Em evento em Brasília, Sergio Moro, ex-juiz responsável por julgar os processos da operação Lava Jato em Curitiba, se filiou ao Podemos e entrou oficialmente à política.
Parlamentares e presentes já tratavam o
ex-ministro da Justiça como "presidente".
Aos gritos de "Brasil para frente,
Moro presidente", Moro promoveu um discurso de possível candidato à
presidente.
“Eu não tenho uma carreira política e não sou
treinado na eloquência política. Mas se eventualmente não sou a melhor pessoa
para discursar, posso assegurar que sou alguém que vocês podem confiar”.
Moro também disse que o Brasil "não
precisa de líderes com voz bonita, mas de alguém que ouça a voz do povo
brasileiro", e defendeu o legado que ele próprio deixou como juiz
da Lava Jato.
"Eu sempre fui considerado juiz
firme e fiz justiça nas formas da lei. Na época, todo mundo dizia que era
impossível fazer isso, mas nós fizemos", afirmou.
Moro declarou que deixou o posto de
ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (sem partido), agora seu
adversário, porque perdeu apoio interno.
Para justificar sua presença no começo
do governo atual, disse que aceitou o cargo tendo em vista "esperança
de dias melhores".
"Depois que eu saí do governo eu
precisei procurar emprego como todo brasileiro. Nunca enriqueci como juiz.
Recebi um convite no exterior e fui", declarou.
"Mesmo fora do Brasil, nunca
deixei o país longe do meu coração", afirmou ainda.
MOVIMENTAÇÃO
Ao abrir o evento, o senador Álvaro Dias
(Podemos-PR) declarou "Sergio Moro presidente" e
afirmou que o político Moro é uma "liderança jovem" que foi "convocado
à luta e ao enfrentamento da corrupção".
Ele também criticou indiretamente a
atual gestão do presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luís Inácio Lula da
Silva (PT) ao dizer que a "disputa entre a extrema-esquerda com a
extrema-direita deu vitória ao caos" e que o Brasil passa por um
momento "trágico de fome e desemprego".
O
UOL
apurou que um dos responsáveis pela filiação de Moro no Podemos, o senador Álvaro
Dias, já tem atuado na construção da possível candidatura à presidente do
ex-juiz.
O político tem abordado empresários e
escolhido os principais nomes da futura campanha.
Antes de se filiar, Sergio Moro, em
diversas ocasiões, afirmou à imprensa que não tinha a intenção de entrar para a
política.
Em junho de 2020, ao ser questionado
pela Folha se tinha o
"sonho" de se tornar presidente, Moro afirmou que "não
existia nada disso".
"Nunca tive essas ambições
pessoais nesse nível, sou uma pessoa muito mais simples", declarou
à época.
Quatro anos antes, quando ainda exercia
a magistratura, Sergio Moro disse ao jornal O
Estado de S. Paulo que não participaria da vida pública como político.
"Jamais, jamais. Sou um homem de
justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política",
afirmou na ocasião.
POSSÍVEL
ATUAÇÃO POLÍTICA
Enquanto magistrado, Moro foi o
responsável por condenar, em primeira instância, o ex-presidente Lula, que teve
de abandonar a candidatura à Presidência em 2018.
Em abril deste ano, o STF (Supremo
Tribunal Federal) anulou as condenações do petista.
À época, Moro foi acusado de usar a
magistratura para interferir na eleição em favor do presidente Jair Bolsonaro.
Cerca de oito meses depois da eleição,
Moro assumiu o cargo de ministro da Justiça na atual gestão.
Recentemente, em depoimento à Polícia
Federal, no inquérito que apura possível interferência do presidente na
estrutura da corporação policial, Bolsonaro afirmou que Moro teria condicionado
a troca do comando da PF à sua indicação ao STF.
O ex-ministro nega a versão do
presidente.
Ao falar, Álvaro Dias também saiu em
defesa do ex-juiz e da alegação de que Moro teria usado a magistratura para
fazer política.
"Sergio Moro não julgou por
interesses políticos, julgou pelo Brasil e pela democracia",
afirmou.
Segundo o portal do MPF (Ministério
Público Federal), a operação Lava Jato de Curitiba foi responsável por
apresentar 130 denúncias, 179 ações penais e por condenar, em primeira e
segunda instância, 174 pessoas físicas e jurídicas.
ACORDO
COM TUCANOS
Disputando as prévias eleitorais que
decidirão o próximo candidato à presidência pelo PSDB, o governador de São
Paulo, João Doria, e outros políticos da legenda próximos ao gestor estadual
marcariam presença no ato de filiação de Moro, mas não compareceram.
Mais cedo, João Doria ligou para Sergio
Moro e pediu desculpas por ter cancelado a agenda de última hora.
Na ligação, que também fez à presidente
nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), o governador de SP alegou ter
uma reunião com os administradores da F1 no estado para discutir o GP de São Paulo.
Nos bastidores, tucanos contam que há a
construção entre Doria, Moro e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
(DEM), para que o nome mais bem posicionado nas pesquisas em abril possa
receber o apoio dos demais.
O governador de SP, porém, tenta usar o
acordo para diminuir as chances de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do
Sul, que também disputa as prévias do PSDB, ser candidato pelo partido.
A presença de Doria no evento de Moro
seria um recado às bases de que, caso Leite vença a disputa interna, o grupo de
Doria poderia não o apoiar para presidente, defendendo a retirada de
candidatura própria para apoiar um dos demais postulantes ao cargo de
presidente.
(Lucas Valença Do UOL, em Brasília)
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