Valdemar Costa Neto, presidente (que mais parece ‘dono’) do PL, começou a colecionar seus seis mandatos de deputado federal em 1990.
Típico político do Centrão, ele esteve
na base de apoio dos governos petistas e sagrou-se um dos maiores caciques da
política nacional.
Jamais havia questionado a segurança das
urnas eletrônicas, até ver sua bancada surfar a onda de Jair Bolsonaro (PL) e se
tornar a maior do Congresso.
“Como reclamar da urna eletrônica? Não tem
como reclamar”, disse, num vídeo institucional, de maio.
Depois do pleito, comprou o discurso de
fraude que alimenta radicais acampados em frente a quartéis e pediu ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) a “invalidação” dos votos de 279 mil urnas, o que
poderia dar a vitória a Bolsonaro sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O problema é muito sério”, alegou,
nesta quarta-feira (23/11).
Diante de uma argumentação sem lastro
que não demonstrava inconsistência dos resultados, o TSE indeferiu o pedido e
ainda aplicou multa de R$ 22,9 milhões ao partido - o equivalente a 25% dos R$
89 milhões gastos com a campanha à reeleição de Bolsonaro.
O PL questionou apenas os resultados do
segundo turno.
Defendeu que aplicar o mesmo critério
nos resultados da primeira etapa acarretaria “grande tumulto processual”,
pois milhares de candidatos seriam obrigados a se manifestar.
Na prática, agiu para blindar das
suspeitas falsas os resultados que fizeram a bancada de seu partido crescer de
76 para 99 deputados, um aumento que se converte em prestígio e mais dinheiro
do Fundo Partidário a partir de 2023.
Com Bolsonaro, Costa Neto retornou ao
centro do poder, apesar de ser a personificação de um político que, em tese, o
bolsonarismo repudia.
É um político profissional que saiu
marcado dos grandes escândalos dos governos de Lula e Dilma Rousseff, do mensalão
à Operação Lava Jato.
A prisão ocorreu em dezembro de 2013,
depois de uma condenação a sete anos e dez meses de reclusão por corrupção e
lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão, o esquema de pagamento de
“mensalidades” para políticos votarem a favor do governo, descoberto em 2005.
Valdemar Costa Neto foi recolhido ao
Complexo da Papuda, no Distrito Federal.
Pôde cumprir parte da pena nos regimes
semiaberto e aberto e também chegou a ser obrigado a usar uma tornozeleira
eletrônica.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a pena foi extinta
em 2016.
Mesmo preso, o político que começou a
carreira em Mogi das Cruzes (SP), onde seu pai foi prefeito por quatro vezes,
comandou com mão forte o PL – antes chamado de Partido da República (PR).
O nome dele voltou a aparecer em
inquéritos no âmbito da Lava Jato como intermediário de propinas com
empreiteiras interessadas no Ministério dos Transportes, pasta que teve
influência direta de Costa Neto no governo Lula.
Pragmático, ele pouco se expôs depois de
sair da prisão e ter o nome envolvido em escândalos.
Ressurgiu com Bolsonaro e passou a mais
uma vez frequentar os palácios de Brasília.
Mantém conversas com ministros da
Suprema Corte e chega a fazer “jogo duplo” com o poder central.
Em uma visita ao TSE, em setembro, saiu
dizendo que não existia “sala secreta” na sede do tribunal.
A versão vinha sendo usada por
bolsonaristas para lançar suspeitas infundadas sobre a Corte.
Avesso a entrevistas e a declarações
públicas sobre questões nacionais, fez três aparições após as eleições.
Na primeira, anunciou uma “oposição
responsável” ao novo governo Lula, em um movimento que ainda não convence a
classe política por causa do dom de “adesismo” de Costa Neto.
As duas outras foram para questionar o
resultado eleitoral.
Na terça, anunciou a representação que
foi apresentada ao TSE e não respondeu a perguntas.
Nesta quarta, chamou novamente a
imprensa para dar um verniz legal ao pleito, alegando que o regramento da
Justiça Eleitoral permite pedidos de fiscalização extraordinária desde que
devidamente apresentados os indícios.
“Não pode haver dúvida sobre o voto, tem de
ser seguro. Por isso fizemos o levantamento. Se isso for uma mancha na nossa
democracia, temos de resolver isso agora. O problema é muito sério”, disse.
O protagonismo político também faz dele
assunto debatido nas redes sociais.
A ex-mulher, a socialite Maria Christina
Mendes Caldeira, tem feito vídeos ameaçando revelar outros supostos crimes de
Costa Neto justamente por causa das ações que ela considera golpistas.
“Esqueceu que eu tenho uma porrada, uma
quantidade gigante de documentação sua na época do car wash [lava jato] e sua
atual. E mais, a evasão de divisa e sonegação dos bolsonaros aqui. Mas de tudo
isso, o mais grave é você contestar a democracia, querido. No primeiro turno
que você elegeu sua bancada tá tudo legal, funcionou, mas no segundo turno você
contesta né!?”, acusou.
Com a tranquilidade de quem sobreviveu a
terremotos políticos e voltou à cena como protagonista, Valdemar Costa Neto
minimizou, nesta quarta, as ilações da ex-companheira: “Isso são mágoas, mágoas...”.
(Do Estadão)
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