*Vítima era obrigada a cuidar de pelo
menos 100 cães adotados pelos patrões e teve o colchão em que dormia destinado
para animais em trabalho de parto
Uma mulher que atuava como trabalhadora
doméstica foi resgatada após passar 39 anos em situação análoga à escravidão,
em Campina Grande.
O resgate da vítima, de 57 anos,
aconteceu na quarta-feira (02/02), durante uma operação deflagrada pela
auditoria-fiscal do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), Polícia
Federal (PF) e Defensoria Pública da União (DPU).
“Cuidava dos patrões idosos, limpava a casa,
arrumava e cozinhava, além dos cuidados com a matriarca da família que ficou
acamada e com dificuldades de locomoção. Ainda, a empregada vivia um processo
de coação psicológica que a levava a aceitar as condições indignas de trabalho
com afirmações de que ela teria responsabilidades com os idosos por ser uma
pessoa considerada da família”, descreveu a auditora.
A carga de trabalho da vítima aumentou
ainda mais há pelo menos cinco anos, quando ela passou a ser responsabilizada
pelo cuidado de cerca de 100 cães adotados pelos patrões.
Essas atividades eram feitas todos os
dias da semana, inclusive aos domingos e feriados.
A jornada da trabalhadora iniciava por
volta das 7h00 e se encerrava após a meia-noite por causa do alto número de
cachorros e da obrigação de limpar toda a casa e espaços destinados ao abrigo
dos animais, além de alimentá-los.
As atividades diárias também envolviam
limpar e lavar os canis, limpar fezes e urinas dos cachorros tanto na parte
externa, quanto dentro da casa.
Apesar de a mulher receber salário
mensal, 13º e férias, ela não usufruía de descanso semanal remunerado, feriado
e das férias de 30 dias.
Apesar de ter folgas eventuais nos
feriados de São Pedro e Réveillon, nunca pôde ficar mais de quatro dias fora
das funções.
Segundo a auditora, este foi o primeiro
caso de resgate em trabalho doméstico na Paraíba.
A operação foi realizada a partir de uma
denúncia feita Disque Direitos Humanos – por meio de ligação ao número 100 –
sobre a possível exploração de trabalho.
ADOECIMENTO
NO TRABALHO E CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE MORADIA
A trabalhadora possuía um adoecimento
das unhas das mãos, que segundo o relato dela, teve início “quando
começou a pegar sabão, água sanitária e ficar muito com a mão na água”.
Ainda aos auditores, ela contou que
sente coceira, dor e inchaço nas unhas.
Segundo a fiscalização, o problema nas
unhas junto a coceiras pelo corpo da trabalhadora, pode ser enquadrado como
adoecimento em virtude do trabalho, já que tem contato diário com urina, fezes
e vômitos dos aproximadamente 100 animais do canil e dentro da casa, explica a
auditora que coordenou a ação fiscal.
A trabalhadora resgatada também disse
que costumava dormir em um quarto com cama e armário, mas foi apurado durante a
operação pelo Grupo que o colchão em que ela dormia foi destinado às cachorras
em trabalho de parto. Por isso, ela teria passado a dividir um colchão de
solteiro com a idosa da qual cuidava.
APÓS
O RESGATE MULHER VOLTOU PARA CIDADE NATAL
Ainda na quarta-feira, a equipe de
fiscalização levou a trabalhadora resgatada para casa de familiares no interior
do estado.
Após o resgate, o empregador foi
notificado para quitar a rescisão e fazer o pagamento de todos os direitos que
não foram garantidos a ela durante o trabalho.
A trabalhadora também terá direito ao
recebimento de três parcelas do Seguro-Desemprego especial do Trabalhador
Resgatado, no valor de um salário-mínimo cada.
O patrão também será autuado por
submeter a trabalhadora doméstica a uma condição análoga à escravidão.
A Defensoria Pública da União está
representando a trabalhadora e vai propor um acordo ao empregador para
pagamento de todas as verbas rescisórias devidas e um valor a título de dano
moral individual para reparar toda a exploração de trabalho e danos à saúde
física e mental da empregada.
Não sendo aceito a proposta, ingressará
com as outras medidas judiciais.
Além disso, está acompanhando a
empregada junto aos órgãos de serviço social e de saúde para garantir atendimento
médico e psicológico.
A assistência social de Cuité prestou o
acolhimento necessário à trabalhadora, a qual recebeu atendimento médico e da
assistência social.
(Do G1 PB)
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