quarta-feira, 10 de novembro de 2021

“ONDA” DE FEMINICÍDIOS SÓ CRESCE. O QUE FAZER PARA COMBATER?

Novembro é o mês em que se celebra, no dia 25, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.

A data simbólica é para denunciar a violência de gênero no mundo todo, além de exigir políticas públicas que ajudem na sua erradicação.
O Brasil, no entanto, não parece caminhar nessa direção.
A longa extensão da pandemia de Covid-19 piorou ainda mais os índices do país no que se refere à questão.
De acordo com pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios, a violência contra as mulheres cresceu em 20% das cidades do país desde o início da crise sanitária.
No Rio de Janeiro, por exemplo, em 2020, uma mulher foi vítima de violência física a cada 15 minutos no Estado.
Boa parte desses casos parte dos próprios companheiros ou familiares.
Até por isso, outro dado alarmante expõe o tamanho do drama vivido pelas mulheres brasileiras: em quase 20% dos casos de 2020, filhos presenciaram o assassinato de suas mães.
Todo esse quadro explica porque 77% das mulheres no país dizem sentir medo ao sair de casa, de acordo com pesquisa realizada pelos Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva.
Agravada recentemente pela pandemia, a questão é um problema estrutural no Brasil e possui outros componentes como o crescente aporte de armas entrando no país.
Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que, nos últimos 20 anos, 51% das mortes violentas de mulheres foram provocadas por armas de fogo.
Para Ana Beatriz El Kadri, advogada e coordenadora do Mapa do Acolhimento, sempre houve um "problema sistêmico contra as mulheres no Brasil" que acabou agravado pelas crises sociais e econômicas acentuadas pela longa duração da pandemia por aqui.
"Durante esse período da pandemia houve um desmonte [de estruturas públicas que auxiliam mulheres que sofrem de violência doméstica]. Houve um conjunto de elementos que desembocou num aumento de feminicídios".
Ao Yahoo!, ela lembra que em 2020, dos “120 milhões de reais” disponíveis no orçamento federal das políticas públicas para mulheres, apenas “35 milhões de reais” foram empregados.
El Kadri ressalta que o problema da violência de gênero é "complexo e multifacetado" e, portanto, necessita de articulação para ser combatido.
Até por isso, a advogada critica a inação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) no trato da questão.
Ela explica também que o atendimento a vítimas de violência não é convencional e que, portanto, demanda investimento.
"Existe uma lógica patriarcal que acaba operando dentro das políticas públicas. O governo precisa utilizar o dinheiro para formar uma equipe especializada e viabilizar uma boa implementação dessas políticas. Os servidores da ponta precisam de capacitação para tratar as vítimas sem julgamentos, realizando uma escuta ativa", explica ela.
O quesito econômico também é determinante em diversas situações.
"O elemento da dependência econômica é um dos fatores que infelizmente acaba influenciando na permanência da mulher num círculo de violência, exatamente por falta de condições financeiras (...) Por isso o Estado tem que fornecer recurso. Por isso falamos tanto, entre outras coisas, de renda básica", pondera a advogada.
Segundo ela, é preciso ter em mente também que o problema atinge não só as mulheres cisgênero.
De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil é o país que mais mata transsexuais no mundo.
MAPA DO ACOLHIMENTO

O Mapa do Acolhimento é uma rede de solidariedade que conecta mulheres que sofrem ou sofreram violência de gênero a psicólogas e advogadas voluntárias.
Mulheres cis, mulheres transexuais e homens transexuais maiores de 18 anos, de qualquer parte do Brasil e que não possuam renda para pagar pelos atendimentos podem buscar ajuda via plataforma.
"Nosso número de pedidos de ajuda girava em torno de 12 a 15 por dia, mas com a pandemia esse número passou a ser de 20 a 25", conta El Kadri, que é coordenadora do projeto.
Segundo ela, a equipe do Mapa do Acolhimento recebeu diversos relatos de mulheres que estavam com dificuldades de acessar serviços públicos que pudessem auxiliá-las.
Ao acessar a plataforma, a pessoa que busca ajuda preenche um cadastro básico e, na sequência, recebe o contato da voluntária mais próxima dela em poucos minutos.
A coordenadora diz que o projeto já encaminhou mais de 8 mil pedidos de ajuda e cadastrou mais de 4 mil voluntárias.
"No caso de mulheres que já estavam em uma situação de violência houve um aumento do grau de vulnerabilidade", diz a advogada.
Ao Yahoo!, El Kadri contou que o Mapa do Acolhimento nasceu como uma campanha do NOSSAS - uma organização que impulsiona o ativismo no Brasil -, depois que um estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro em 2016 escancarou a urgência do combate à violência contra as mulheres no Brasil.
COMO AJUDAR E SER AJUDADA
Para se inscrever: Caso você se enquadre no perfil atendido e deseja receber ajuda, basta se inscrever no site: queroseracolhida.mapadoacolhimento.org
Para ser voluntária: Para quem é advogada ou psicóloga e deseja participar da rede de voluntárias, basta se inscrever no: queroacolher.mapadoacolhimento.org
(Por Yahoo!)

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