Um dos principais nomes da bancada evangélica no Congresso, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi procurado por emissários do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e está disposto a trabalhar pautas em comum com o novo governo.
Porta-voz do bispo Samuel Ferreira e
expoente da Assembleia de Deus de Madureira, uma das maiores denominações
evangélicas do País, o pastor diz que o interesse em sentar à mesa com os
petistas não significa incoerência nem traição a Bolsonaro.
O fogo-amigo, no entendimento do líder
evangélico, partiu de outra parte da base de Bolsonaro, às vésperas do segundo
turno.
E ele responsabiliza especialmente a deputada
Carla Zambelli (PL-SP).
“Traição foi a punhalada que o presidente
recebeu nas costas com a deputada correndo na rua com arma na mão, talvez por
um deslize mental. Cuidar do povo não é traição”, disse ele ao Estadão.
Cezinha avalia que a ação de Zambelli e
os tiros que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) deu em policiais federais
foram decisivos para a derrota de Bolsonaro.
Ele alega que os acontecimentos também
derrubaram em cerca de 3 milhões de votos a previsão que o grupo fazia para a
vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos), eleito governador de São Paulo
com 13 milhões de votos. Cezinha atuou próximo à campanha de Tarcísio e é
cotado para participar da administração.
“A Zambelli cometeu a pior bobeira, é gente
despreparada. Nossa eleição estava ganha. Para o Tarcísio, nossa previsão era
de 16 milhões de votos. Eu digo que Lula não ganhou, nós que perdemos”,
afirmou.
Cezinha também acredita que a denúncia
sem lastro de suposto prejuízo a Bolsonaro na propaganda eleitoral nas rádios
prejudicou a reeleição.
A alegação, apresentada pelo ministro
das Comunicações, Fábio Faria (PP), na semana do pleito, foi classificada como
tentativa de tumultuar o processo eleitoral e acabou rejeitada pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
O deputado se reuniu com o chefe da Casa
Civil, Ciro Nogueira (PP), na segunda-feira, 31, um dia antes de o presidente
Jair Bolsonaro se pronunciar pela primeira vez sobre o resultado das eleições.
Ambos manifestaram interesse em manter
relação republicana com o novo governo.
Cezinha destaca que os evangélicos têm
interesse em pautas econômicas.
“Bolsonaro terá nosso respeito, admiração e
lealdade. Mas não significa que vamos votar contra o aumento de salário, contra
o combate à fome”, declarou.
“Com o crescimento da bancada evangélica,
óbvio que nenhuma pauta aberrante vai passar, como liberação de drogas e
aborto. Mas estamos dispostos a trabalhar para pautas que ajudem o Brasil.
Vamos conversar sobre o que for importante para o País.”
Apesar da sinalização do rival, Lula não
deve contar com o apoio oficial da bancada evangélica.
O presidente da Frente Parlamentar
Evangélica no Congresso, Sóstenes Cavalcante (PL), já anunciou oposição ao
petista.
Com a dificuldade de transitar entre uma
parte da bancada evangélica, emissários de Lula já procuraram Cezinha.
“Sabem que o que pauta a minha vida é o
diálogo. Quando é bom para os brasileiros, temos de conversar”, disse.
O tom é semelhante ao adotado pelo
governador eleito de São Paulo.
Após concretizada sua vitória sobre
Fernando Haddad (PT), Tarcísio afirmou que “o resultado das urnas é soberano”
e que buscará “manter o melhor diálogo possível, de maneira republicana”.
Como mostrou o Estadão, a bancada
evangélica, a partir de 2023, estará reforçada por campeões de voto e pelo
aumento do poder das grandes igrejas.
Dos 203 integrantes da Frente
Parlamentar Evangélica na Câmara, 177 foram candidatos a novo mandato.
Deste total, 109 tiveram sucesso, uma
taxa superior a 60%.
(Estadão)
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