O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, (PSB) foram diplomados na tarde desta segunda-feira (12/12) em cerimônia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Lula e Alckmin receberam os diplomas das mãos do presidente do TSE, Alexandre de Moraes.DISCURSO DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Antes de falar o que está escrito no meu discurso,
eu queria, companheira Dilma, companheiro José Sarney, companheiros deputados,
senadores, governadores, ministros, juízes, companheiros que participaram da
vigília em Curitiba, companheiros dirigentes partidários, companheira Gleisi
Hoffmann.
Em nome do meu partido, eu quero que vocês saibam
que esse diploma que eu recebi não é um diploma do Lula presidente.
É um diploma de uma parcela significativa do povo
que reconquistou o direito de viver em democracia nesse país.
Vocês ganharam esse diploma.
Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo
brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil.
Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da
ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado
por não ter diploma universitário – o diploma [se
emociona].
Eu quero pedir desculpas a vocês pela emoção.
Porque quem passou pelo que eu passei nesses últimos
anos, estar aqui agora é a certeza que Deus existe, e de que o povo brasileiro
é maior que qualquer pessoa que tentar o arbítrio neste país.
Eu sei o quanto custou, não apenas a mim, o quanto
custou ao povo brasileiro essa espera para que a gente pudesse reconquistar a
democracia nesse país.
Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu querido companheiro Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo para as pessoas mais necessitadas.
Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da verdadeira democracia.
Poucas vezes na história recente deste país a
democracia esteve tão ameaçada.
Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi
tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser
ouvida.
A democracia não nasce por geração espontânea.
Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com
muito carinho por cada um, e a cada dia, para que a colheita seja generosa para
todos.
Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito
carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam,
a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.
Felizmente, não faltou quem defendesse, neste
momento tão grave, a nossa democracia.
Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o
amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do
arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal
Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões
para fazer valer a soberania do voto popular.
Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e
do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral
nesses tempos tão difíceis.
A história há de reconhecer sua coerência e
fidelidade à Constituição.
Essa não foi uma eleição entre candidatos de
partidos políticos com programas distintos.
Foi a disputa entre duas visões de mundo e de
governo.
De um lado, o projeto de reconstrução do país, com
ampla participação popular.
De outro lado, um projeto de destruição do país
ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista
ao longo de nossa história.
Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do
povo e a democracia.
Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as
urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é reconhecida há muito tempo em todo o
mundo.
Ameaçaram as instituições.
Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação.
Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro
farto, desviado do orçamento público.
Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de
suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária,
caso contrariassem os interesses de seus empregadores.
Quando se esperava um debate político democrático, a
nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.
Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu
uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história.
E no entanto, a democracia venceu.
O resultado destas eleições não foi apenas a vitória
de um candidato ou de um partido.
Tive o privilégio de ser apoiado por uma frente de
12 partidos no primeiro turno, aos quais se somaram mais dois partidos no
segundo turno.
Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo,
que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece
o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais,
cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares
deste país.
Tenho consciência de que essa frente se formou em
torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha
luta e o destino desse país.
Nestas semanas em que o gabinete de transição vem
escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado
processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de
desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.
Soma-se a este legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas.
Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda
haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.
A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do
planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.
Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos,
os inimigos da democracia se organizam e se movimentam.
Usam e abusam dos mecanismos de manipulações e
mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira
gananciosa e absolutamente irresponsável.
A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem
fronteiras.
O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras
da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação
internacional mais dura e mais eficiente.
Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa
intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre
acesso à informação de qualidade, sem mentiras e sem manipulações que levam ao
ódio e à violência política.
Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós,
no Brasil, e em nossas relações multilaterais.
A importância do Brasil neste cenário global é
inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso
processo eleitoral.
Precisamos de instituições fortes e representativas.
Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um
eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba qualquer aventura eleitoral
ou autoritária.
Precisamos de coragem.
É necessário tirar uma lição deste período recente
em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral.
Para nunca mais esquecermos.
Para que nunca mais isso aconteça.
Democracia, por definição, é o governo do povo, por
meio da eleição de seus representantes.
Mas precisamos ir além dos dicionários.
O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer participação ativa nas decisões de governo.
É preciso entender que democracia é muito mais do
que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta
de saúde, educação, segurança, moradia.
Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter
emprego, saúde, educação, segurança, moradia.
Quanto maior a participação popular, maior o
entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela
como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo.
