério Público Federal) deflagrarem a Operação Kryptos.
De acordo ainda
com o jornal O Globo, a partir de
maio de 2020, a Universal verificou um expressivo aumento no volume de doações
recebidas por meio de transferências bancárias realizadas por Glaidson e pela
GAS.
Procurada pela
reportagem, a Universal informou que há alguns meses recebeu informações de que
o ex-garçom estaria "assediando e
recrutando fiéis e integrantes do corpo eclesiástico para participar de sua
empresa, que demonstrava sinais que caracterizavam algum envolvimento com
pirâmide financeira".
A igreja disse
ter apresentado a notícia-crime à Justiça sobre o caso antes da operação que
prendeu Glaidson.
"Mais recentemente, foi aberto um processo
judicial cível solicitando que Glaidson confirme à Igreja que os dízimos e
doações que ofereceu como frequentador têm origem lícita", disse a
Universal através de nota.
"Ou seja, muito antes da operação policial
da última semana que resultou na prisão de Glaidson, a Universal já vinha
alertando e cooperando com as autoridades para as devidas investigações."
(Uol)
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