Antiestresse, benéfica para mulher na menopausa e prevenção ao câncer de próstata - esses são alguns dos benefícios da acerola.
A frutinha é a que ganhou o falso título
de campeã de vitamina C, que, na verdade, pertence à camu-camu, que não é tão
famosa.
A acerola está no Brasil desde a chegada
de Dom João VI, mas, na época, era apenas mais uma planta no Jardim Botânico,
no Rio de Janeiro.
Foi na década de 80 que uma campanha da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em parceria com a Rede Globo fez o produto se popularizar
no Brasil.
Hoje a acerola é plantada no país
inteiro e o Brasil se tornou líder de produção mundial, com uma colheita de
quase 70 mil toneladas anualmente, segundo dados do Censo Agropecuário 2017 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na lavoura, a acerola se dá melhor com o
clima quente, mas o rápido amadurecimento faz com que ela tenha apenas entre 2
e 3 dias úteis de qualidade para o consumo após a colheita, dificultando a
comercialização in natura em longas distâncias.
GANHANDO
O BRASIL
Em 1955, a professora da UFRPE Maria
Celene de Almeda viajou para a Costa Rica e conheceu a fruta.
Muito interessada, ela trouxe algumas
sementes, as quais usou para montar mudas e doar para amigos.
Foi aí que a UFRPE começou a ter o seu
pomar. Hoje, Maria Celene é considerada a mãe da acerola no Brasil.
Anos depois, em 28 de outubro de 1984, o
programa Globo Rural fez uma reportagem divulgando o produto.
A expansão da fruta, no fim das contas,
aconteceu graças a um engano, diz Rosimar Santos, também professora da UFRPE e
membro da equipe que divulgou a acerola no Brasil.
Ao fim da reportagem, a jornalista
informou que a universidade doaria sementes para quem as quisesse, mas isto não
estaria combinado, relata.
Foi a partir daí que começou uma
super-operação para cumprir o que foi dito.
“Não tínhamos estrutura para fazer uma
divulgação fornecendo materiais”, afirma Rosimar.
A saída foi recorrer a doações.
“A gente tinha um pomarzinho modesto na
universidade, então vários produtores e ex-alunos entraram na roda para ajudar
a fornecer mudas para o Brasil todo e a Rede Globo se encarregou em ajudar, deu
uma contribuição para que nós postássemos essa semente e aí conseguimos”.
No ano seguinte ao programa, a campanha
ainda a todo vapor, a acerola da UFRPE foi tema de uma das capas da edição
piloto da revista Globo Rural e
também foi revisitada na Globo pelo Fantástico.
Ao todo, o projeto recebeu 100 mil
cartas pedindo sementes.
Em resposta, os interessados receberam
10 unidades com um folheto explicando como cultivar a planta.
Para a professora, o sucesso da fruta se
dá pela campanha e pela facilidade de manejo e possibilidades de produção.
Além de doces e sucos, ela também pode
ser consumida in natura e é matéria prima para a indústria farmacêutica, devido
à sua riqueza em vitaminas.
“A acerola vem num momento de resgate da
qualidade de vida dos anos 80 e aí caiu na hora certa, no momento certo e por
isso um grande sucesso de público", relata a professora.
RAINHA
DA VITAMINA C
A acerola é a segunda fruta mais rica em
vitamina C e ocupa o primeiro lugar quando considerada apenas as frutas mais
populares.
Além disso, ela tem diversos benefícios.
Um dos mais conhecidos é a proteção das
células contra o ataque de radicais livres, prevenindo o envelhecimento
precoce.
Isso porque a vitamina C tem função
antioxidante, ajudando a proteger a pele, explica a nutricionista Karin
Honorato.
Sua relação com a mulher na menopausa é
porque neste período existe um processo de envelhecimento acelerado e há
alteração nos níveis de colesterol e a vitamina C consegue modular isso, diz
Karin.
Também é nesta fase quando as mulheres
têm um processo inflamatório baixo, portanto seu poder antioxidante é
fundamental.
Tanto mulheres em menopausa, que possuem
maior grau de irritabilidade, quanto pessoas que sofrem de estresse crônico
podem se beneficiar da acerola.
Quando o ser humano está estressado, o
organismo libera o hormônio cortisol, que tem a tendência de se estabilizar
após um pico.
Em pessoas com as condições citadas,
estes níveis ficam elevados por muito tempo, podendo até mesmo sobrecarregar a
glândula suprarrenal que está ligada à hipertensão.
A vitamina C, por sua vez, é modeladora
do cortisol, ajudando a condicionar estes níveis à estabilidade.
A fruta também é rica em outros
elementos, diz a nutricionista, como por exemplo:
Vitamina
A:
tem função protetora da visão e impede que os olhos fiquem ressecados.
Licopeno: é um composto
ativo com ação anti-inflamatória e auxilia a prevenir o câncer de próstata.
Ferro: eleva a
imunidade e auxilia o organismo a combater melhor as infecções.
Karin recomenda o consumo in natura da
acerola.
Apesar de ser mais ácida, característica
típica de frutas ricas em vitamina C, ela é mais eficaz se não há a adição de
açúcar.
Além disso, quando madura, ela pode ser
saborosa e suculenta.
NA
LAVOURAAinda que a acerola seja originária da
América Central, o Brasil se tornou o maior produtor da fruta, segundo o
pesquisador Flávio França Souza da Empresa Brasileira de Pesquisa (Embrapa)
Semiárido.
Uma das razões que colaboraram para isso
é que a planta precisa de temperaturas elevadas para florescer e produzir os
frutos.
Por causa disso também, é no Nordeste o
maior fornecedor do país, tendo em Pernambuco o principal polo.
Na região, a fruta é produzida o ano
inteiro quando em ambiente irrigado.
Em outras áreas do país, o plantio sofre
uma queda nos meses mais frios, como junho e julho.
O pé de acerola é resistente e pode
sobreviver em ambientes sem água, contudo, nesta situação não dará frutos.
“É uma planta interessante porque ela tem um
período que vai da floração à frutificação muito curto, que são aproximadamente
de 21 dias. Então, entre a flor se abrir e o fruto ficar maduro para colher são
cerca de 20 dias”, explica o pesquisador.
Para Souza, o maior desafio do cultivo é
que a acerola é um fruto muito perecível, depois de 2 ou 3 dias colhidos ela deixa
de ser boa para o consumo.
“O produtor é obrigado a vender para a
indústria. Ela abaixa muito o preço e as vezes não compensa nem colher, então
se for dizer hoje qual que é o principal problema dos produtores é a
imprevisibilidade no preço”.
Para tentar prolongar a vida da fruta,
muitos agricultores colhem ela ainda verde para que chegue madura aos
consumidores in natura.
Uma outra vantagem disso é que é nesta
fase verde que ela está mais repleta de vitamina C.
No Brasil, estima-se que existam cerca
de 40 variedades da fruta, ainda que nem todas estejam registradas no
Ministério da Agricultura, segundo o pesquisador.
“O que acontece é que, no início do cultivo,
quando a acerola começou a se popularizar no Brasil, os produtores faziam suas
seleções e davam nomes”, relata.
“Eles escolhiam uma planta, achavam ela
interessante por conta de ter um fruto mais doce, maior, mais duradouro após
colheita e davam o nome para essa planta. Aí começavam a multiplicar, faziam
clonagem dessa planta, faziam milhares e isso acabava sendo difundido na região
e virava uma variedade”, completa.
(Por Vivian Souza – G1)
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