A democracia só tem sentido, e será defendida pelo
povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e
oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, crença religiosa
ou orientação sexual.
É com o compromisso de construir um verdadeiro
Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas
as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez o diploma de presidente
eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo
brasileiro.
Muito obrigado.
DISCURSO DE ALEXANDRE DE MORAES
A Justiça Eleitoral tem a honra de recebe-los, no
Tribunal da Democracia, para a celebração da vitória da Democracia, do respeito
ao Estado de Direito e da fiel observância da Constituição Federal.
A diplomação da chapa presidencial eleita –
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Vice-Presidente Geraldo Alckmin –
consiste no reconhecimento da lisura do pleito eleitoral e na legitimidade
política conferida soberanamente pela maioria do povo brasileiro por meio do
voto direito e secreto.
A Justiça Eleitoral se preparou para garantir, com
coragem e segurança, a transparência e lisura das eleições e a legitimação dos
vencedores por meio da presente diplomação, como o faz há 90 (noventa) anos,
desde sua criação.
A Justiça Eleitoral se preparou para combater com
eficácia, eficiência e celeridade os ataques antidemocráticos ao Estado de
Direito e os covardes ataques e violências pessoais a seus membros e de todo o
Poder Judiciário.
É justo nesse momento agradecer em nome de toda a
Justiça Eleitoral o trabalho de organização e preparação do pleito eleitoral de
2022 iniciado sob a Presidência do Ministro Luís Roberto Barroso e continuado
na Presidência do Ministro Edson Fachin; e o grande trabalho realizado por
todos os ministros da Corte.
O Brasil encerra mais um ciclo democrático e
completa 34 anos de estabilidade do Estado Democrático de Direito, desde a
promulgação da Constituição de 1988.
Estabilidade democrática e respeito ao Estado de
Direito não significam ausência de turbulências, embates ou mesmo – como se
verificou nas presentes eleições – ilícitos ataques antidemocráticos ao sistema
eleitoral e a própria Democracia.
Estabilidade democrática e respeito ao Estado de
Direito significam observância fiel à Constituição, pleno funcionamento das
Instituições e integral responsabilização de todos aqueles que pretendiam
subverter a ordem política, criando um regime de exceção.
A Justiça Eleitoral soube, com o integral apoio de
todo o Poder Judiciário e em especial do Supremo Tribunal Federal, garantir a
estabilidade democrática e o integral respeito ao Estado de Direito, combatendo
os intensos e criminosos ataques aos três grandes pilares de um Estado
Constitucional: a liberdade de imprensa e a livre manifestação de pensamento, a
integridade do sistema eleitoral e a independência do Poder Judiciário.
Fruto de um pensamento antidemocrático e extremista,
a utilização em massa das redes sociais foi subvertida para disseminar a
“desinformação”, o discurso de ódio, as notícias fraudulentas, as fake News.
A utilização das redes sociais como instrumento
democrático de acesso a livre manifestação de pensamento – surgido
principalmente nas famosas “primaveras democráticas” – foi desvirtuada por
extremistas, no intuito de desacreditar as notícias veiculadas pela mídia
tradicional.
Os extremistas criminosos atacam a mídia tradicional
para, desacreditando-a, substituir o livre debate de ideias garantido pela
liberdade de expressão e pela liberdade de imprensa por suas mentiras
autoritárias e discriminatórias.
Coube à Justiça Eleitoral, estudar, planejar e se
preparar para atuar de maneira séria e firme no sentido de impedir que a
“desinformação” maculasse a liberdade de escolha das eleitoras e eleitores e a
lisura do pleito eleitoral.
A defesa do segundo grande pilar de um Estado
Democrático de Direito – o sistema eleitoral – também foi realizada pela
Justiça Eleitoral, que de maneira transparente e publica demonstrou – passo a
passo – a total lisura, confiabilidade e seriedade de nossas urnas eletrônicas.
O ataque ao sistema eleitoral, enquanto instrumento
essencial na concretização da Democracia, vem sendo realizado de maneira mais
intensa há pelo menos uma década no mundo todo por grupos extremistas e
antidemocráticos.
Não importa no mundo qual seja o mecanismo do
sistema eleitoral – urnas eletrônicas, voto impresso, voto por carta –, esses
grupos extremistas, criminosos e antidemocráticos pretendem a partir da
“desinformação”, desacreditar a própria Democracia, a partir do ataque aos
instrumentos que concretizam o voto popular, pretende substituir o voto popular
por um regime de exceção, por uma Ditadura.
O Tribunal Superior Eleitoral abriu suas portas para
instituições e organismos nacionais e internacionais, ampliou os mecanismos de
fiscalização e confiabilidade e possibilitou amplo acesso a todas as etapas do
calendário eleitoral.
E mais uma vez, como era de se esperar, ficou
constatada a ausência de qualquer fraude, qualquer desvio ou mesmo qualquer
problema.
Jamais houve uma fraude constatada nas eleições
realizadas por meio das urnas eletrônicas, verdadeiro motivo de orgulho e
patrimônio nacional.
Os ataques à Democracia e ao pleito eleitoral não se
resumiram aos dois grandes pilares do Estado de Direito – liberdade de imprensa
e sistema eleitoral.
Concentraram-se de maneira vil e torpe nos ataques,
ameaças e todo tipo de coação institucionais ao Poder Judiciário e pessoais aos
seus membros, em especial no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior
Eleitoral.
Seguindo a cartilha autoritária e extremista
daqueles que, no mundo todo não respeitam a Democracia e o Estado de Direito,
também no Brasil grupos organizados atacaram a independência do Poder
Judiciário; disseminando “desinformação” e discurso de ódio contra seus membros
e familiares, inclusive, ameaçando-os verbal e fisicamente.
Esses extremistas, autoritários, criminosos não
conhecem o Poder Judiciário brasileiro.
O Poder Judiciário brasileiro com coragem, Poder
Judiciário brasileiro tem força, o Poder Judiciário tem serenidade e altivez e
manteve sua independência e imparcialidade, garantindo o respeito ao Estado de
Direito e realizar eleições limpas, transparentes e seguras, concretizando mais
uma etapa na construção de nossa Democracia.
Nas eleições de 2022, a presente diplomação tem um
duplo significado, pois, além do reconhecimento da regularidade e da
legitimidade da vitória da chapa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do
vice-Presidente Geraldo Alckmin; essa diplomação atesta a vitória plena e
incontestável da Democracia e do Estado de Direito contra os ataques
antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos
por diversos grupos organizados que, já identificados, garanto serão
integralmente responsabilizados.
Para que isso não retorne nas próximas eleições.
Senhor presidente eleito, a atividade política deve
ser realizada sem ódio, sem discriminação e sem violência.
A consequência do ódio e da violência é o “vazio e a
mágoa”, como alertou Martin Luther King em seu famoso discurso “O nascimento de
uma nova Nação”, proferido em Montgomery, em abril de 1957, e festejando que “a
consequência da não-violência é a criação de uma comunidade querida. A
consequência da não-violência é a redenção. A consequência da não-violência é a
reconciliação”.
A Democracia se constrói, se solidifica, prospera e
fortalece uma Nação quando a discussão de ideias é mais importante que a
imposição obtusa de obsessões, quando as ofensas e discriminações cedem lugar
ao diálogo e temperança, quando o ódio perde seu lugar no coração das pessoas
para a esperança, respeito e união.
As eleições foram realizadas, as eleitoras e
eleitores se manifestaram de maneira livre e soberana, os vencedores foram
proclamados e hoje estão sendo diplomados.
Encerra-se mais um ciclo democrático, com respeito à
soberania popular e à Constituição Federal e com seu término, as paixões
eleitorais devem ser substituídas pelo respeitoso embate entre situação e
oposição, pela necessária união de todos na constante construção de um país
melhor, mais solidário e com verdadeira igualdade social.
Senhor Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva,
eleito por 60 milhões, 345 mil e 999 eleitoras e eleitores, mas a partir de
primeiro de janeiro de 2023, Vossa Excelência será o Presidente de 215 milhões,
461 mil e 715 brasileiras e brasileiros, todos com fé e esperança, para que em
um futuro breve possamos extirpar a fome e o desemprego que assolam milhões de
brasileiros, substituindo-os por saúde de qualidade, educação de excelência e
habitação digna para todos os brasileiros e brasileiras; alcançando, dessa
maneira, um dos mais importantes mandamentos constitucionais: o respeito à
dignidade humana.
Desejo ao Presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva e ao vice Presidente eleito Geraldo Alckmin, em nome de toda a Justiça
Eleitoral, serenidade, êxito, paz e felicidades nessa nova missão.
Muito obrigado.
(Por www.renatodiniz.com. Fonte g1)
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